19 de dezembro de 2025
Geral

Cães fujões: por que o pet some?

Dulce Kernbeis
| Tempo de leitura: 7 min

Reprodução

Estímulo visual na rua e falta de passeios pode ser um dos motivos da fuga

Quem já passou pela situação sabe a dor que é ter um cão desaparecido. Mesmo que ele volte ou seja encontrado e devolvido a seus legítimos donos, a situação é, no mínimo, estressante. E mais: há o temor de nunca mais encontrar aquele que é, nos dias de hoje,  um membro da família.

 

Quem frequenta redes sociais como Facebook, Instagram e Twitter,  percebe também que o número de cães desaparecidos aumentou consideravelmente. São inúmeros os anúncios de procura.

 

Não há estatística para essas ocorrências. Mas o próprio fato de que o mercado para artigos para pet shop está aquecido e cresce numa proporção de 7% ao ano (números de 2013/2014) ilustra a ocorrência. Se há mais pessoas assumindo animais, entre eles cães de estimação, claro, há mais fugas.

 

Hábitos modernos

 

Mas por que os cães estão fugindo mais? Os donos estão menos vigilantes? “Nada disso”, diz Diógenes Campos, dono de um pet shop e loja de banho e tosa na Bela Vista. Ele próprio é uma referência na hora de achar cãezinhos sumidos no bairro. Todos os donos vão à procura na sua loja. E quem encontra também faz essa ponte e avisa que encontrou. Resultado: acaba sendo uma espécie de anjo da guarda dos animais perdidos.  

 

Diógenes comunga da tese de que grande parte do sumiço está relacionada à vida moderna: os donos perderam o hábito de andar pelas ruas do bairro com seu cãozinho. Não têm quase tempo para isso e, assim, os cães não aprendem o caminho de volta para casa. Também perdeu-se a tradição de deixar os animais soltos. Lembra-se dos cães de antigamente? Aqueles que saíam em bando e no final da tarde, ou quando o cansaço e a fome batessem, voltavam para casa? Pois é, essa condição não existe mais.

 

Para isso, há dicas práticas que podem ajudar o dono a não passar por esse estresse (leia na página ao lado) já que há situações que podem ser bem controladas.

 

Cãozinho  traumatizado

 

Há um fator que causa trauma em cães e torna o bicho difícil de controlar. É a síndrome do medo de fogos de artifício. Sandra Regina Ariede, empresária e membro da ONG SOS Gatinhos - dona de Aninha, uma pincher já com 11 anos de idade -, lembra que os rojões são fontes de traumas para os animais.

 

“Pode observar que em época de festas juninas, final de ano e, jogos de finais de campeonato - especialmente o Brasil na Copa do Mundo - não dá outra: eles fogem mesmo”.  

 

O trauma dos rojões

 

Para vencer o trauma dos rojões que fazem com que cães de grande porte por exemplo derrubem portas, grades e em alguns casos até muros é preciso um bom curso. Mostrar que os barulhos não são perigosos exige paciência. Associar os fogos a coisas legais, fazendo festas, dando petiscos ajuda muito. Não se deve também passar a cabeça no bichinho nem pegá-lo no colo. Assim ele entenderá que tem motivos para ficar assustado.

 

“Quando a fobia for muito grande, deve-se tomar remédios específicos que, claro, só podem ser receitados por veterinários”, explica Sandra Regina. Prevenção também ajuda. Em dias de jogos, ou de chuva com trovão,  feche o máximo de portas e janelas. Acostume-o ao som ambiente relativamente alto e brinque com ele.

 

Sandra ainda faz um apelo para que a posse seja responsável. Há muitos donos que, quando o animal está doente, está incomodando demais, acaba simplesmente mandando-o embora. E não é para ser assim. A posse tem que ser responsável, como a responsabilidade de um pai e uma mãe para com um filho.

 

Embora as associações como as de Sandra ajudem a encontrar um novo lar para aqueles que estão perdidos, abandonados nas ruas, o ideal mesmo é que cada dono seja responsável. E no caso de fuga, colocar anúncios em jornais, procurar pelas redes sociais, espalhar cartazes é o melhor que se pode fazer. E costuma dar certo. Com frequência os fujões são encontrados e devolvidos a seus donos.

 

Há soluções para evitar a fuga

 

Existem, é claro, cães com personalidade mais inquieta e que procuram cada vez mais estímulos fora do seu quadrado, quintal ou mesmo da casa toda. Mesmo assim, os veterinários e adestradores são unânimes em apontar soluções para que eles tenham menos vontade de estar fora de casa. Veja quais são: 

 

Caminhadas diárias

 

. Exercícios: ele precisa se cansar e gastar energia. Se não for possível sair para caminhar, dê uma corrida dentro de casa mesmo, jogue coisas para que ele vá buscar

. Adestrar o cão de tal forma que ele não saia de casa nem mesmo com o portão aberto

. Coleira com o nome e telefone do dono para o caso do animal se perder

. Ter certeza de que as grades do portão são estreitas e altas o bastante para que ele não saia

. Ter certeza de que o chão sob o portão resiste à escavação

. Não o esconda. Mostre ao seu vizinho e parentes que tem esse cão (eles podem ser úteis no caso de ter que encontrar o fujãozinho)

. Conheça os cães dos vizinhos (você pode ser útil caso um deles se perca) 

. Adestre-o para atravessar ruas e ficar “ancorado” em portões quando carro aparecer, pois o risco de atropelamento do fujão é grande. Muitos morrem assim

. Quando caminhar com ele, não o deixe competir com outro cão, mesmo que o outro esteja atrás de grades

. Ensine-o a sociabilizar com outros animais e pessoas enquanto aprende a se concentrar em você e atender ao seu chamado

. Ensine-o a suportar a solidão. Ele precisa saber a hora de ficar só em casa e a hora em que você vai interagir com ele. Crie hábitos de horários

. A companhia de um segundo animal ajuda muito e eles fogem menos

. Ensine-o a reconhecer seu tom de voz e parar imediatamente quando é chamado pelo nome. Isso é muito útil no caso daquele pequeno que teima em vazar quando abrir a porta para alguém que chega, ou para “o homem do gás”.

 

Fuga para morrer: proteção ao dono

 

Para quem já passou pelo trauma de ter um cachorro de estimação que sumiu após anos que o tinha, vai aqui um consolo: é da natureza canina se afastar para morrer. “Eu tive um vira-lata que fugiu pra morrer...ele estava doente e de fato é uma realidade que alguns fogem para amenizar a dor do dono ou da família com quem vive”, diz a jornalista e petsitter (babá de cães) Elaine Bertone. Depois dessa experiência, ela resolveu fazer pesquisas por conta própria sobre o assunto.

 

E, de fato, há uma corrente que estuda a psicologia animal. “Aqueles que defendem a psicologia animal acreditam que alguns cães se afastam para poupar os donos do sofrimento de vê-los morrer. Alguns psicólogos também afirmam que é uma forma dos cães manterem a dignidade”, diz Elaine. 

 

A mentalidade de matilha

 

Conhecendo um pouco da história da coletividade animal - é bom saber que pela natureza existe a teoria da mentalidade de matilha. Elaine explica: “Apesar de serem domesticados e criados para ter a aparência que estamos acostumados hoje, os cães permanecem geneticamente idênticos aos ancestrais selvagens. Na natureza, os cães são animais de matilha, ou seja vivem em grupo.

 

Uma teoria sobre o motivo deles se afastarem antes de morrer, diz que eles o fazem para não atrasar os membros do grupo, ficam para trás, pedem para ser deixados para morrer para não impedir os demais de continuar, “nem tornarem os demais membros da matilha vulneráveis a ataques”.

 

Esse pensamento ainda está no DNA do cão. Assim, a família, o dono é a matilha do cão. Então, acredita-se que o instinto dele de salvá-lo de qualquer ameaça ainda está intacto e, portanto, quando ele sente que a morte está próxima, doente ou não, foge e isola-se. 

 

Quem já cuidou de um cãozinho que estava prestes a morrer sabe o quanto ele procura se isolar, incomodar o  menos possível. Não é uma atitude desprendida demais do melhor amigo do ser humano?

 

Motivos que levam cães a fugir

 

. Personalidade mais rebelde

. Falta de exercício

. Estímulo visual na rua 

. Fêmea no cio

. Rivalidade com cães dos vizinhos 

. Estímulo auditivo - como buzina

. Medo de rojões e trovões

. Tédio - ficar muito tempo sozinho