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Malavolta Jr. |
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Rodrigo Rueda investiu R$ 4 mil em seu buffet infantil para reduzir a fatura com energia elétrica |
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João Rosan |
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O consultor de negócios da CPFL Luiz Campos aposta nos programas de eficiência para reduzir consumo nos sistemas |
Não tem muito segredo. Aparelho desligado e fora da tomada não consome energia elétrica. Portanto, se você quer reduzir seu consumo em casa, comece pelo óbvio. Evite uma série de vícios no uso dos equipamentos e retire tudo o que puder da tomada. Sem paranoia, ações simples no dia a dia, trazem resultado: como desligar lâmpadas sempre que deixar o ambiente, por exemplo.
A dica básica do professor e doutor André Luiz Andreoli para a verificação dos aparelhos que mais atingem seu bolso na conta de consumo energia, sobretudo residencial, é bem linear (veja quadro), objetiva: “Os aparelhos de maior potência são os elementos que respondem pela maior parte do consumo. Neste caso, é evidente que o chuveiro elétrico e máquinas como de secar e lavar roupas, o aparelho de ar condicionado, o freezer e geladeira puxam a fila”, aborda.
Mas o engenheiro eletricista pela Unesp Bauru também faz acréscimos. “Também colaboram de forma significativa para a lista dos que consomem mais o ferro de passar roupa e o secador de cabelo. Se esses são os aparelhos que mais consomem, o que pode minimizar o resultado na conta é a forma de utilização”, lembra.
Redução do consumo
Assim, para reduzir o consumo de energia elétrica em casa o consumidor tem de combinar a instalação e manutenção corretas do sistema com “mudança de hábito”. A eliminação de vícios, segundo os professores doutores da Unesp-Bauru ouvidos pelo JC é o principal desafio, comportamento que ganha mais visibilidade somente em tempos de crise, como agora, com procura maior que a oferta de energia no País.
“A forma de utilização do sistema, o que inclui levar em conta a capacidade da instalação, a utilização do ar condicionado sem a janela aberta, o comportamento embaixo do chuveiro, nos hábitos e no tempo de uso, a não obstrução da geladeira e o hábito de abrir a porta o tempo todo, a manutenção da própria borracha de vedação da geladeira, e o uso de dispositivos como a energia solar, sobretudo para os chuveiros, pode e deve gerar redução significativa no consumo de energia elétrica. É só querer”, elenca o engenheiro Andreoli.
Mas para não perder de vista a lista mais comum disseminada contra o desperdício, vale reforçar outras tantas dicas. “Não deixe a luz acesa em cômodos desnecessariamente; pinte as paredes internas e os tetos da casa com cores claras. Elas ajudam a refletir e a espalhar a luz para todo o ambiente; aproveite ao máximo a luz do dia deixando cortinas e portas abertas”.
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E tem mais: procure instalar mesa de trabalho e de leitura próximas às janelas; mantenha globos e lustres transparentes sempre limpos para aproveitar ao máximo a potência das lâmpadas; mantenha em dia a limpeza dos aparelhos de ar condicionado; regule a temperatura do aparelho para evitar sobrecarga.
Na área de serviço, também é possível economizar energia: máquina de lavar roupa e ferro de passar devem ser ligados quando houver roupa acumulada para que o serviço seja realizado de uma só vez. Não utilize, de preferência, esses elementos para lavar ou passar uma ou poucas peças de roupa. O aparelho consome energia para atingir a temperatura adequada (ferro de passar). No caso da máquina, ela consome a mesma energia para lavar duas ou 15 peças de roupa, conforme sua capacidade.
Para ajudar na umidade, em dias secos, coloque pano úmido pendurado no cômodo e uma bacia com água no canto. Também é aconselhável não deixar os aparelhos eletrônicos em stand-by. Não pendure nada atrás da geladeira, isso gera obstrução no sistema e, no inverno, regule o termostato do equipamento para evitar desperdício.
Instale sistema solar de aquecimento de água para abastecer a casa e mude o modo do chuveiro para o neutro.?
Aumento no preço da energia faz consumidor adotar medidas de economia
Rodrigo Rueda não quis ficar assistindo a conta de energia elétrica de sua empresa de buffet infantil, no Jardim Bela Vista, subir de R$ 0,44 o kwatt/hora para R$ 0,68. Uma boa parte dessa situação, conta, aconteceu em razão do aumento no custo da própria energia. Mas outro tanto veio em forma de maior consumo.
“Reduzir não é fácil. Mas como subiu muito o valor da conta na empresa, não tive outra alternativa a não ser buscar reduzir o consumo sem afetar a qualidade do serviço que presta”, conta o empresário da Looping Fest.
Ele passou a pesquisar sua situação do ponto de vista técnico. Primeiro, elencou seu parque de consumo, formado por dois aparelhos de ar condicionado de 60 mil BTUs, um de 80 mil BTUs e outro de 36 mil BTUs, câmara fria, câmara de congelamento, 120 lâmpadas, das quais uma boa parte instalada em um salão com área de 250 metros e com capacidade para 100 pessoas.
“A empresa acaba funcionando full time, porque durante o dia funcionamos como fábrica dos nossos próprios produtos e, à noite, atuamos com a realização da festa em si. A saída foi investir na substituição de todas as lâmpadas existentes por LED. O consumo mensal de 4,5 mil kwatt tinha de ser reduzido e foi”, situa.
Em alguns pontos a redução foi pontual, em outros, com mais vigor. “Tinha luminária com três lâmpadas de 25 watts e trocamos por uma de 6 watts em LED. O investimento foi de R$ 4 mil. Mas, no tempo, esse valor é pago pela economia no consumo e temos melhor eficiência na distribuição da luminosidade também”, argumenta Rueda.
O empresário João Gonçalves de Souza Filho, da Eletro Sem Limites, está com um desafio ainda maior em mãos. Ele está concluindo projeto para eficiência energética na sede do Bauru Tênis Clube (BTC). A conta mensal de energia é de R$ 49 mil. “E nossa meta é com o projeto reduzir para R$ 30 mil. Estamos aprontando o estudo que envolve investimento, mas também treinamento dos funcionários e reeducação de uso pelos sócios. Não é um projeto de resultado global imediato, mas que vai ter efeitos a curto e médio prazo em suas diferentes etapas”, explica.
“Nós temos uma sede com enorme área instalada e com diferentes tipos de uso e uma concentração de frequentadores das 17h30 às 21h, em alguns casos, onde o valor da energia é muito maior, pela tabela em horário de pico. O projeto, portanto, envolve questões específicas e de investimento em estrutura. Temos de identificar no projeto o tipo de uso de cada área e discutir como isso pode resultar em economia”, acrescenta.
Só para ter uma ideia, o BTC tem 415 projetores de 400 watts de vapor metálico, 35 luminárias de vias públicas internas de 250 watts, 235 lâmpadas eletrônicas de 45 watts em bares, lanchonetes, academia, 235 lâmpadas fluorescentes de 2x40 watts, 95 lâmpadas eletrônicas de 25 watts, 85 postes de energia mista de 160 watts, sem contar motores, equipamentos com resistência elétrica de sauna, cozinha, entre outros.
O consultor em negócios da CPFL, Luiz Antonio Campos, aposta no programa de eficiência energética implantado pela companhia para obtenção de melhor custo-benefício no uso e consumo do serviço. “Estamos em processo de treinamento de servidores em diferentes setores da Prefeitura de Bauru. Foram cadastradas as unidades consumidoras e um software desenvolvido pela companhia faz o mapeamento e acompanhamento do consumo de todas as unidades visando a redução de consumo”, menciona.
O programa foi implantado em novembro de 2014 e vai até o final deste ano. “As diferentes secretarias indicaram servidores para a implantação do programa. E agora, com o treinamento, teremos a etapa de formar multiplicadores. .
No DAE, o relatório do Plano Diretor de Águas (PDA) já indicou que das 34 bombas instaladas em poços, apenas uma não funciona 24 horas, o que inclui o período de pico, nos finais de tarde. Com isso, segundo o relatório, o valor da fatura é muito maior. Além disso, o uso ininterrupto reduz a vida útil dos equipamentos, com maiores quebras no sistema.
Instalação ruim provoca acidentes
Professores do Departamento de Engenharia Elétrica da Unesp-Bauru decifram o sistema de instalação de energia elétrica e apontam os erros
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Instalação elétrica com erros, sem cumprir o manual básico de recomendações (norma NBR 5410), está entre as principais causas de acidentes domésticos no País, gerando, por consequência, em torno de 20% das mortes decorrentes da negligência, conforme dados do Corpo de Bombeiros. Além disso, outro fator agregado a essa realidade é a falsa “economia” na compra de dispositivos, sem contar o elevado desconhecimento sobre o básico em sistemas de energia elétrica.
Agregado a esses fatores, os especialistas também condenam a deficiência na mão de obra. Muitos “técnicos” oferecem o serviço sem contarem com curso básico de formação sobre circuitos e dimensionamento de cargas. Mas, como instalar fios em paralelo e colocar tomadas e alguns bocais pendurados é uma tarefa manualmente simples, muita gente se apresenta como “eletricista”. Contudo, o desconhecimento em circuitos e cargas amplia os riscos com segurança e acidentes.
Daí, é um “pulo” para que alguém bata à sua porta com um alicate e um rolo de fita isolante em mãos. Não incomum, a maior parte dos prestadores de serviços aprenderam a lidar com instalação por observação, com raras exceções. Como a regulamentação para esse tipo de serviço também é deficitário, um “fio puxa o outro”: o resultado é choque de interesse em se tratando de segurança e instalação adequada.
Para os engenheiros eletricistas consultados pelo JC – ambos professores da Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Estadual Paulista (Unesp-Bauru) e doutores, André Luiz Andreoli e Alceu Ferreira Alves, a informalidade começa pela ausência de exigência de projeto elétrico para instalação residencial.
“O Conselho Regional de Engenharia (Crea) não exige projeto para instalação elétrica em residência e a concessionária (CPFL) também não. Então muito leigo monta o circuito do jeito que acha que sabe e aprendeu e pendura tudo na fiação. Ter projeto é uma questão de segurança que precisa mudar”, abordam.
Além disso, a formação de “fundo de quintal” no setor, produto da informalidade, é preocupante. “Há uma grande deficiência na mão de obra para o serviço elétrico. A falta de mão de obra pelo boom da construção civil levou muitos leigos a pegar um alicate e um rolo de fita isolante a sair por ai fazendo instalação. Sem um curso básico no Senai o pretenso eletricista não tem condições nem de fazer dimensionamento adequado de carga”, mencionam.
Instalação não é para proteger os equipamentos, mas toda a fiação e a rede
Os dispositivos de proteção de uma instalação residencial não têm por função proteger equipamento, mas os componentes que compõem a instalação, desde fios, tomadas e quadros. “Existe dispositivo que protege a instalação e o equipamento tem a proteção própria dele. Um erro comum é o aparelho apresentar defeito e o consumidor culpar a concessionária”, salienta André Andreoli.
Assim, grande parte dos equipamentos não conta com proteção própria mínima para o uso dentro de casa, possibilitando exposição a sobrecargas e outras ocorrências. “Para o cumprimento mínimo da norma 5410 é necessário ter proteção geral do sistema de medição, a distribuição dos circuitos internos de acordo com a natureza desses circuitos, a separação dos circuitos com a limitação das potências deles. Porque um fio tem uma certa capacidade de conduzir corrente assim como um cano de conduzir água”, posiciona o doutor e engenheiro eletricista.
Alceu complementa: “Tem de ter proteção específica para determinadas áreas, como banheiro, cozinha, área de serviço. Tem de ter o sistema de aterramento previsto na norma. E para residência não há obrigação de proteção contra descarga atmosférica (raios). Existe na área urbana outras instalações, mais altas inclusive, que já funcionam como proteção às residências horizontais, como a própria rede de distribuição de energia”.
A falta de conhecimento básico sobre o sistema gera mitos, como sobre o tempo de durabilidade de um fio. “O fio tem vida útil indeterminada. Ele só começa a apresentar problema se começar a trabalhar acima da capacidade normal dele. Ai ele degrada, caso contrário não”, enfatiza o professor.
Por esta razão, seguir o dimensionamento previsto para a instalação, com respeito ao limite da soma de cargas em cada cômodo, instalar aterramento conforme a norma e utilizar tomadas sem exceder sua potência garantem uma vida tranquila com energia elétrica nas casas.
“Os erros mais comuns são exatamente o dimensionamento inadequado de condutores e do sistema de proteção, disjuntores, a ausência de aterramento, o aumento da carga e o uso inadequado de tomadas”, lista Alceu.
A questão é que o incentivo ao consumo, sobretudo com eletrodomésticos, aprofundou as consequências sobre risco de acidentes em casa. “Com a facilidade de aquisição de equipamentos elétricos e eletrônicos, as casas estão recebendo inúmeros itens novos para a mesma instalação antiga. Veja a febre de instalação de ar-condicionado neste calor sem levar em conta a capacidade de carga no local, e o uso de tomadas com o chamados “Ts”, os benjamins”, aponta Andreoli.
A questão é que quase ninguém faz a soma das cargas quando vai adicionar mais um equipamento e o sistema tem um limite. “E as pessoas não fazem a soma de carga porque desconhecem isso. É falta de informação mesmo. Mas a concessionária tem uma tabela que informa que para tantos watts ela forneça um tanto para um tipo de cabo”, posiciona o professor da Unesp.
Ele dá dicas simples de adequações. Um lugar muito comum, em que as pessoas “penduram” mais de um aparelho em uma mesma tomada é a sala. Televisão, roteador e DVD são habituais – em uma mesma tomada. Entre os dispositivos que quase ninguém põe em casa está o chamado Interruptor Diferencial Residual, conhecido como DR, que atua na segurança contra a fuga de corrente. ”Ele pode atuar para chuveiro, banheiro, cozinha, locais onde há presença de água, como a área de serviço. Mas é caro e quase ninguém põe”, explica André Andreoli.
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