22 de dezembro de 2025
Geral

O orelhão mais "disputado" de Bauru

Cinthia Milanez
| Tempo de leitura: 3 min

Embora os telefones móveis estejam mais do em alta, há quem prefira - e precisa - usar o bom e velho telefone público, ou melhor, o orelhão. Conforme os dados divulgados pela assessoria de comunicação da Telefônica Vivo, dos 1.724 aparelhos operados pela empresa em Bauru, três ainda são bastante utilizados pela população. Apesar de o órgão não informar a quantidade de chamadas feitas por cada um deles, o “campeão” está na quadra 3 da rua Silvio Marchione, na Vila Nova Cidade Universitária, em frente ao Centrinho.

Neste local, estava a dona de casa Neuzeni Santos da Silva Almeida, 27 anos. Ela havia acabado de conversar com o marido e fez a ligação por meio de um orelhão. Neuzeni saiu de Ouro Preto, em Rondônia, para trazer a filha, que tem fissura labiopalatina, ao Centrinho em uma viagem de mais de 2 mil quilômetros. “Eu paguei R$ 5,50 em um cartão telefônico para falar e consegui falar seis minutos”, acrescenta.

A dona de casa conta ainda que a operadora que ela utiliza no telefone móvel não tem um sinal muito bom em Bauru e teve de optar pelo orelhão para dar notícias ao marido.

Em frente ao telefone público que foi utilizado por Neuzeni, há uma loja que comercializa cartões telefônicos. O gerente do local, Bruno Pissuto, 31 anos, afirma que vende cerca de 10 itens por dia, na maioria das vezes, para pessoas de fora, como a dona de casa que saiu de outro Estado.

Outros pontos

Conforme o levantamento divulgado pela Telefônica Vivo, no ranking dos orelhões “mais quentes” de Bauru, o segundo lugar vai para um telefone público instalado dentro do escritório da Secretaria Municipal de Administrações Regionais (Sear), localizado na quadra 14 da rua Santos Dumont, na região do Jardim Bela Vista. A pasta tem um convênio junto à Secretaria da Administração Penitenciária (Sap) e os presos realizam serviços de competência do município e têm desconto proporcional no cumprimento das penas.

Diante disso, como os detentos não deveriam ter acesso a aparelhos celulares, a comunicação se dá por meio de um orelhão instalado dentro da Sear. No local, os funcionários da prefeitura narraram ainda que alguns usuários da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Bela Vista, que fica ao lado da sede regional da secretaria, muitas vezes, fazem uso do telefone público.

Por último, os outros orelhões mais utilizados do município estão no Terminal Rodoviário, mais especificamente em frente a Praça Papa João Paulo II. No entanto, dos 10 aparelhos, o JC verificou que dois não estão funcionando. Segundo alguns taxistas que têm ponto no local, a maioria das pessoas que utiliza os orelhões é, de fato, formada por detentos que conseguem o benefício da saída temporária.

Podem parecer antiquados, mas na hora do ‘aperto’...

Embora os orelhões ainda tenham conseguido sobreviver à era do aparelhos de telefonia móvel, o professor do Departamento de Psicologia da Unesp de Bauru e especialista em comunicação, Sandro Caramaschi, argumenta que os celulares são intermodais, ou seja, têm diversas funções, além das chamadas. Inclusive, o psicólogo afirma que as ligações são as últimas opções da maioria das pessoas, que prefere se comunicar por meio de mensagens de texto.

Contudo, toda tecnologia possui os lados positivos e negativos. “Hoje em dia, as pessoas têm uma relação emocional com os celulares”, explica. Outros pontos negativos da telefonia móvel são a falta de socialização e a cobrança excessiva, conforme aponta Caramaschi. “As pessoas estão disponíveis a qualquer momento, fato que aumenta a cobrança de alguns chefes, por exemplo”, pontua o especialista.

Levando em consideração todos esses fatores, o professor não descarta a função do bom e velho orelhão, apontado como uma boa alternativa quando a telefonia móvel não está disponível. “Muitas vezes, a bateria dos celulares acaba, os telefones não têm sinal ou, até mesmo, as pessoas não têm acesso aos aparelhos”, diz. Tais situações levam ao uso dos telefones públicos, que, aparentemente, ainda não perderam a importância.