18 de dezembro de 2025
Articulistas

A fatura do diabo

J.F. da Silva Lopes
| Tempo de leitura: 3 min

Na casa de meus avós maternos a cozinha era quase epicentro de nossas vidas, funcionava ininterruptamente segundo minhas lembranças infantis e dela saiam iguarias inesquecíveis. Dentre suas delicias tinha destaque o delicioso frango com quibombo, típico prato da culinária mineira e, ao que lembro, um dos prediletos de meu querido primeiro primo-irmão José Eduardo Almeida - maravilhoso cidadão e excelente marido, pai, avô e bisavô -  que ainda outro dia deixou a vida sem tempo para despedir-se de muitos que, como eu, tanto o admiravam.

Na verdade o acepipe a que me refiro era frango com quiabo, mas na casa avoenga quiabo soava como diabo e não era de bom tom referir-se ao nutritivo vegetal por nome que pudesse atrair o perigoso e astuto coisa ruim, primeiro inimigo de Deus. Dai porque na nossa e em outras famílias quiabo era quibombo para manter Satanás afastado livrando a todos nós das suas pecaminosas maldades. Sabia-se, já então, que era perigoso atrair o “tinhosão” e as famílias que respeitosamente assim agiam esperavam, com ajuda de Deus, correr menos riscos e receber mais chances de felicidade.


Nossa Presidente embora de família mineira - província que trouxe para o mundo o frango com quiabo, digo, quibombo - infelizmente não teve preparo familiar, ou sorte, para acautelar-se e manter prudente distanciamento do sinistro príncipe das trevas. Muito provavelmente na sua família frango com quibombo apesar de delicioso não existia com esse nome e não havia preocupação de afastar o coisa ruim, sempre capaz de infinitas perversidades.


Essa hipótese apenas provável adquire carga de consistente certeza quando se recorda que nossa Presidente num cenário republicanamente hostil à sua reeleição afirmou - e cumpriu o afirmado - de que faria o diabo para conquistá-la, facilitada a estratégia de seus marqueteiros e deixando o invocado Satanás livre e solto para agir com sua perversa carga de maldades. E a improvável reeleição aconteceu com perigosíssimo dedo interveniente do coisa ruim, apesar de cenário que apontava muito justificadamente para caminho da renovação republicana.

Desde a reeleição, para aflição nacional, o influente demônio depois de atraído parece ter gosto pelo envolvimento político e continuou agindo, para apresentar sua fatura de serviços prestados e cobrar respectivos pagamentos. Incentivador de mal feitos, o tinhoso personagem sem pudor algum dia a dia destila elementos demonstrativos de inúmeras e graves situações artificiosas e equivocadas que maldosamente ajudou a escamotear para desviar a vontade do povo de rumo naturalmente republicano. Infelizmente quase nada existe que tenha eficiência para detê-lo, afloradas, continuadamente tensas tramas e tragédias ao gosto e predileção da criatura sobrenatural invocada, turvando o ambiente político-administrativo e grande parte de seus agentes.


O que acontece hoje - e o que vai acontecer daqui para frente sabe-se lá até quando - constitui quadro agudo de padecimento que só a inspiração demoníaca pode conceber. Uma Presidente que perdeu o carinho da nação, sem condições de aglutinar aliados, sem meios para estancar a derrocada de seu partido, incapaz de impor sua vontade mesmo diante de situações oportunas e justas, obrigada a afastar-se do contato direto com seu povo para recolher-se à solidão palaciana e ainda tendo pela frente mais de três anos de melancólico e torturante mandato está enroscada numa situação infernal que só mesmo o demônio poderia conceber, aparentando que apenas o fim do seu mandato poderá aliviar essa desgastante, irreversível e infernal tortura.

Essa deplorável tragédia que, além dela, aflige e fragiliza toda a nação revela que em nenhum contexto o demônio merece ser invocado ou atraído porque irá, como sempre faz, gerar perigosos malefícios. Recomendável e prudente, portanto, que se fuja das tentações de atraí-lo até mesmo em culinária e se dê, por exemplo, preferência ao frango com quibombo que, além de delicioso agrada muito e não prejudica e nem provoca indigestas faturas.


O autor é advogado e articulista do JC