20 de dezembro de 2025
Regional

O desbravador do sertão

Aurélio Alonso
| Tempo de leitura: 2 min

Luiz Carlos de Barros/Reprodução
José Theodoro de Souza sentado, com o filho Theodorinho, em pé à direita, com dois “amigos”

A ocupação da parte meridional do Estado, desde Sorocaba e Botucatu até o rio Paraná, foi marcada por matanças de índios, posse de enormes glebas e disputa entre coronéis, algumas vezes resolvidas a bala. O maior desbravador da região foi José Theodoro de Souza vindo de Pouso Alegre (MG) para se apossar de áreas de Bauru, Botucatu, Avaré e São Pedro do Turvo.

A última incursão a penetrar na “Boca do Sertão”, após a vinda dos bandeirantes no século XVI, ocorreu a partir de 1851.

Documentos de posse de terra registrados em cartório, certidão de óbito e até recortes de jornais da época apontam aos poucos a saga de Theodoro, um personagem controvertido que tanto pode ser considerado o desbravador de povoados a genocida de índios.


A conquista de território expulsou os indígenas e marcou a formação de grandes latifúndios na expansão paulista. O professor da Unesp e historiador de Botucatu João Carlos Figueiroa compara ao velho oeste americano a forma como essa ocupação ocorreu na região. “São os pioneiros que vinham com a família para estabelecer a posse numa terra de promissão. Até antes de 1850, a posse das áreas eram registradas na igreja matriz, depois disso fica mais difícil esse registro com a lei de posse de terras, porque o pioneiro tinha que comprar ou registrar tardiamente o imóvel para provar a posse”, conta.

O memorialista Celso Prado se transformou nos últimos 10 anos em “especialista” sobre José Theodoro de Souza, um personagem intrigante. Descrito em alguns momentos como bugreiro, matador de índio e outra como desbravador e responsável pelo progresso do sertão.

A própria descrição do mito destoa completamente dos personagens que entram na história como grandes conquistadores.

Para começar, Theodoro era franzino, de pequena estatura, fala mansa, sotaque mineiro, olhos miúdos e pele clara. “Um caboclo com barba rala, cavanhaque no queixo e pés quase sempre descalços”, descreve Prado.

É possível ter essa noção graças a uma foto tirada no século 19 que o desbravador posou junto com seu filho e jagunços. É o único registro histórico do homem que fundou São Pedro do Turvo, vendeu terras que não era dele na região do Rio Batalha, próximo a Bauru, e que teria trocado uma fazenda por um escravo exímio tocador de cateretê. “Festeiro, folgazão e perdulário, Theodoro tem essa passagem mais para lenda do que para realidade”, relata Prado. No livro de Maria do Carmo Sampaio Di Creddo, a história é confirmada.

Deixando de lado esse lado folclórico, o desbravador entrou no sertão para a posse de suas terras em junho de 1851, de imediato a Guerra ao Índio, por ele liderada e vencida, sob as ordens do Capitão Tito Corrêa de Medllo, fazendeiro político e mandatário botucatuense.

Depois de sua peripécia pelo sertão, Theodoro morreu pobre e paralítico em Campos Novos Paulista, embora há versão que se sustentou por muito tempo de que ele tenha sido assassinado por índios.