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| Júlio Rasec, Samuel Reoli, Dinho, Sérgio Reoli e Bento em disco |
Foi um susto. Era um domingo de manhã e minha mãe abriu a porta do quarto aos prantos. Ainda meio dormindo, só ouvi: “morreram todos!”. Quem? Perguntei apavorada.
Se por um lado fiquei aliviada por não serem pessoas da família, por outro estava arrasada pela morte de todos os integrantes do grupo Mamonas Assassinas.
No auge do rápido sucesso, esses meninos estavam tão presentes na televisão, nas rádios e na trilha sonora das festas que, de certa forma, ficou a sensação de “serem da família”.
Não era só a “banda do momento”, mas um fenômeno cultural sem precedentes no Brasil. E até hoje, exatos 20 anos depois, não surgiu nada igual, nem mesmo parecido.
Assim como eu, várias pessoas lembram perfeitamente sobre como receberam a trágica notícia e o que sentiram naquele momento. Nas ruas, eu e o repórter fotográfico Quioshi Goto conversamos com várias delas. Confira no final.
DJ e radialista comentam sucesso
Toda festa – e nem precisa ser no fim – tem seu momento de descontração. E essa é a chance do DJ Emerson Cano, 33 anos, colocar Mamonas Assassinas. “Toco em 90% dos eventos. Começo com ‘Robocop Gay’. O pessoal pula, dança e pede: toca a ‘Brasília amarela’!”. O dia da tragédia também o marcou. “Passava em todos os canais da TV. Eu tinha 13 anos, fiquei péssimo”.
E esse repertório, não é lembrado só na “zueira”, também toca na rádio. “Os Mamonas se tornaram clássicos, viraram flashback no programa ‘Túnel do Tempo’, da Rádio 96 FM”. conta o radialista e publicitário Márcio Augusto, 44 anos.
Trabalhando na rádio desde 1994, Márcio acompanhou a carreira do grupo. “Foi uma passagem rápida e intensa, mas acredito que se eles estivessem vivos continuariam fazendo sucesso. Gravaram só um disco, mas todas as músicas tocavam”. As mais pedidas eram “Vira-vira” e “Pelados em Santos”.
“Eles vieram para Bauru bem no começo e o show foi demais. Outros grupos tentaram partir para essa irreverência, sem chance. Muito do que está aí nunca vai virar flash back como os Mamonas”.
Márcio também ficou chocado com acidente de avião. “Levei um susto. Liguei a TV e o Gugu estava mostrando a reportagem já com helicóptero e tudo. Quem viveu naquela época não tem como esquecer”.
Mamonas: como explicar o fenômeno?
Grupo de Guarulhos fez humor sem amarras o que, atualmente, já seria mais difícil por conta de patrulhas acirradas do “politicamente correto”
| Reprodução/Internet |
| Elcio Bonazzi, produtor musical Rick Bonadio, Ruy Brissac, Adriano Tunes, Yudi Tamashro e Arthur Ienzura: musical; logo abaixo, banda original: Júlio, Dinho, Samuel, Sérgio, Sérgio e Bento |
Sete meses. Esse foi o tempo que a banda Mamonas Assassinas – formada por Dinho, Júlio, Samuel, Bento e Sérgio – teve para curtir o sucesso, conquistado com letras bem-humoradas e roupas despojadas. Mas, 20 anos depois do fim trágico do grupo, ele ainda é lembrado pela irreverência.
No dia 2 de março de 1996, o avião que trazia a banda de Brasília não conseguiu pousar, arremeteu e se chocou contra a serra da Cantareira, em São Paulo, matando a tripulação e os cinco integrantes.
“Veja o quanto eles foram especiais: o tempo de carreira do grupo foi muito menor do que o tempo passado da morte deles até hoje. Mesmo assim, é possível ainda sentir o carinho das pessoas”, diz Samy Elia, que foi empresário da banda.
O disco dos Mamonas Assassinas, lançado em junho de 1995, chegou a 2 milhões de cópias vendidas até a data do acidente. Um ano depois do lançamento, foi a 3 milhões.
Assim que estourou, o quinteto ganhou a simpatia do público brasileiro, e seus shows por todo o Brasil quase sempre tinham lotação máxima.
“Eles tiveram uma identificação com o povo brasileiro. As pessoas se viam nos Mamonas”, afirma Rick Bonadio, produtor do CD.
‘Piada com tudo’
As canções deles, que não saíam das emissoras de rádio, tiravam sarro de portugueses (“Vira-Vira”), de nordestinos (“Jumento Celestino”), do pagode (“Lá Vem o Alemão”) e até dos bichos (“Mundo Animal”). “Ninguém vai conseguir fazer humor em música tão bem quanto os Mamonas. Até mesmo porque, hoje, não há liberdade para fazer tanta piada com tudo”, afirma Bonadio – em alusão a patrulhas do que se convencionou chamar de “politicamente correto”.
TVs exibem especiais
O Multishow preparou programação especial. O “TVZ”, programa de clipes da emissora, vai exibir, a partir das 19h, “Pelados em Santos”, “Vira-Vira” e outros sucessos do grupo.
Já às 20h30, ainda no Multishow, é a vez de o documentário “Mamonas pra Sempre” ir ao ar. Lançado em 2009, o filme reúne imagens e depoimentos sobre a banda.
O documentário mostra desde a época de Utopia, como os Mamonas Assassinas se chamavam quando tocavam músicas sérias. Às 23h, a GloboNews exibe o programa “Arquivo N”, que também passa por todas as etapas do quinteto.
O jornalístico “SBT Brasil”, às 19h45, termina reportagem em duas partes, que começou nessa terça-feira (1). A repórter Simone Queiroz conversou com a família dos integrantes e visitou fã-clubes.
Espetáculo teatral
Mamonas vão ganhar um espetáculo teatral no Teatro Fecomercio (capital paulista) com abertura em 11/3, “O Musical Mamonas” leva aos palcos a história dos cinco rapazes que se conheceram em Guarulhos (Grande São Paulo).
“Pegamos as características mais marcantes dos integrantes originais para levar ao palco o clima dos Mamonas”, diz Anderson Bueno, responsável pela maquiagem.
Elcio Bonazzi, que vai interpretar o baixista Samuel, conta que é emocionante fazer o integrante de uma banda da qual foi fã. “Eu tinha oito anos quando eles morreram. Agora, vou ajudar as novas gerações a conhecerem um dos grupos mais originais do Brasil.” Também estão no elenco Ruy Brissac, Adriano Tunes, Yudi Tamashiro e Arthur Ienzura. A direção é de José Possi Neto.