| Aurélio Alonso |
| O chá de ayahuasca é ingerido em pequena dose em ritual do Instituto Xamânico de Jaú |
Uma mistura de diversas crenças religiosas atrai dezenas de pessoas ao Instituto Xamânico Luz Paz Amor na Mística União à cidade de Jaú (47 quilômetros de Bauru) onde nas reuniões de trabalho ocorre a ingestão do chá de ayahuasca. Ali, nos finais de semana, são realizados os rituais religiosos. Os encontros começam por volta das 17h e se encerram pontualmente à meia-noite em volta de uma fogueira, sob uma trilha sonora de música eletrônica, sons de tambores indígenas e até canção de Guilherme Arantes.
A planta usada no ritual é a mesma que a atriz e cantora Brita Brazil reclamou que o filho Rian Brian, neto de Chico Anysio, costumava tomar em forma de chá em encontros da seita Porto do Sol, cuja fundadora no Rio é atriz Leona Cavalli. Rian foi encontrado morto por afogamento numa praia do Norte Fluminense, porém a mãe levantou polêmica dizendo que, depois que o filho entrou no ritual, o jovem ficou diferente. A atriz rebateu a declaração e ameaça processar Brita, porque entende que não existe nenhuma relação com a morte de Rian o fato de ele ter ingerido ayahuasca em outras ocasiões com a morte por afogamento.
O JC acompanhou entre um sábado e domingo as atividades do instituto de Jaú. O líder xamânico no local é o argentino Daniel Alberto Rojas, chamado de “padrinho”. De voz pausada, semblante tranquilo, Rojas veio para o Brasil em 1979, a passeio, depois ao retornar à Argentina, em 1982, serviu na Força Aérea na Guerra das Malvinas, confronto bélico que a ditadura argentina deflagrou pelo controle das Ilhas Falklands contra a Inglaterra. Ele não esteve diretamente no front, ficou em terra numa brigada para abastecimento de suprimentos das aeronaves até ter baixa.
Rojas antes de morar no Brasil, viajou como mochileiro pelo Chile, Bolívia, Peru, Venezuela, Colômbia, até a Nicarágua na América Central.
Para ele, o Instituto é ecumênico e não se trata de uma vertente do culto Santo Daime, religião de muitos celebridades brasileiras, onde os adeptos tomam a ayahuasca, planta de origem dos povos pré-colombianos considerada sagrada pelos incas e indígenas da região amazônica.
A ingestão em culto ritualístico desse chá feito a partir de um cipó com a planta chacrona é autorizada e tem regulamentação do Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas (Conad) que permite a bebida somente em cultos religiosos. O produto já vem pronto de um distribuidor de Sorocaba. A entidade tem que ter CNPJ.
A origem do Instituto em Jaú passa por Bauru. Rojas frequentou a União Vegetal, um grupo fechado de cinco a seis pessoas que ingeriam a ayahuasca.
O chá da planta tem um poder de causar alterações de consciência em quem bebe, não causa dano físico ao usuário. No ritual são ingeridos de 80 ml a 100 ml em duas doses. Praticamente a pessoa fica horas deitada enquanto dura a sessão entremeada por uma trilha musical variada. Durante esse “transe” quem ingere chega a ter problemas estomacais e até diarreia. Esse mal estar é atribuído a limpeza “espiritual” do organismo.
Na literatura médica há pesquisa da Unifesp e USP para uso terapêutico da planta em casos de depressão e mal de Parkison. Os relatos no uso do chá durante o ritual é de busca do “autoconhecimento”.