Somos falhos? Indubitavelmente somos. O simples fato do pensar, que é característico e único do ser humano, nos dá a possibilidade de erro lógico. Descartes, em sua obra “Meditações”, nos traz uma interessante metáfora sobre isso: e se existe um demônio mau que fizesse com que todos os nossos sentidos e percepções fossem, na realidade, algo falso? Em outras palavras: e se acreditássemos em algo que nos parece inabalável e houvesse alguma coisa que deturpasse nossas sensações?
Eu apenas sei que existo, pois penso. Mas o que eu penso pode ser manipulado. O que vemos hoje em setores da sociedade que se dizem produtivos, intelectuais ou até mesmo importantes para o desenvolvimento de uma região é justamente a presença “onipresente” desse demônio descartiano. O eterno discurso tautológico sobre o crescimento de classes menos favorecidas em decorrência de um semideus proletário que pairou sobre nosso território por um período de tempo mostra a ineficácia de discurso e a desonestidade intelectual daquilo que hoje chamamos de “petistas”.
Veja, essa palavra não faz referência apenas a algum partidário político. Ela se transformou em algo maior. Esse termo nos dias de hoje faz referência não a militantes, mas a pessoas que realmente não conseguem sair do discurso politicamente correto ou aprofundar o embasamento das relações causa-efeito políticas que o partido dos trabalhadores fez em nosso país.
Mais bisonho ainda, não são proletários ou sem-teto. Quem traz esse discurso é o burguês intelectualóide. O mesmo tipo que não consegue sair do raciocínio dicotômico de um torcedor de futebol. O mesmo que explora, qual Robin Hood, com seu capitalismo voraz, o restante da sua classe social e, efetivamente, pouco sabe das classes menos abastadas e necessitadas de estados pobres e comandados pelos eternos coronéis mandatários que, eventualmente, são endeusados na eterna Síndrome de Estocolmo a qual o ser humano gosta de participar.
A história é cíclica e vem daí seu aspecto fascinante pois, se não retiramos o demônio descartiano de nosso pensar, ela continuará a ser escrita pelos vencedores não só físicos, mas que também conseguem se endeusar. Todos erramos e mais justo seria assumirmos os erros e recomeçarmos. Não. Erro, pois a palavra não é justiça. A palavra é honestidade.
O autor é professor Unesp - ghilardi@fc.unesp.br