13 de dezembro de 2025
Bairros

Quitandas tradicionais a céu aberto aumentam em Bauru

Dulce Kernbeis
| Tempo de leitura: 7 min

Alex Mita
Os amigos Adalto Barreto e Ailton Rodrigo vão além das frutas e “investiram”  num novo ponto à sombra de uma árvore na avenida Comendador da Silva Martha próximo ao Recinto Mello Moraes 

Foi-se o tempo em que se colhia fruta do pé, no fundo do quintal. À exceção de casas antigas ou pequenas cidades, poucos mantém a tradição de cultivar suas próprias verduras, ter um pé de limão ou  mesmo árvores tradicionais. Os tempos modernos não permitem mais isso.  Cadê o tempo para cuidar de uma horta? E de um pomar?

Mas isso também não é desculpa para não se alimentar de forma saudável, abdicar de uma fruta fresquinha e só abusar dos alimentos processados. Afinal, hoje em dia as pessoas estão cada vez mais inclinadas a comer alimentos mais saudáveis, especialmente verduras, legumes e frutas.  

É nessa esteira que as bancas de frutas proliferam tanto em grandes supermercados quanto em feiras livres em Bauru. A iniciativa das feiras do produtor rural, onde se compra direto de quem produz ou mesmo das feiras livres noturnas, caíram no gosto da população. E só têm crescido.

Outro comércio que cresce a olhos vistos é o de barraquinhas. Em cada canto da cidade, nas principais praças, sob a sombra fresca de uma árvore ou mesmo embaixo de viadutos, onde houver espaço para a clientela estacionar e escolher seu produto, lá estão elas.

Bauru é farta de vendedores de frutas. Tanto que há comerciantes de mais de 30 anos num único lugar. A banca até já faz parte da paisagem. Se alguém a tirar dali, o público vai estranhar. Mas há também os que só começam a buscar a atividade como forma de driblar a falta de emprego.

A clientela que precisa de rapidez e facilidade no atendimento, agradece.

Tradição de família garante o sustento de gerações

Conheça a história de dois irmãos e uma neta, família de feirantes que é exemplo de trabalho duro através dos alimentos

Alex Mita
Tide é bastante conhecido dos bauruenses e tem clientela cativa
Renan Casal
Jairo, o irmão de Tide, tem banca na Nações Unidas
Alex Mita
Leonidas da Silva Soares, da "Filhos da Fruta"

Todo mundo que frequenta o Altos da Cidade, especialmente a rua Antonio Alves esquina com a Antônio Garcia, conhece a banca do Tide, apelido do vendedor Aristides Nunes, 62 anos, que está no mesmo ponto desde 1985. O que pouca gente sabe é que ser vendedor não foi escolha, acabou sendo imposição do pai de Tide, que tinha a mesma profissão, era feirante. Tide era de uma família de 11 irmãos, ele é o quarto. Dois dos irmãos ficaram na lida das frutas. Ele e um outro mais novo, o Jairo Nunes, vendedor instalado nos finais de semana na avenida Nações Unidas, próximo ao Vitória Régia. Também bastante conhecido dos bauruenses.

Jairo, inclusive, “pegou amor pela terra” e ele próprio produz muito do que vende. Mora numa chácara e só vem para vender nos finais de semana. Tide, não. Pega no batente da venda de frutas a semana inteirinha. “Não tem folga, não. E é muito puxado, praticamente de sol a sol”, diz Tide. Na verdade, antes de o sol nascer. Às 5h, 6h no máximo ele já está nos fornecedores, em geral no Ceasa, buscando a mercadoria. Estaciona cedo ali para garantir o ponto.

Tide diz que não pode se queixar.  Vender suas frutas o fez sustentar a família, ter sua casa na Vila Souto. E conta com a ajuda dos netos. Bianca Nunes é uma das que mais fica ao lado do avô. Além de confidenciar que ele tira uma soneca no local, todo dia, entre 10h e 11h, ela também  conta que ele conhece como ninguém o gosto dos fregueses bauruenses. E suas frutas são selecionadas. “Aqui só tem coisa boa, a gente vende mercadoria especial”. Por isso, o avô tem clientela cativa. “Todo mundo já acostumou comigo, sou tradicional aqui”, reconhece Tide. Perguntado sobre qual fruta vende mais, ele diz de primeira: uva. “Uva a gente vende bem. Mas a preferência mesmo é por frutas da época, que são mais baratas”.

Apesar de não se queixar e estar feliz com o que faz, o vendedor diz, no entanto, que não começaria de novo nessa profissão. “É só canseira. É um trabalho muito duro.”

Aposta em nova profissão e inovações

Adauto Barreto, 39 anos, é de Aracaju. Veio para Bauru atrás de emprego na construção civil, mas há menos de um ano, junto com  amigo Ailton Rodrigo, 28 anos, montou um ponto em zona nobre da cidade: na avenida Comendador da Silva Martha. Como próximo deles já havia outro vendedor de frutas instalado, resolveram ter um diferencial: vendem também legumes e verduras. E vão além: na barraca deles também tem compotas artesanais, especiarias, pimentas curtidas em vidro. Encamparam o verdadeiro espírito de uma quitanda. Em tempo: barraca é modo de dizer, porque na verdade eles se abrigam embaixo de uma frondosa árvore e, à sombra, atendem a clientela.

Próximo deles está o vendedor Leonidas da Silva Soares, da empresa que tem o sugestivo nome de “Filhos da Fruta”. Mais antiga e mais tradicional, a “Filhos da Fruta” se modernizou e aceita até cartão de crédito. Também tem clientela cativa.

Avenida Nações Norte é outra opção para ir à feira

Os comércios estão surgindo em vários pontos da cidade; quitandas e barracas de frutas estão presentes nos quatro cantos do município

Fotos: Alex Mita
Avelino atende clientes apressadinhos
Camilo Dantas complementa a aposentadoria

À medida em que a cidade cresce, novos conjuntos habitacionais são inaugurados, o comércio desse tipo, a céu aberto, se expande também. Próximo à avenida Nações Norte, Avelino Cardoso dos Santos, 53 anos, também monta sua quitandinha e vai conquistando público fiel. Numa região da cidade que há pouco tempo era só mato, ele aposta no crescimento da população para aquele setor.  E usa um terreno baldio do lado como estacionamento. E tem um pouco de tudo em sua barraca. Ele aposta na variedade e diversidade. Não fica só nas frutas. Traz todo tipo de legumes, batatas e muita verdura.
Aparecida Salvador, que trabalha próximo ao local, aproveitava a hora do almoço para levar algumas batatas. “É mais rápido pegar aqui, quando sair do trabalho não precisarei mais fazer compra. Economizo tempo e dinheiro”.

Na Praça dos Expedicionários, na Bela Vista, em outro “ponto” implantado há pouco tempo, cerca de um ano, o aposentado Camilo Dantas, 84 anos também vende frutas. Se a ideia de um é a diversidade, Camilo já gosta de ficar com um tipo só. Ele aposta na fruta da época, que é mais barata. E assim vai garantindo “um tostão a mais, por que ficar parado é pior”. Camilo não quer diversificar os produtos” e garante que foi uma boa trocar a profissão de carreteiro por esta. “A mulher não estava deixando eu dirigir mais. Então, eu fico aqui. Apesar de ser aposentado, depender só de governo para sobreviver, não dá. Ainda mais quem paga aluguel, aí sim estou ferrado”.

Bauru estuda projeto de lei que regulamentará comércio ambulante

Há um estudo em andamento para a conclusão definitiva da elaboração do texto do projeto de lei que trata da regulamentação do comércio ambulante no município de Bauru, de acordo com a atual realidade da cidade.

A informação é da Secretaria Municipal de Planejamento, por meio da assessoria de comunicação da Prefeitura Municipal. Assim sendo, a prefeitura optou por manter os comerciantes que ocupavam os espaços já existentes desde a vigência da 1º lei, que por ora encontra-se suspensa, sem a criação de novos locais, até que a nova redação da lei seja concluída.

Quanto aos comerciantes de frutas, verduras e legumes, o que pode ser feito, é entrar em contato com a Secretaria Municipal de Agricultura (Sagra), que oferece a possibilidade da participação de feiras do produtor, quando a produção das frutas for própria, ou das feiras tradicionais, quando o produto for de revenda. Para participar de tais feiras, o comerciante deve procurar a Sagra, que informará quais são os procedimentos necessários, de acordo com a disponibilidade de vagas.