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| A pesquisadora Carla Gestich reproduziu áudios: vocalizações |
Macacos-prego, saguis e bugios do Zoológico Municipal de Bauru integraram uma pesquisa de doutorado que avaliou aspectos da comunicação entre estes animais da fauna brasileira.
O estudo foi conduzido pela pesquisadora Carla Cristina Gestich, 30 anos, aluna da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e incluiu, ainda, a observação da vocalização de sauás - primatas presentes na região de São Carlos, também visitada.
Formada em ciências biológicas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu e com mestrado em ecologia pela Unicamp, Carla conta que o levantamento teve início em 2013, mas só agora a tese de doutorado, que ela defenderá no próximo dia 24, foi concluída.
O objetivo da vinda a Bauru foi verificar a eficiência do uso de gravações de sons de primatas a partir da resposta obtida dos animais que vivem em cativeiro no Zoo.
“Usamos playbacks de vocalizações que cada espécie utiliza para se comunicar entre grupos e cada uma teve uma reação diferente a este estímulo. Os saguis vocalizaram muito, já os pregos apresentaram mudança no comportamento. O macho maior ficou bastante agitado e em posição de defesa, demonstrando estar se sentindo ameaçado. Os bugios adultos, por sua vez, se posicionaram no ponto mais alto do recinto, com o objetivo de proteger os filhotes”, detalha.
SENTIDO PRESERVADO
Os áudios também foram reproduzidos em fragmentos de áreas de transição entre Cerrado e Mata Atlântica na região de São Carlos, Descalvado e Ribeirão Preto, onde há ocorrência das quatro espécies de primatas, incluindo o sauá.
De acordo com a pesquisadora, os testes buscaram averiguar se o uso destas gravações, tendo boa qualidade, funcionavam para localizar exemplares selvagens na mata para futuras pesquisas.
“A gente esperava que os animais em cativeiro tivessem um comportamento bem diferente do que os que vivem na natureza, porque não estão mais acostumados a se deparar com este tipo de vocalização, vindo de fora do grupo. Mas, eles realmente reconheceram, demonstrando que ainda preservam este sentido. E ficamos muito felizes com isso”, pontua, salientando que foi orientada pela professora Eleonore Z.F. Setz e co-orientada pelo professor Rogério Grassetto T. da Cunha.
Carla reforça que, para obter respostas, é preciso utilizar vocalizações específicas, que se diferem de acordo com cada espécie. Quando a reação é sonora, os ruídos facilitam a localização dos primatas de vida livre, que também podem, por curiosidade e instinto de defesa, tomar a iniciativa da aproximação para identificar e intimidar o “invasor”.
“É importante saber, ainda, qual o tipo de vocalização mais adequada de acordo com a função que elas têm, porque existem várias: as utilizadas como mecanismo de defesa, para comunicação apenas dentro do grupo e para comunicação entre grupos, que foi a que usamos. Os primatas são extremamente sociais e possuem um repertório vocal bastante complexo, o que o torna estes sons muito interessantes para serem utilizados como ferramenta de trabalho entre pesquisadores”, pontua.