18 de dezembro de 2025
Regional

Região de Bauru vive "onda" do food truck

Aurélio Alonso
| Tempo de leitura: 13 min

Divulgação
Food truck do município de Brotas aposta em ingredientes regionais para atrair a clientela e já esteve até em cidade mineira

A recessão econômica colabora, mas desde 2014 a onda food trucks chegou ao Brasil como modismo e opção de negócio e renda. Na região de Bauru esse comércio com caminhões customatizados que circulam pelas ruas já tem até em cidades menores, de 20 mil habitantes. É um modelo que nasceu nos Estados Unidos e se estendeu ao mundo. O negócio já existe em municípios como Agudos, Barra Bonita, Brotas, Botucatu, Lençóis Paulista, Santa Cruz do Rio Pardo, Ipaussu, entre outros.

O food truck é a gastronomia praticada sobre rodas, geralmente em caminhões adaptados com uma cozinha móvel. O mercado da alimentação fora de casa vem apresentando crescimento expressivo nos últimos anos, segundo dados divulgados em material do Sebrae.

Com a recessão econômica também virou opção de negócio para quem deixou o emprego e decidiu investir no seu próprio negócio, após anos de carteira de trabalho assinada. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a alimentação fora de casa consome, em média, 31,1% do total de gastos das famílias brasileiras.

Levantamento da empresa de pesquisa Mintel, que perguntou a 1,5 mil pessoas como elas planejavam gastar algum dinheiro extra que receberiam neste ano - 28% responderam “comer fora”. Por isso há mercado para esse tipo de comércio.

Para tanto é necessário investir nessa cozinha móvel. De acordo com Diego Canteli, dono de uma empresa de Botucatu especializada em adaptar trailers e food truck, o custo varia de R$ 60 mil a R$ 170 mil.

Nesta semana, por exemplo, Brotas entra no circuito de festival de food truck. Neste município, por exemplo, tem o Truck da Roça, já conhecido por usar somente ingredientes regionais.

João Augusto Silveira Santos entrou no negócio sem querer. Na volta de uma viagem do Canadá comprou uma churrasqueira elétrica de US$ 99 e decidiu fazer alguns hambúrguer artesanais para os amigos em Santa Cruz do Rio Pardo. O negócio virou inicialmente uma lanchonete dentro de casa, depois teve que passar a vender fora, após comprar um trailer. Daí foi um passo para o Johnnys Burger montado em food truck.

A história do ex-soldador Willam Eduardo Lopes, de Botucatu, foi por necessidade: depois de mais de sete anos foi demitido e decidiu investir o dinheiro no food truck. Ele escolheu uma batata em espiral, com condimentos diferenciados e se deu bem no High Way Portions & Potato.

Hooby viabiliza empreendimento 

João Oliveira entrou por acaso no ramo depois de comprar churrasqueira elétrica nos EUA e Wlliam Lopes investiu dinheiro que levantou após demissão  

Divulgação
João Augusto Silveira Santos Oliveira apostou no food truck ao fazer uma receita diferenciada bem caseira de hambúrguer

Em três modelos de negócio cada um conta uma história para apostar no food truck. A atividade cresceu no País a partir de 2014, impulsionada pelo modismo paulistano. Depois chegou forte ao Interior. Os comerciantes William Eduardo Lopes, de Botucatu, João Pedro Barreto, de Brotas, e João Augusto Silveira Santos Oliveira são investidores que se deram bem com seus empreendimentos.

Dos três a trajetória de João Oliveira é a mais inusitada. Formado em rádio e televisão, a vida desse santa-cruzense deu uma reviravolta depois de passar um período no Canadá, mas não foi influência de onde residiu no Exterior que até tem esse tipo de empreendimento porém  por causa do inverno não é tanto disseminado como no país vizinho, Estados Unidos. Na verdade, quando retornou ao Brasil, ele decidiu comprar uma churrasqueira elétrica de US$ 99 para assar carne, hambúrguer e salsicha, hábito norte-americano.

“Foi meio sem querer que entrei nesse ramo de alimentação”, emenda João Oliveira, quando tenta explicar o sucesso do seu food truck Johnnys Burger, famoso em Santa Cruz e região.

O lanche artesanal conquistou o paladar, mas antes de ganhar popularidade foi “testado” em sessões de degustação na residência de João Oliveira. “Os amigos gostaram, passei a fazer em casa e divulgar na rede social, ficou conhecido, mas a Vigilância Sanitária exigiu mudanças e eu não quis transformar a casa dos meus pais em restaurante”, conta.

Diante disso, ele adaptou um trailer e passou a participar de eventos, como o Rock Rio Pardo, até expandir para o sistema food truck. Decidiu adquirir um veículo com o baú e fazer as adaptações conforme é a nova tendência do ramo com a gastronomia artesanal. “É três vezes mais caro o food truck. O diferencial é a praticidade até para estacionar.”

O dono do Johnnys Burger ressalta que não se trata de lanche gourmet. Ele avisa que essa palavra é mal utilizada para designar a atividade. “Quando diz hambúrguer gourmet isso não existe. Não é uma cozinha refinada. Diria que é um produto artesanal com receita caseira. Não é igual ao industrializado adquirido em supermercado,” explica.

Festival de food truck agita Brotas

Brotas realiza hoje e amanhã o 1.º Festival Brotas Food Truck. Serão 13 food trucks, food carts e food bike de várias cidades, que estarão em Brotas com a melhor comida de rua do Estado: lanches artesanais, polentas, massas, crepes, sorvetes, churros, brigadeiros, entre outros doces e salgados, além de sucos naturais e bebidas alcoólicas, incluindo o chope artesanal do próprio município.

Amanhã às 20h haverá show de Simoninha como parte do evento no Largo do Centro de Interpretação Ambiental (Ciam), um espaço  com toda infraestrutura necessária, o que inclui mesas e cadeiras para acomodar o público, e banheiros. Localizado ao lado do Parque dos Saltos, do Largo do Ciam é possível ouvir o som das quedas d’água do Rio Jacaré-Pepira, um lugar ideal para apreciar o final de tarde e à noite em Brotas, para comer e se divertir ao ar livre. O evento começará às 16h e vai até as 23h.

Produto da roça é estratégia de divulgar marca e atrair a clientela

O Truck da Roça de Brotas está em atividade há 1 ano e 9 meses. Um dos sócios João Pedro Barreto é do ramo de gastronomia. Ele também tem um restaurante em Brotas, onde neste final de semana tem Festival de Food Truck.

Não tem um ponto fixo. Já esteve em Caxambu (MG), mas o raio de abrangência é no Estado de São Paulo e cidades da região.
Barreto diz que é uma atividade bem trabalhosa. “Exige disponibilidade de tempo seja de dia e de noite, mas é rentável e lucrativa”, explica.

O carro chefe é um lanche de pão francês, linguiça de pernil, requeijão caseiro e tomate. Foi batizado de Brotas, mas há ainda o Frangolone com pão francês, frango em cubos temperado, muçarela, provolone, catupiri e tomate. “O food truck leva alguns tipos de cozinha que em determinada cidade, principalmente pequena, não teria acesso. Muitas vezes nestes locais não têm uma comidade portuguesa, italiana ou japonesa. Esse ramo de gastronomia é isso, se difere do cardápio comum”, conta.

O cardápio foi desenvolvido em Brotas. Na divulgação consta que o lanche é feito com ingredientes da própria cidade.

Demissão abriu as portas para novo negócio com lanche feito de batata

O soldador William Eduardo Lopes teve que dar uma guinada na sua vida, em Botucatu. Deixou o ramo de metalurgia para entrar no de gastronomia. Depois de sete anos perdeu o emprego. Com o dinheiro da rescisão investiu num trailer. O produto que ele vende é uma batata e petisco húngaro.

Batizado de High Way Portions & Potato se caracteriza como food truck. O produto é artesanal e diferenciado. Lopes conta que foge de produtos industrializados. “É uma cozinha móvel. Não temos ponto fixo. Utilizo temperos diferentes para fazer a batata”.

Lopes pesquisou na Internet na gastronomia oriental para produzir uma batata diferenciada com ervas, alho e salsicha.”São poucos lugares que vendem essa nova forma de batata de  até 60 cm. A origem é no Oriente. É como fosse a batata palito, mas de tamanho maior. Tive a ideia de usar ervas e alho, da culinária brasileira. Junto é colocado salsicha do tipo americana”.

Lopes admite que sempre teve intenção de entrar no ramo alimentício. A grande chance foi quando saiu da empresa. “A batata é um dos produtos mais consumidos no mundo. Pesquisei muito para chegar nesta receita de batata recheada. Decidi trazer uma novidade para Botucatu. E deu certo”, conta o ex-soldador.

Ele afirma que, em todo País, quem faz essa batata em espiral com tempero diferenciado são poucos: um em Goiânia, Manaus, em Moema em São Paulo e o Botucatu.

O comerciante salienta que o food truck exige alto investimento, porém o custo benefício é a grande vantagem do negócio. “Os equipamentos são mais caros. O sistema de gás, por exemplo, gastei mais de R$ 1 mil”, conta.

Sobre o setor, ele não acredita que esteja tanto em expansão, porque ele iniciou na atividade no meio da recessão econômica do País. “Houve uma queda de venda, mas quando a economia melhorar deve aquecer mais as vendas. Mesmo com a crise tem conseguido se sobressair”, conta Lopes, com uma jornada de terça a sábado. O ponto é na garagem da residência ou em eventos.

Divulgação
Truck na Roça sempre está presente em eventos de Brotas

Gastronomia artesanal vira tendência

Professor Márcio Henrique Castilho Cardin afirma que o costume de se alimentar melhor influencia desde restaurantes, padarias a comida de rua

O food truck é a gastronomia praticada sobre rodas. O que todo mundo conhecia por carrinho de lanches, de batatas, churros e hambúrguer, ganhou ares de sofisticação com receitas mais caseiras. O coordenador do curso de gastronomia da Universidade do Sagrado Coração (USC) de Bauru, Márcio Henrique Castilho Cardin, afirma que a gastronomia no food truck é uma evolução do setor, tendência essa no mundo todo.

Douglas Reis
Márcio Castilho Cardim afirma que food truck se especializou em receita diferente como atrativo

“Na nossa infância, a gente lembra dos trailers que eram aqueles lanches clássicos. A gastronomia é um setor que evoluiu como um todo no País e no mundo. De uns tempos para cá existe este boom de querer comer melhor. Isso influenciou todas as áreas da gastronomia: nos restaurantes, nas padarias e chegando até os carrinhos de lanche de rua”, explica.

Cardin destaca, no entanto, que não se trata de comida “gourmet” como muitos usam nas propagandas. “Esse termo não agrada ninguém da área. Algumas pessoas resolveram colocar esse tipo de palavra, mas muitas vezes o comerciante não mudou nada da qualidade do alimento e se coloca gourmet só para cobrar mais caro. Não enxergo isso com bons olhos”.

A expressão gourmet é o nome que se dá a um estilo de culinária mais elaborada, requintada e que atende as exigências do consumidor com gosto mais apurado em relação à qualidade e apresentação do prato ou da bebida.

A expressão gourmet está associada a uma ideia de “alta cozinha”, termo de origem francesa.

O especialista explica que o food truck é um conceito de buscar variedade de alimentos saindo do hambúrguer e do hot dog, não que esses produtos não sejam vendidos, porém ganham novas receitas e sabores diferenciados. “No food truck passa-se a trazer culturas de outros países. O principal no cardápio é a qualidade. Não adianta vender o mesmo produto, pondo a palavra gourmet na frente.”

O coordenador ressalta que atualmente as pessoas conseguem verificar o que elas pagam quando tem mais qualidade ou não. “Alguns food trucks conseguiram associar uma comida de maior qualidade, mas algo mais artesanal”.

De uns anos para cá, cita o coordenador, a comida mais bem elaborada também chegou à comida de rua, que abrange muito mais gente. “Quando você consegue aliar qualidade com cultura, é possível vender algo diferenciado. Esse é o movimento que tem acontecido no Brasil como um todo. O brasileiro passou e enxergar a sua cultura e a diversidade de seus ingredientes”. 

O coordenador do curso da USC explica que com a parte industrial evoluindo muito não há mais graça comprar um pão feito em uma máquina. No seu entendimento passa a ser muito mais vantajoso de sabor e qualidade algo que foi feito artesanalmente. “É uma tendência mundial”, conclui.

Você sabia?

O termo “food truck” foi importado dos Estados Unidos. A história do food truck começa há muito tempo atrás, por volta de 1860. Segundo referências, em 1866, no Texas, USA, Charles Goodnight já transportava alimentos e utensílios, em um caminhão militar adaptado, para servir refeições a tocadores de rebanho que viajavam por milhas para manejar o gado.

Empresa é especializada em adaptação de trailer e food truck

O empresário Diego Canteli é proprietário de uma empresa em Botucatu especializada na adaptação de trailers e food trucks. “É um segmento que está crescendo, é muito forte”. Esse tipo de empreendimento veio da capital e se estendeu ao país. A novela “Totalmente demais”, por exemplo, de três anos atrás, tinha um personagem dono de um food truck e influenciou na popularização da atividade. Canteli admite isso: “O negócio começou a pegar após essa novela. Tudo mundo começou a conhecer. Em São Paulo, era proibido a atividade, mas acabou liberando. Com a crise e desemprego, as pessoas faziam o acerto de suas demissões e investiam em alimentação como novo negócio para sobrevivência. A atividade cresceu.”

De acordo com Canteli, o trailer ou food truck tem um custo menor do que manter uma lanchonete, que precisa ter ponto, pagar aluguel e outras despesas.

A Trailers Canteli lista trabalhos realizados para clientes em Piracicaba, Bertioga e Campina Grande (Paraíba). Mas há diferença: há quem invista só no trailer, cujo custo é menor. O food truck exige estrutura montada em caminhão de pequeno porte, daí o custo mais alto.

Há diferenciação de investimento. Segundo Diego, se optar por adquirir um pequeno caminhão vai pagar em torno de R$ 40 mil e mais 25 mil para fazer cozinha. O trailer custa até R$ 17 mil além de até ser maior do que o caminhão baú.

De acordo com Canteli,é um ramo que está em alta. “O food truck é um investimento mais caro. Na Internet há várias ofertas. Compensa mais a adaptação de trailer porque sai mais em conta”, cita. Para trabalhar tanto o food truck como o trailer não tem diferença quanto às exigências. O diferencial é no investimento feito para fazer a adaptação e instalação dos equipamentos de cozinha.

Conforme o Sebrae, para iniciar um negócio de food truck é necessário constituir empresa e obter concessão da prefeitura e da vigilância sanitária, que irão avaliar e autorizar o uso do equipamento (veículo).

De acordo com o material, para operar os food trucks podem ser instalados em ruas e avenidas das cidades ou em espaços privados, como lotes de estacionamentos (pagos ou não), food parks (espaços comerciais destinados ao aluguel de vagas para food trucks) e eventos.

Deve ficar atento a questões legais e de uso dos espaços públicos restringem a exploração da atividade nas ruas das cidades. Não pode ter ponto fixo, como é comum ocorrer com alguns tipos de trailers.

Divulgação
Trailer adaptado para receber cozinha tem empresa especializada para esse tipo de atividade

Crescimento

O mercado da alimentação fora de casa, segundo material de divulgação do Sebrae, vem apresentando crescimento expressivo nos últimos anos. Os principais motivos relacionados a este crescimento são: as mudanças no estilo de vida dos brasileiros, que hoje dedicam mais tempo ao trabalho fora de casa do que ao preparo dos alimentos; e a associação da comida fora de casa ao lazer.

Conforme o Sebrae com base no levantamento feito pela empresa de pesquisa Mintel, que perguntou a 1,5 milpessoas como elas planejavam gastar algum dinheiro extra que receberiam neste ano - 28% responderam “comer fora”. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a alimentação fora de casa consome, em média, 31,1% do total de gastos das famílias brasileiras.