16 de dezembro de 2025
Opinião

1º de abril: hoje é aniversário da avó do meu amigo!

Vitor Oshiro
| Tempo de leitura: 3 min

Hoje é o Dia da Mentira. Data que possui diversas outras denominações dependendo da sua região, credo, cultura ou apenas da posição da Lua em relação ao seu signo no Zodíaco. Para os intelectuais, é o Dia da Pós-Verdade; para as crianças, Dia do Pinóquio; para os goleiros assassinos de mulheres, Dia do 'Foi só um erro e eu estou arrependido'; para os de direita, é o Dia do 'Vamos tirar ela primeiro e depois tiramos todos os outros'; para os de centro, Dia do... opa! Tem falácia maior do que ser de centro em uma era na qual todos somos obrigados a escolher um lado e guerrear com unhas, dentes e ofensas no Facebook?

Enfim, o fato é que, apesar de ser praticada 365 dias por ano, a mentira tem hoje um dia inteirinho dedicado a ela. Eu, entretanto, queria homenagear aquela mentirinha mais leve. Aquela que quase não é mentira (isso é uma grande mentira!). Aquela que, na verdade, é uma prima de segundo grau da mentira: a desculpa! Na maioria dos casos, a desculpa não traz quaisquer males para a sociedade. Não desalinha os planetas e tampouco provoca tragédias. Pelo contrário: a desculpa é um acalento na alma. Ela é nobre, cordial e, por muitas vezes, necessária. A desculpa sobe ao palco quando o jogo de cena teatral é mais amável e reconfortante do que a nudez áspera da vida real.

Tenho um amigo, o Thiago M. (todos só o conhecem pelo sobrenome e, por isso, vou preservar a sua identidade), que é daqueles caras mais 'boa praça' possível. Gente boníssima. Só que ele é um pouco mais caseiro que o restante da turma. E, justamente para encontrar artifícios em não magoar a galera ao recusar friamente o convite da balada, ele acabou fazendo especialização, mestrado e doutorado em Desculpologia (Este curso existe! É verdade. Ou seria mentira de 1.º de abril?) na Unicamp.

O Thiago é um mestre Jedi na arte de arrumar desculpas. Ao invés de dizer um simples e dolorido "galera, hoje não quero sair porque já me cansei de vocês e das mesmas piadas de sempre", ele não titubeia e solta um "Hoje não dá porque é aniversário da minha avó". Pelas nossas contas, a progenitora dele já fez 64 primaveras... somente neste ano.

Certo dia, ao perceber que o "aniversário da avó" entrara em desuso, ele disse que caiu um raio em sua residência e que, assim, não conseguia abrir o portão eletrônico para tirar o carro. Mas que fique a lição: toda boa desculpa precisa de elementos e detalhes que a comprovem. Thiago, como o Chuck Norris na arte das desculpas, complementou: "Para vocês terem uma ideia, eu vou ligar o chuveiro e acende a luz do banheiro. Vocês acreditam?". Gênio. Simplesmente gênio!

O fato é que, salvo raras exceções, uma desculpinha ou outra não faz mal a ninguém. Em dias cada vez mais egoístas em que ninguém se preocupa se o outro ficará ou não magoado, dar uma anestesia antes da picada de uma recusa não tem nada de maléfico. É a prima de segundo grau da mentira escalada para, no fundo, poupar o outro dos dissabores da vida.

Os críticos de plantão certamente irão me crucificar e dizer que tudo isso é um grande absurdo. Baterão bumbos na porta da minha casa e dirão que a verdade é sempre a melhor saída. Eu concordarei e direi que eles estão mais do que certos (o que será uma mentira!). E, logo, arrumarei uma desculpinha para sair de fininho do acalorado debate. Aliás, preciso mesmo encerrar este breve escrito e partir, porque tenho uma festa de aniversário para ir já já. A propósito, é a festa da avó de um amigo. Parabéns para sua só, Thiago!