| Aline Mendes |
| Isaac e o companheiro de quase todas as horas, o violão |
| Fotos: Arquivo pessoal |
| Isaac, o primeiro à esquerda, ao lado de Tom Zé, em festival |
| Como técnico de vôlei: “não tenho fotos minhas jogando...” |
Na vida do bauruense Isaac Ferraz, esporte e música começaram praticamente juntos, seguiram lado a lado, mas houve o momento de focar em cada uma das carreiras.
Ele foi longe como jogador profissional de vôlei, voltou à cidade para ser técnico e, por alguns anos, varou madrugadas como empresário de casas noturnas que entraram para a história de Bauru.
Há quase 20 anos, Isaac ouviu o coração e passou, como ele diz, a viver de música. Fez bem! E tem ido ainda mais longe, seja com seu violão e voz ou em parcerias.
Um dos projetos, com o saxofonista Derico, aquele que sempre animava as bandas dos programas do Jô Soares, deve render um novo disco e vários shows pelo Brasil.
Há também planos para uma carreira na Europa, onde a música brasileira da melhor qualidade, o estilo preferido de Isaac, é mais valorizada do que aqui.
Conheça melhor essa figura da música em Bauru.
JC - Como foi sua carreira no vôlei?
Isaac - Joguei vôlei profissionalmente e, por isso, saí de Bauru em 1980. Passei por vários clubes, como Guarulhos e Palmeiras, mas joguei mais tempo mesmo por Bauru. Comecei no BAC, com uns 13 anos. Joguei até 1990 e me tornei técnico. Primeiro do time masculino na Luso e, depois, do feminino no BAC.
JC - Do esporte para a vida noturna?
Isaac - Nos anos 90, fui um dos sócios do João Cabreira em casas noturnas: Cachaçaria do Jão, Tequila e Maria Bonita. Quando separamos a sociedade fiquei com a Cachaçaria e, depois, montei o Jack Music Pub. Não deu certo para mim e voltei para São Paulo no ano 2000, quando comecei a viver de música. Tocando, a noite acaba cedo, mas cuidando de bar ou casa noturna, a gente vira a noite e é muito cansativo.
| Arquivo pessoal |
| Nos tempos do Tequila, com o sócio e amigo João Cabreira |
JC - Qual sua história com a música?
Isaac - Comecei a tocar violão com 9 anos. Meu pai tocava sax, entre outros instrumentos. Meu irmão Samuel, trompete, e minha irmã Marlene, acordeom. Venho de uma família de músicos e meu irmão me levou para a escola Magister Curso de Violão, que ficava na avenida Rodrigues Alves. Meu pai me fazia solfejar e, mesmo gostando de música, era criança, queria brincar! Ele morreu quando eu tinha 10 anos e parei de estudar violão. Mais tarde, de 1981 a 85, fiz um curso de harmonia no Clam, em São Paulo, que era do Zimbo Trio, mas 90% do que eu toco aprendi de forma autodidata.
JC - Como surgiu a amizade com Derico?
Isaac - Em 1994, eu trouxe o Derico com sua banda na Cachaçaria do Jão. Ficamos amigos e o convidei outras vezes. Acabei me tornando o contato dele em Bauru para tocar em vários lugares. Um dia, ele me chamou para fazer um bico tocando com ele em São Paulo. Em 2008, gravamos um disco. Fui o primeiro parceiro dele como cantor, pois até então, só fazia instrumental. O que fazemos é música brasileira com tempero de jazz, samba e bossa nova. O Derico tem vários trabalhos em São Paulo e, em Bauru, toca também com o Clube do Jazz. São 23 anos de amizade. Ele é um cara divertido, que brinca durante o show. E que surpreende. Tocamos aqui no Dia dos Namorados e ele foi de mesa em mesa com o sax fazendo a música que o casal pedia.
JC - Você tem outros projetos?
Isaac - Aqui toco mais sozinho, voz e violão. Também tenho um trabalho com o grupo Gafieira S/A e um duo com Denise Amaral. Outro dia fizemos um tributo a Gonzaguinha. Onde me chamar, eu toco: casamento, aniversário, funeral...! Contanto que seja MPB! Não adianta me pedir para tocar sertanejo. Não tenho nada contra, mas deixo para quem sabe.
| Reprodução |
| Lá por 2003, em turnê com Derico, de quem tornou-se amigo |
JC - Que histórias engraçadas você tem dos palcos?
Isaac - Tenho muitas! Mas sempre conto duas. Durante um tempo toquei para a rede Cachaçaria Água Doce. Uma vez, em Foz do Iguaçu (PR), recebei vários pedidos de música, como sempre acontece, e em um dos papéis estava escrito João Bosco e Vinícius. Fiquei contente e toquei várias! Aí o garçom veio reclamar em nome de quem pediu e me explicou que era uma dupla sertaneja... Eu nem conhecia, porque eles estavam começando a fazer sucesso! Outra vez, em Toledo, também no Paraná, estava tocando com o Derico e um casal veio conversar no intervalo sobre nosso estilo musical. Dissemos que é basicamente MPB e perguntaram se a gente não tocava MPB internacional...!
JC - Quais as vantagens e desafios da vida de músico?
Isaac - O lado bom de viver de música é a música. É algo que vem da alma e faz bem. O lado ruim são os desamores por conta dessa vida... As mulheres ficam com os dois pés atrás quando se trata de um músico, não querem investir em relacionamento sério e, com essa idade, é isso que eu procuro!
| Arquivo pessoal |
| Com os filhos, Bruna, Iago e Theo, seus maiores amores |
JC - Você compõe?
Isaac - Compunha, quando participava de festivais. Em 1981 ganhei o da Faculdades Integradas de Guarulhos (FIG). Naquela época, era preciso saber compor, tocar ou cantar muito bem. Daí as coisas mudaram e, na maioria das vezes, conta mais o dinheiro, o mercado... Aí parei de compor.
JC - Como é seu repertório?
Isaac - Não considero que eu faça cover, porque cada dia toco a mesma música de um jeito diferente, depende do estado de espírito. Gosto de inovar na harmonia e colocar vários acordes além do que a música já oferece. Chamo de "estilo Isaac de tocar", que é bem suingado e harmônico. No bar, olho para as pessoas e vou sentindo o que agrada. Às vezes toco pop rock nacional, como Nando Reis, Paralamas e Barão Vermelho, mas gosto mesmo de João Bosco, Chico Buarque, Ivan Lins, Gonzaguinha, Djavan...
JC - Quais são seu planos?
Isaac - Emocionalmente eu me sinto realizado, mas financeiramente não é tudo que eu queria. Já recebi convites para sair do Brasil. Ainda não aceitei porque meus filhos caçulas ainda são pequenos. Curto muito os dois e não consigo me imaginar longe deles. Com minha filha mais velha fico mais tranquilo, porque ela estuda fora e está bem encaminhada. Penso em ir para a Europa, não para me aventurar, mas trabalhar e deixar algo para eles. Em curto prazo, estou no projeto de um novo CD com o Derico.
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PERFIL
Isaac Ferraz de Camargo Filho
Nascimento: 10/11/1962, em Bauru; tem 54 anos.
Família: filhos Bruna (25 anos), Iago (8 anos) e Theo (5 anos).
Referências: "comecei a tocar inspirado em Ivan Lins; gosto da musicalidade e do estilo do João Bosco e sou fã das letras de Chico Buarque".
Shows inesquecíveis: Elis Regina, em 1981. "Fiquei babando nela e nos músicos, foi incrível. Outro muito marcante foi o show do Queen no Rock in Rio, em 85".
Instrumentos: "sou violonista, mas brinco no piano e no acordeom, já fiz carnavais tocando trompete... De qualquer instrumento tiro um som!".
Hobby: "adoro correr".
Esportes: "brinco com bola, mas não jogo vôlei, exige muito".
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