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| Campeão do NBB, Beto Fornazari entende que Bauru Basket tem muito trabalho pela frente, principalmente fora da quadra, com investimento em estrutura e ampliação do Programa Sócio-Torcedor |
Quando o cronômetro do Gigantão contava os 30 segundos finais do jogo 5 da decisão do NBB, o abraço de alívio entre presidente, diretoria, comissão técnica e patrocinador máster era a assinatura de uma temporada de superação. Menos de um ano à frente do Bauru Basket, Beto Fornazari compartilhava a sensação de ter superado desafios tão complicados fora, quanto dentro de quadra. Dois dias depois, o gesto se repetiria em um dos momentos mais difíceis do clube: a morte do diretor Flávio Zambonato, o Biro.
Hoje, pouco mais de um mês depois da conquista e da perda, os desafios para fortalecer o Dragão renovam a energia do presidente para mais uma temporada, conforme o próprio revela em entrevista exclusiva ao JC.
JC - Quando você assumiu a presidência, acreditava no título do NBB?
Fornazari - Tínhamos um único objetivo: manter o time jogando, pois com a saída da Paschoallotto, o risco de acabar era real. Falar em título seria mera ilusão naquele momento. Trabalhamos muito para conseguir colocar o time em condições. Quando fomos campeões, a imprensa falava que eu era pé-quente. Mas, só nós que vivemos o dia a dia sabemos o quanto trabalhamos para sermos "pés-quentes".
JC - Com perdas no elenco e de patrocinadores, quando viu que poderia ser campeão?
Fornazari - O mais grave foram as perdas de alguns patrocinadores. Isso gerou um buraco no orçamento fazendo com que salários de todos jogadores e colaboradores ficassem em atraso praticamente a temporada toda. Fizemos algumas reuniões e explicamos a situação falando sempre abertamente. Essa transparência uniu o time e o profissionalismo desse grupo sinalizava que poderíamos chegar cada vez mais adiante. Vencer a série do Brasília (quartas de final) da forma como ganhamos, nos deu a confiança que faltava.
JC - Depois do título, houve outra perda: Biro, uma figura há anos identificada com o time. Qual foi o impacto?
Fornazari - O Biro respirava basquete, é uma perda insuperável. Adorava as categorias de base e dedicava-se de corpo e alma ao seu trabalho. Perdê-lo da forma como foi, dois dias após o título, ofuscou qualquer comemoração daí em diante.
JC - Como você projeta o Bauru Basket para a próxima temporada?
Fornazari - Teremos um time competitivo assim como o da temporada passada. Continuaremos entre as 4 ou 5 forças nacionais.
JC - O time deve iniciar o Paulista com os garotos da base e priorizar NBB e Liga das Américas?
Fornazari - Vamos manter a fórmula que deu certo nessa temporada, com o sub-19 iniciando o Paulista. A diferença é que nesse ano não vamos entrar com o time adulto tão tarde como no ano passado, vamos mesclar jogadores antes.
JC - Em relação ao elenco, haverá mais reforços?
Fornazari - Estamos trabalhando com os pés no chão. Não queremos passar uma temporada novamente com dificuldades financeiras. O Alex, nosso capitão, foi muito assediado por outras equipes, mas preferiu ficar em Bauru acreditando em nosso projeto. Além dos jogadores que já chegaram (Kendall Anthony, Renan Lenz e Isaac), precisamos de um lateral e um pivô, talvez.
JC - O contrato com a Gocil vence em setembro. Houve aceno de renovação? E aumento, conforme o Cinel falou caso o time fosse campeão?
Fornazari - Já tivemos uma primeira reunião e eles estão estudando a permanência, mas não conversamos nada sobre valores. Mostramos os resultados de mídia gerados e os benefícios obtidos, e foi um excelente negócio para ambas as partes. O Washington Cinel é bauruense roxo, tem muita estrela e, depois de ter levantado a taça, acredito que seja improvável a saída da Gocil. A cidade é grata pelo que ele vem fazendo.
JC - Qual a realidade financeira do Bauru Basket hoje?
Fornazari - Costumo dizer que agora estamos respirando sem a ajuda dos aparelhos (risos). Estamos mais austeros e realistas em relação ao orçamento, não faremos loucuras e seguiremos saneando todas as contas. Resumindo, ainda precisamos de mais patrocinadores.
JC - Sua gestão focou outras fontes de renda, como o sócio-torcedor. Há planos para melhorar isso?
Fornazari - O nosso torcedor tem uma força imensa. Lançamos no ano passado o sócio Dunk a R$ 19,90/mês para que o torcedor pudesse ajudar e ainda tivesse os benefícios de participar de uma rede de descontos e prioridade na aquisição dos ingressos pela internet. A cidade não comprou a ideia, tivemos poucas adesões. Nas fases finais, a disputa por ingressos foi intensa, muitas reclamações, filas, e os sócios-torcedores tranquilos com o ingresso garantido. Infelizmente nosso ginásio é pequeno, isso não vai mudar agora. Se tivéssemos pelo menos 3 mil sócios no plano Dunk, teríamos uma receita extra capaz de trazer um ou dois jogadores para novamente brigarmos por títulos.
JC - Após um ano na presidência, em sua avaliação, qual foi o principal mérito da diretoria?
Fornazari - Nossa diretoria é formada por empresários. Acho que o principal mérito foi tratar a Associação Bauru Basket como uma empresa. Poderia citar algumas coisas, tais como gerar mais fontes de receita terceirizando a loja física e virtual com venda de uniformes; contratação de uma agência para criar as ações de intervalo (RD Sports Marketing), sorteios e venda de anúncios esporádicos (por jogo); troca de alguns fornecedores; busca de novos patrocinadores, etc. Passar credibilidade para o elenco também foi fundamental para que eles pudessem trabalhar tranquilos.
JC - O que pretende fazer até o final de seu mandato?
Fornazari - Nosso mandato era tampão, de um ano, em substituição ao anterior. Agora, estamos em processo de nova eleição da mesma diretoria. Ser campeão logo no primeiro ano não nos ilude e nem afasta do longo trabalho que ainda temos pela frente, principalmente fora de quadra. Temos que crescer em estrutura, a reforma do ginásio nos trará uma praça de alimentação, comida e bebida de melhor qualidade, banheiros e vestiários novos, tudo isso feito sem nenhum custo, na base de parceria com uma construtora que nos patrocina. É muito importante também o Programa do Sócio-Torcedor, estamos investindo muito nisso e acreditamos que a cidade vai corresponder. Precisamos de receitas desse tipo. Criamos processos administrativos e melhoramos nossa equipe de backoffice. Teremos um novo site e a Bauru Basket TV voltará a fazer suas matérias. Em breve divulgaremos nosso tão sonhado projeto social onde atingiremos quase mil crianças carentes da cidade. Queremos ter um clube que mantenha essa chama acesa no coração de cada cidadão bauruense, esse orgulho de poder dizer que, em Bauru, pratica-se o melhor basquete nacional.