É comum que as pessoas esperem por uma radical melhoria na segurança no trânsito, a partir de avanços significativos em qualquer um dos componentes do seu sistema. Na prática, nem sempre ocorre como se poderia esperar.
Em 1968, entrava em vigor, nos Estados Unidos, nova regulamentação na fabricação de veículos, instituindo o uso obrigatório de uma série de componentes para aumentar a segurança veicular. Por meio dessa medida, esperava-se uma significativa redução do número de acidentes e mortes no trânsito. Porém, estudos realizados pelo professor da Universidade de Chicago, Dr. Sam Peltzman, mostraram que as mudanças introduzidas não reduziram a acidentalidade como esperado.
A conclusão foi que, ao sentir que o veículo oferecia mais segurança, os condutores passaram a negligenciar outros fatores ligados a ela, passando a utilizar velocidades maiores, reduzindo o nível de atenção ao ato de dirigir etc. Esse fenômeno ficou conhecido como Efeito Peltzman.
Os resultados obtidos pelo Dr. Peltzman, no caso da melhoria da segurança dos veículos, indicavam no sentido de ter ocorrido o fenômeno da homeostase, preconizado pela teoria do psicólogo canadense Gerald Wilde. A ideia básica apresentada por Wilde consiste de que nosso cérebro tem tendência a compensar riscos inferiores em uma área, assumindo riscos maiores em outra.
Um exemplo clássico deste fenômeno foi o fato de que, na cidade de Munique, metade dos táxis foi equipada com sistemas de freios ABS antitravamento, ao final dos anos 1980. O mais esperado seria imaginar que, ao incorporar este avanço tecnológico, que permite uma freada mais segura em superfícies escorregadias, a acidentalidade destes táxis seria reduzida quando comparada com a dos táxis que não portavam os freios ABS. Mas foi bem o contrário.
A colocação do ABS produziu motoristas mais desidiosos, pois passaram a dirigir mais velozmente, realizar curvas mais perigosas e se tornaram menos zelosos na mudança de faixas. Os taxistas também passaram a frenar de forma mais brusca, além de conduzir mais próximos aos veículos que seguiam à frente. Outros estudos analisaram o efeito na acidentalidade, a partir da melhoria dos atributos associados à segurança das rodovias.
Um exemplo claro e bem próximo dos motoristas de Bauru e região é o caso da rodovia Bauru-Jaú. Ela possui duas faixas por sentido, com curvas verticais e horizontais suaves, boas condições do pavimento e da sinalização. Ainda assim, são registrados muitos acidentes com mortes e feridos graves. Enfim, o comportamento do ser humano continua a refletir na insegurança viária, produzindo milhares de mortes anualmente no trânsito brasileiro. É preciso pensar que a vida humana é única e a ninguém é dado o direito de ceifá-la.
O autor é engenheiro, especialista em segurança viária e diretor de Mobilidade da Assenag.