| Reprodução/Arquivo Pessoal |
| A adolescente de 17 anos armazenou algumas das conversas que manteve com o hacker |
Aparentemente inofensivo, o ato de salvar dados pessoais do celular em aplicativos que oferecem armazenamento e compartilhamento gratuito de dados esconde grandes perigos. Em Bauru, o fato virou caso polícia e pesadelo para uma estudante de 17 anos e sua família (os nomes dos envolvidos serão preservados pela reportagem).
Depois de armazenar fotos com conteúdos de nudez em um aplicativo de hospedagens de arquivos, por meio do qual ela costumava também baixar músicas, a jovem teve sua conta, ativa no celular, acessada por um hacker. No mesmo dia em que ela arquivou as fotos, ele descobriu o número de telefone dela e mandou mensagens, solicitando dinheiro para não divulgar as imagens.
O crime foi registrado como extorsão na Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Bauru, na última quarta-feira, data do fato. O caso será investigado pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG).
Segundo especialistas, medidas simples adotadas ao usar aplicativos de hospedagens podem evitar que mais pessoas sejam vítimas (veja mais no quadro no final.
MEDO
Com medo de que mais conteúdos da filha pudessem ser acessados, a mãe da adolescente pediu para que ela apagasse tudo do celular, menos as mensagens que trocou com o suposto hacker, além de registrar boletim de ocorrência. "Foi uma surpresa quando eu cheguei do trabalho e ela me contou o que estava acontecendo", conta a mãe da garota, uma cuidadora de idosos de 52 anos.
As conversas pararam, no entanto, antes que o hacker informasse o quanto queria em troca dos arquivos. "A gente vê isso na TV e não imagina que pode acontecer em casa. Estamos todos em alerta, com medo, chocados. Até eu apaguei algumas coisas no meu celular", reforça a mãe da vítima.
INVESTIGAÇÕES
Em consulta, o delegado Cledson Nascimento, titular da DIG, descobriu que o número utilizado pelo hacker é da Pensilvânia, nos Estados Unidos. As conversas, no entanto, ocorreram em português claro, conforme mensagens mostradas pela vítima à reportagem.
"É um caso difícil, precisamos de outras informações, que não foram fornecidas oficialmente pela vítima, que será intimada nos próximos dias", resume Nascimento.
O delegado disse ainda que solicitará o assessoramento da delegacia de Crimes Eletrônicos do Departamento de Inteligência da Polícia Civil (Dipol) para elucidar o fato.
Se localizado, o hacker poderá responder pelo crime de extorsão, previsto pelo Código Penal, e por invasão de dispositivo informático, previsto pelo artigo 154-A da Lei Carolina Dieckmann.
Especialista alerta que atitudes do usuário são decisivas na segurança
"Existem 'N' formas de um hacker invadir um celular ou computador e descobrir suas senhas." O alerta é de José Antônio Milagre, advogado especialista em crimes virtuais. Ele aponta que a segurança dos equipamentos eletrônicos está estritamente ligada às atitudes do próprio usuário na rede.
"A invasão mais comum ocorre quando o hacker manda arquivos ou links infectados ao usuário, que acaba abrindo ou acessando. E, muitas vezes, as pessoas usam a mesma senha para o e-mail e outros aplicativos, o que vira prato cheio na mão dos invasores", explica.
NÚMERO MASCARADO
No caso citado em Bauru, o hacker pode ter facilmente mascarado seu número de telefone por meio de softwares de proxy, segundo Milagre.
"Ele pode ser brasileiro e ter um número de fora. Para descobrir o real paradeiro, a vítima precisará de uma ação judicial pedindo o fornecimento dos últimos IPs registrados pela empresa do aplicativo. Por lei, elas são obrigadas a guardarem os registros por seis meses", observa o especialista.
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Lei Carolina Dieckmann
A Lei 12.737 dispõe sobre a tipificação criminal de delitos informáticos. Batizada de Carolina Dieckmann, a legislação surgiu justamente após o vazamento de 36 fotos íntimas da atriz em 2012. O fato, que ganhou repercussão nacional, teve como cerne Bauru e região, uma vez que o acusado de chantagear a atriz era um adolescente da cidade.
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