| Fotos: Douglas Reis |
| A Sorri, que é responsável pelo gerenciamento de 11 equipes, completou 41 anos |
| Samira Pereira, Breno Maycon e Isadora dos Reis, que são atendidos pela entidade |
Eles vêm de todas as regiões da cidade, principalmente dos bairros Núcleo Geisel, Mary Dota, Santa Edwirges, José Regino e Pousada da Esperança 1 e 2, em busca de atendimento gratuito, de qualidade e ofertado principalmente à pessoa com deficiência. Atualmente, 70,7% dos pacientes atendidos pela Sorri são moradores de 315 bairros de Bauru.
Localizada no Núcleo Habitacional Presidente Geisel, a entidade foi fundada pelo pesquisador americano Thomas Ferran Frist, durante reunião entre amigos e empresários de Bauru, e completou 41 anos em setembro de 2017.
Foi a primeira instituição no Brasil a tratar sobre a reabilitação profissional da pessoa com deficiência, abrindo caminhos para a independência e emancipação delas.
"Começamos com 6 pacientes. E, aos 41 anos de história, somamos mais de 41 mil pessoas atendidas", ressalta a diretora executiva da Sorri Maria Elisabete Nardi.
O Presidente da entidade há décadas João Carlos de Almeida, o João Bidu, lembra, contudo, que os últimos três anos foram os mais difíceis da história. Diante dos impactos da crise econômica, a Sorri viu seu orçamento, a maior parte oriundo de convênios com o governo, diminuir.
No auge, a instituição chegou a abranger mais de 60 cidades. Atualmente, atende 18, além de Bauru. "Essa verba antiga do SUS acabou e fomos obrigados dispensar funcionários. Com isso, a fila de atendimentos aumentou, infelizmente", cita João Bidu.
Mas com a ajuda de empresas, da população e de clubes de serviços na cidade, a instituição tem dado a volta por cima e, inclusive, expandido alguns serviços.
Passou a ofertar, recentemente, por exemplo, cursos profissionalizantes para pessoas com e também sem deficiência, consideradas em situação de vulnerabilidade e risco.
A SORRI
O Centro Especializado em Reabilitação (CER) Sorri Bauru está organizado em quatro grandes setores: o Núcleo de Reabilitação, o Núcleo Integrado de Pesquisa Desenvolvimento, Fabricação e Dispensação de Tecnologia Assistivas e Produtos Especiais, o Núcleo de Apoio à Gestão e o Núcleo de Pesquisa Científica e Capacitação.
No CER, estão as equipes que cuidam da reabilitação de pessoas com deficiências físicas, intelectuais, auditivas e múltiplas. E também o ambulatório de tecnologia assistiva, que realiza a entrega de órteses, próteses, meios auxiliares de locomoção e outros equipamentos, produzidos, inclusive pela própria entidade (veja mais no quadro).
A porta de entrada para os atendimentos ocorre por meio de demandas dirigidas, oriundas das Secretarias Municipais de Saúde, da Secretaria Municipal de Educação de Bauru e da Secretaria Municipal do Bem-Estar Social (Sebes).
Os convênios firmados são com o Ministério da Saúde, Sistema Único de Saúde (SUS) e Sistema Único de Assistência Social (Suas).
PELA CIDADE...
A Sorri também é responsável pelo gerenciamento de 11 equipes, entre médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e dentistas, que atuam nas Unidades de Saúde da Família (USF) espalhadas por Bauru.
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Você sabia?
Em sua história, a entidade ajudou no desenvolvimento da Vila Santa Terezinha, um bairro cuja maioria de seus moradores tinham sequelas de hanseníase, localizado ao lado do Hospital Lauro de Souza Lima. E também incentivou a criação de várias entidades, como o Movimento pelos Direitos das Pessoas com Hanseníase, que hoje tem mais de 50 núcleos em todo o país, o Movimento pelos Direitos das Pessoas Deficientes e a Coalização Nacional das Entidades de Pessoas Deficientes.
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Sorri abraça usuários de toda a região
Entidade atendeu 4,3 mil pacientes em 2017: 3.043 usuários de Bauru e demais de municípios vizinhos que vêm em busca de assistência
| Fotos: Douglas Reis |
| A fonoaudióloga Carla Curiel e a terapeuta ocupacional Taísa Romine durante sessão de comunicação alternativa com a pequena Samira Galo, que teve evolução em seu quadro |
| Samira Cristina Pereira tira moldes para sua órtese com o fisioterapeuta Renato Colognés, ao fundo a mãe dela, Leni Silvai; equipamento ajudará a corrigir o caminhar na ponta dos pés |
| Isadora de Cássia dos Reis, 9 anos, passou a frequentar a Sorri no ano passado, depois que foi diagnosticada com surdez de graus leve e moderado |
| André Luiz Ferreira da Silva passa por atendimento para ajustes em sua palmilha especial com o fisiatra Márcio Batista e sua mãe Fernanda Alves Ferreira da Silva |
| Diagnosticado com paralisia cerebral, Breno Maicon Teixeira aprendeu a falar suas primeiras palavras na Sorri; na foto, ele com a fisioterapeuta da Sorri Tatiana Lopes de Castro |
Moradora do Núcleo José Regino há cerca de uma década, a família de André Luiz da Ferrari da Silva, 12 anos, firmou raízes no bairro, o qual não espera deixar tão cedo. O motivo tem nome e endereço na vizinhança: a Sorri. A menos de cinco minutos da casa dos Ferrari Silva, a instituição é o braço direito na vida e formação de André, que frequenta o local desde o primeiro ano de vida, após ser diagnosticado com a Síndrome de Proteus, que causa, entre outros problemas, o crescimento exagerado e patológico da pele, com tumores subcutâneos.
"Ele perdeu metade do pé por causa do problema e usa palmilhas especiais para ajudar no equilíbrio. Também faz fono, passa por psicólogos e terapeutas ocupacionais uma vez na semana. Nunca mudamos de bairro por causa da Sorri", ressalta a manicure Fernanda Alves da Silva, 36 anos, mãe de André.
Assim como ele, outras centenas de crianças e adolescentes, além de adultos e idosos frequentam semanalmente os atendimentos oferecidos pela instituição. Em 2017, 4,3 mil pacientes foram atendidos em um total de 166 mil consultas.
Deste total, 3.043 eram moradores de Bauru e o restante formado por pessoas de municípios vizinhos, que buscam na Sorri a oportunidade de superar os obstáculos impostos por algumas patologias.
IMPORTÂNCIA
O sorriso estampado no rosto da pequena Samira Cristina Pereira, de 3 anos, resume a importância do serviço e a ansiedade dela pelo que está por vir. Nos próximos 20 dias, Samira ganhará uma órtese para corrigir um equinismo idiopático, que causa o caminhar por meio da ponta dos pés.
"Com a prótese, ela terá uma vida melhor. Tínhamos medo de ela ter algum problema mais grave por causa do encurtamento do tendão que o andar dessa forma causa", comenta a mãe dela, a do lar Leni de Fátima da Silva, de 36 anos.
APRENDENDO A FALAR
Breno Maicon Teixeira, de 5 anos, mora um pouco mais longe da Sorri, em Guaianás, distrito de Pederneiras, mas foi no Núcleo Geisel, em Bauru, que ele aprendeu a falar suas primeiras palavras, depois que começou a frequentar a fisioterapia e terapia ocupacional da entidade.
"A paralisia cerebral foi causada por falta de oxigenação no parto. Depois da Sorri, ele aprendeu a pegar as coisas e já começou a arranhar algumas palavras", cita a do lar Greicelei Teixeira, de 32 anos, mãe de Breno.
VOLTANDO A OUVIR
De volta a Bauru, a moradora do Santa Luzia, Isadora de Cássia dos Reis, de 9 anos, passou a frequentar a Sorri no ano passado, depois que foi diagnosticada com surdez de graus leve e moderado. "Ela tinha dificuldade no aprendizado, ficava nervosa porque não ouvia direito o que as pessoas falavam e trocava algumas letras", comenta a mãe dela, a do lar Edna Maria dos Reis, 43 anos. "O diagnóstico não apontou a causa, o médico chegou a cogitar que poderia ter acontecido por causa de uma infecção que ela teve no ouvido", completa.
De três em três meses, a garota tem frequentado o setor de audiologia e, agora, aguarda o recebimento de um aparelho com o chamado Sistema FM, que possui uma lapela acoplada e permitirá, por exemplo, que ela identifique melhor a fala do professor dentro da sala de aula.
Aposentando a bengala após o AVC
| Douglas Reis |
| Terezinha Yamauti, Henrique Santos Junior e Larisa Ferrari |
Mas não são só crianças e adolescentes que a Sorri atende. O público adulto e idoso representa, atualmente, quase metade do quadro de pacientes assistidos.
Mecânico de refrigeração e morador do Centro de Bauru, Henrique Santos Júnior viu sua vida se transformar do dia para a noite ao sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em agosto deste ano. Aos 65 anos, ele perdeu a movimentação do lado esquerdo do corpo em virtude do ataque, mas, aos poucos, tem conseguido se reabilitar com a ajuda da Sorri.
Toda semana, ele e a sua esposa Terezinha Yamauti, de 63 anos, passam algumas horas na instituição. "Já consigo ficar em pé e andar sem a ajuda de bengalas", comemora o Henrique.
Dias melhores
Também de Bauru, o assistente de hortifruti Márcio Augusto Ferrari, 40 anos, morador do Pousada da Esperança, frequenta, há um ano, o tratamento da Sorri com a filha Samira Galo Ferrari, de 7 anos, na expectativa de trazer evolução clínica e dias melhores para a garota. Samira foi diagnosticada com paralisia cerebral grave ao nascer e participa de uma série de atividades na instituição, entre elas sessões de fonoaudiologia e comunicação alternativa por meio de imagens.
"Ela não conseguia controlar a mastigação e, agora, consegue. Ela também tem deixado colocá-la em pé, o que era quase impossível antes" afirma o pai.
Não deficientes também têm várias oportunidades na Sorri
Entidade oferece cursos profissionalizantes voltados para pessoas com deficiência e também para pessoas sem deficiência em situação de risco e vulnerabilidade social
| Fotos: Marcele Tonelli |
| A Oficina de Beleza está entre os cursos oferecidos pela Sorri tanto aos usuários com deficiência quanto aos moradores em situação de vulnerabilidade encaminhados pelos Cras |
| Patrícia Leal é aluna dos cursos de costura e beleza da Sorri e já começou a ganhar trocados com bicos |
Referência no atendimento às pessoas com deficiência, a Sorri também representa oportunidade aos moradores da cidade não deficientes, mas considerados em situação de risco ou vulnerabilidade social. É que a unidade oferece cursos profissionalizantes gratuitos em parceria com a Sebes.
Neste ano, 150 pessoas se formaram nas atividades oferecidas. Entre elas, estão alunos que chegaram à unidade por meios dos Centros de Referência em Assistencial Social (Cras), única porta de entrada para conquistar a vaga.
Auxiliar de escritório, empacotador e repositor, culinária, costura, informática e oficina de beleza são as modalidades de cursos ofertadas, tanto aos pacientes usuários da Sorri, quanto aos moradores encaminhados pelos Cras.
Após ficar quase dois anos desempregada, a moradora do Núcleo Geisel, Patrícia Leal, de 27 anos, abraçou a oportunidade oferecida pelo Cras. Ela iniciou curso de costura e de oficina de beleza na Sorri e pretende trabalhar em casa.
"Sempre quis fazer algo do tipo, que me desse mais flexibilidade de horário para cuidar da minha filha, que tem 2 aninhos. Hoje, já faço alguns bicos como maquiadora e costureira em casa", comenta a aluna.
INSERÇÃO SOCIAL
O projeto Oficina de Beleza possui carga horária de 180 horas. São ministradas aulas teóricas e práticas, além de orientações para o desenvolvimento pessoal e gerencial, comportamento, habilidades sociais e outros conceitos necessários ao mundo do trabalho.
O módulo do curso chamado "Pós-colocação" prevê o acompanhamento dos novos trabalhadores por 90 dias no desempenho da função.
SERVIÇO
A Sorri Bauru fica na avenida Nações Unidas, 53-40, Núcleo Presidente Geisel, Bauru. Telefone (14) 4009-1000.
Produção com ‘know how’ de casa
| Fotos: Douglas Reis |
| Estesiômetro |
| Vagner Mitsugue Amano na produção do estesiômetro, que é comercializado em todo o País |
| A fisioterapeuta Juliana Antonucci mostra o andador reverso, patenteado pela Sorri, e que concede maior segurança aos portadores de doenças que afetam o equilíbrio |
Além das verbas oriundas de convênios e doações, a Sorri também arrecada fundos para manter suas atividades por meio da fabricação de produtos de tecnologia assistiva com "Know how" (modo de fazer) próprio.
A cadeira de rodas "Torbelino" foi o primeiro da lista, em 1985. "O esqueleto da cadeira é comprado, mas toda a adaptação ao pacientes é feita sob medida por nós", cita a diretora executiva Maria Elisabete Nardi.
Seis anos mais tarde, veio o estesiômetro, um kit de monofilamentos calibrados para o teste de sensibilidade da pele. "A Sorri é a principal fabricante desse produto no País", salienta João Bidu.
O Kit é composto por um conjunto de sete monofilamentos de variadas espessuras, que permitem verificar o nível de sensibilidade de nervos periféricos, possibilitando a verificação de danos físicos irreversíveis em casos de neuropatias diabética, hansênica, tóxica e alcoólica, além da evolução de comprometimentos neurais.
O andador reverso também é um produto patenteado pela Sorri. Sua estrutura permite maior segurança aos portadores de doenças que afetam o equilíbrio.
Habilitada desde 2013 pelo Ministério da Saúde, a oficina ortopédica da Sorri dispensa, via SUS ou particular, órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção.
Ajude a manter
Atualmente, 30% da receita da Sorri depende de doação de empresas e pessoas físicas. "Na época do Natal, as despesas aumentam, principalmente com a folha de pagamento", lembra a diretora executiva da entidade Maria Elisabete Nardi.
Por meio do site da instituição, o https://www.sorribauru.com.br é possível realizar a doação em dinheiro, por meio do sistema PagSeguro. A entidade publica relatório anual dos gastos e demonstrativos fiscais e contábeis.
"Sem o apoio da comunidade e das empresas e clubes de serviços, que nos ajudam com arrecadação em eventos, não conseguiríamos mais sobreviver", ressalta João Bidu, presidente da Sorri.