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| Leonardo Ariel Santos perdeu o para-choque de seu carro em uma valeta próximo à avenida Getúlio Vargas |
Em uma breve passada por algumas ruas de Bauru, com o olhar mais aguçado para elas, logo se percebe que estão em todo o lugar. Algumas são quase imperceptíveis, outras pedem que o motorista reduza apenas um pouco a velocidade, mas ainda existem as que mais parecem "obstáculos" em meio ao tráfego.
Com a função de escoar as águas da chuva, algumas canaletas espalhadas pela cidade tornaram-se valetas profundas que acabam por causar danos aos veículos dos munícipes. A Secretaria Municipal de Obras, contudo, não apresenta, de imediato, um plano ou recursos para a solução do problema.
Conforme o JC vem noticiando desde 2011, são diversos os pontos em que a passagem de carros e motos é afetada por valetas como essas. O secretário municipal de Obras, Ricardo Olivatto, não consegue estimar a quantidade e nem os principais pontos deficitários. "Não temos esse levantamento, em números, porque quando a canaleta é executada, não fica em nenhum registro na secretaria. Não posso dizer quantas existem na cidade nem as mais problemáticas e profundas, pois não foi realizado nenhum estudo em relação a isso, mas sabemos que eles existem. Por não receber tratamento específico, a canaleta vai se tornando uma valeta", afirma.
Os cruzamentos como os da rua Antônio Alves com rua Manoel Bento Cruz; rua Hermínio Pinto com a rua Constituição; pontos da avenida Nossa Senhora de Fátima; rua Belém com a Benjamin Constant e trechos da avenida Orlando Ranieri são alguns exemplos dessas "emboscadas" para os motoristas.
PREJUÍZO
| Malavolta Jr. |
| Na valeta do cruzamento entre as ruas Quintino Bocaiuva e Joaquim de Souza, Guilherme Soares danificou seu carro |
E como já dizia o ditado "tanto bate até que fura". Foi assim, literalmente, que Guilherme Soares, de 21 anos, percebeu que as valetas profundas estavam acabando com o seu carro. "De tanto bater, um dia a suspensão do meu carro estragou, bem antes do tempo que seria aceitável", comenta o estudante que teve o carro danificado no cruzamento das ruas Quintino Bocaiúva com Joaquim de Souza, no Jardim Estoril.
Mesmo com cautela, as pancadas também ocorriam com mais frequência nas ruas Monsenhor Claro e Anvar Dabus, trechos que fazem parte do caminho diário de Guilherme. "Mudar a rota não dá, mas tento passar com o carro de lado e quase parando", lamenta.
Com o problema apresentado na suspensão, o rapaz gastou cerca de mil reais e redobrou a atenção com as valetas, sobretudo, por conta do modelo de seu veículo. "Agora tenho que tomar ainda mais cuidado porque senão vai quebrar de novo. Ainda mais o Celta que não tem a suspensão de uma caminhonete, por exemplo", conclui.
MUDANÇA DE ROTA
Morador do Parque Granja Cecília, Leonardo Ariel Santos, de 23 anos, costuma preferir caminhos que não tenham grandes valetas. Mesmo assim, segundo ele, esse encontro se torna inevitável e também foi a causa de danos ao carro do rapaz.
"Eu já perdi o para-choque em uma valeta em uma rua próxima da Getúlio Vargas. Foi um prejuízo grande que tive. Não me lembro quanto gastei na época, mas, mesmo passando com cuidado, aconteceu", comenta o estudante.
Segundo ele, as alternativas que escolheu para não sofrer com prejuízos no automóvel é diminuir bem a velocidade e evitar passar por esses locais. "Aprendi com o meu pai, que também faz muito isso. Sempre desviamos de ruas que sabemos que tem muitas valetas para evitar esses problemas com o carro. Naquela rua, em específico, nunca mais passei."
PROBLEMA DO PASSADO
Todo bauruense já deve ter se deparado com pelo menos um exemplo de valetas que fazem com que os motoristas reduzam a velocidade a quase zero para evitar danos aos seus veículos. O ano vai chegando ao fim e segue sem a solução para esse impasse.
O secretário de Obras, Ricardo Olivatto, assume que a situação das valetas causam transtornos na cidade e aponta que o desnível que transformou canaletas de drenagem em depressões nos cruzamentos de algumas ruas, deve-se à falta de planejamento do passado.
| Aceituno Jr. |
| Ricardo Olivatto explica que falta de recursos e mão de obra do município são os principais impeditivos para a correção do problema |
"As valetas profundas um dia já foram uma canaleta normal, mas com o passar das gestões, a preocupação foi apenas em relação ao recapeamento e a canaleta foi ficando para trás. Esse erro só acontece porque em um determinado momento do passado, havia um custo mais alto para implantação da galeria de drenagem. E não havia, possivelmente, verba para implantar esse artifício. Consequentemente, hoje, o que nós colhemos é resultado problemático disso", comenta.
De acordo com o secretário, o trecho da rua 13 de maio com a avenida Duque de Caxias é um exemplo de cruzamento em que faltou a concordância entre o asfalto novo e o asfalto velho. "Isso ocorre também por uma preocupação em não obstruir a passagem da água", diz. Já o cruzamento das ruas Xingu e Capitão João Antônio apresenta um dos exemplos de canaleta nivelada com a função de escoamento, sem causar danos.
Olivatto ainda explica que a falta de recursos e mão de obra do município são os principais empecilhos para a realização de correções nesses trechos da cidade. "Seria viável ao município fazer a implantação de canaletas com grelhas metálicas ou até outros recursos que já são disponíveis no mercado, mas, infelizmente, é uma questão de custo. Como ainda não temos uma ideia de liberação de verba para executar esse tipo de serviço, é difícil afirmar que essas ações serão tomadas", afirma. "Recomendamos que as pessoas façam suas solicitações pelo telefone (14) 32351111 ou pelo Poupatempo, para que nós possamos avaliar as situações especificamente, caso a caso", destaca.
TEM SOLUÇÃO?
O titular da pasta ainda explica que a saída ideal para esses declínios acentuados nos cruzamentos, seria a criação de galerias de drenagens nas ruas, mas destaca que, para isso, seria necessário uma grande e custosa intervenção.
"Para implantar essas galerias, o custo se eleva de uma forma absurda, porque ao invés de simplesmente instalar o tubo de drenagem para fazer a captação dessa água, neste momento, necessariamente, nós teríamos que remover o asfalto e as tubulações de água e esgoto que existem nessas ruas, para daí então implantar uma galeria. Mas como não temos o levantamento de quantas são as canaletas, não temos como saber qual, exatamente, seria esse custo", comenta o secretário.
Segundo Olivatto, seria viável ao município fazer a implantação de canaletas com grelhas metálicas ou até outros recursos que já são disponíveis no mercado, mas o custo, volta a ser o impeditivo. "Hoje, a equipe da Secretaria de Obras se mostra insuficiente para fazer essa intervenção da forma como é necessária, devido a outras prioridades que existem no município. Então, é algo que pensamos para os próximos anos, mas que ainda não há uma data definida no momento", comenta.
NO MEIO DO CAMINHO
Por alguns bairros de Bauru é possível notar que quem passa por essas valetas todos os dias, em decorrência do local onde trabalham ou de onde moram, coleciona histórias sobre os infortúnios de alguns motoristas que encontram com as valetas profundas espalhadas pela cidade. Até uma ação judicial já foi movida contra o município, visando acelerar o processo de correção desses trechos (leia mais abaixo).
Proprietário de um auto center na avenida Nuno de Assis, Cléverson Riguetti, 38 anos, recebe muitos desses motoristas após esses "encontros". "Os principais problemas estão relacionados ao protetor de cárter e ao para-choque. Aqui, 60% dos clientes que atendemos apresentam problemas no carro por conta de valetas e buracos. Por isso a importância das pessoas instalarem o protetor de cárter para evitar danos maiores como perda de peças e vazamento de óleo. Além dos problemas na suspensão do veículo", comenta.
No infográfico abaixo, o JC apresenta exemplos de pontos críticos e os relatos de quem vive ao lado.