18 de dezembro de 2025
Geral

Caligrafia ganha novo fôlego

Ana Beatriz Garcia
| Tempo de leitura: 3 min

Malavolta Jr.

Quando foi a última vez que você escreveu uma carta à mão? Em um cenário em que usar teclados e toutchscreen se tornou tarefa ordinária, escrever utilizando lápis ou caneta está ganhando espaço como um trabalho manual.

Em cursos ou canais na internet, a escrita à mão se populariza com os nomes de caligrafia e, mais recentemente, lettering. O conceito principal é o mesmo, de desenhar letras. A diferença é que a caligrafia tem por base regras tipográficas, enquanto o lettering – que vem se destacando, inclusive, em Bauru e região – é feito no improviso e mistura as mais variadas técnicas (como combinar letra cursiva e de forma em uma mesma frase, por exemplo).

Malavolta Jr.                                                                     Ana Beatriz Garcia
Danielle Greghi, 37 anos, se tornou calígrafa há seis anos e aos 84 anos, Jorge Nadim continua atendimentos a todo vapor

Quem se rendeu à beleza das formas das letras foi Danielle Greghi, de 37 anos, professora que se tornou calígrafa há seis anos. “Comecei a fazer curso como um hobby, porque sempre gostei de artes. Mas a demanda era muito alta e acabou virando, também, o meu trabalho. De todas as coisas que faço, o pedido que lidera são os dos nomes dos convidados nos convites de casamento”, comenta.

Assim como qualquer outra atividade manual, Danielle ainda revela que a caligrafia é um exercício de arte e paciência. “Acaba sendo uma terapia também. Uma coisa só minha, um tempo meu. É bem prazeroso sentar e ficar ali escrevendo. Mas é um trabalho bastante delicado que precisa de calma e atenção”, frisa.

A delicadeza é percebida já no material utilizado para a escrita: pena com ponta de metal. Assim como o objeto incomum, a arte também gera curiosidade e, de acordo com Daniella, busca pelo aprendizado. “Algumas pessoas já entraram em contato comigo para que eu desse aulas, não só de caligrafia, mas de lettering – que está em alta. Só que, além de não ter essa intenção, eu ainda não tenho disponibilidade de tempo”, diz Danielle que fez cursos em São Paulo.

ARTE PERSISTENTE

Apaixonado pela arte da caligrafia desde os 15, aos 84 anos, Jorge Iossef Nadim, um dos calígrafos mais conceituados da região de Bauru afirma que seu trabalho está a todo vapor. “A procura ainda é grande, mas consigo atender. Escrevo em média 100 convites, em apenas um dia, se necessário”, revela.

A dedicação pela profissão ainda fez com que ele criasse uma técnica de caligrafia para ensinar as pessoas que se interessam pelo assunto. “Tenho bastante procura e gravei um DVD em que ensino o meu método de caligrafia. Ele consiste em traços básicos e a associação deles, em cada um dos estilos variados. As canetas e lápis também são específicas”, comenta.

E mesmo quando não está em serviço, o passatempo escolhido por Jorge ainda é escrever e cuidar da boa escrita das geração mais nova de sua família. “Sempre que posso, ensino o meu bisneto a melhorar a letra cursiva”, conclui.

ATÉ PARA HUMANIZAR

O professor de Sociologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rogério Baptistini observa que as pessoas "estão buscando desenhar letras como se estivessem fazendo uma atividade manual, artesanal". "Talvez essa busca de frases que têm sentido, que chegam a ser de autoajuda, até demonstre uma tentativa de buscar novos significados, como se nós, humanos, estivéssemos tentando humanizar um mundo cada vez mais desumanizado", arrisca o docente.

Para o professor de Linguística da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Marcelo Buzato, a escrita é uma prática sociocultural, que permanece, embora esteja em constante transformação. "Nos anos 1920, 1930, não se deixava crianças pegarem em lápis, porque eram afiados, os pais tinham medo. Hoje, muitas das funções da escrita que estavam amarradas à escrita cursiva perderam valor, estão sendo substituídas. Ao mesmo tempo, as pessoas se apropriam da escrita com outras funções", analisa.