| Samantha Ciuffa |
| Flávio Jun Kitazume é defensor do policiamento comunitário |
Flávio e pai, para a família. Tenente-coronel e comandante, para os colegas da polícia e da imprensa. Nascido em Jales, no Interior de São Paulo, o sempre solícito Flávio Jun Kitazume chefiou, nos últimos quatro anos, o 4.º Batalhão de Polícia Militar do Interior (4.º BPM-I) - formado por 850 homens, distribuídos em 19 municípios.
Adepto à filosofia do policiamento comunitário, ele, agora na reserva, se dedica exclusivamente à comunidade. Atualmente, Kitazume é presidente da Creche Sementinhas, situada na quadra 2 da rua Maria Rosa, na região da Vila Independência, e diácono da Igreja Aliança Cristã e Missionária, ambas em Bauru.
De origem humilde, Kitazume sente orgulho de onde veio e do que aprendeu. "Certa vez, uma forte geada atingiu a cidade e, como minha família dependia da agricultura, não havia condições nem de comprar comida. Aproveitava-se tudo o que era plantado, desde a folha até o talo. Mesmo assim, permanecemos unidos. Com isso, aprendi a zelar pelos outros e acreditava que a carreira militar atenderia esse anseio", complementa.
Abaixo, o tenente-coronel conta boa parte de sua história:
Jornal da Cidade - O senhor nasceu em Jales. Como veio parar em Bauru?
Flávio Jun Kitazume - O meu pai, Yasushi Kitazume, veio do Japão ao Brasil, sem sequer falar português. Primeiro, ele tentou a vida na Capital Paulista e, em seguida, passou pelo Interior do Paraná e de São Paulo, onde encontrou a minha mãe, Setsuko Kitazume, com quem se casou. Eu nasci em Jales. De lá, a minha família se mudou para Suzano. Dois anos depois, fomos para Jacareí e, em dezembro de 1972, chegamos a Bauru, especificamente, entre o Núcleo Octávio Rasi e o Jardim Redentor, onde o meu pai montou a chamada Chácara das Rosas. Todo o sustento da família vinha da venda das flores.
JC - Então, a sua infância foi bastante humilde?
Flávio - Já moramos em casas bem precárias, mas o meu pai nunca deixou de incentivar os filhos a estudar. Em Bauru, já passei pelas escolas Vera Campagnani, Ana Rosa Zuicker Dannunziata, Joaquim de Michelli, La Salle, Luiz Zuiani e Preve Objetivo. Em seguida, fui para a Academia de Polícia Militar do Barro Branco.
JC - E por que escolheu a carreira militar?
| Arquivo Pessoal |
| Owen, Kátia, Zeni, Isabela, Júlia, Setsuko, Ayumi, Taís, Yasushi, Ana Clara, Flávio, Esther, Dylan, Raquel Diniz, Samuel, Raquel Akemi e Marcelo, em 2013, durante uma confraternização de final de ano |
Flávio - Eu me inspirei nos exemplos da minha família e do missionário americano Ken Kunishiro, que atuava na antiga Igreja Evangélica Hosana, em Bauru. Nos EUA, ele era militar e contava muitas histórias. O meu pai também falava sobre as mazelas do Japão no pós-guerra. Certa vez, uma forte geada atingiu Bauru e, como minha família dependia da agricultura, não havia condições nem de comprar comida. Aproveitava-se tudo o que era plantado, desde a folha até o talo. Mesmo assim, permanecemos unidos. Com isso, aprendi a zelar pelos outros e acreditava que a carreira militar atenderia esse anseio.
JC - Como foi a sua trajetória enquanto policial?
Flávio - Eu comecei a adaptação do curso do Barro Branco no dia 20 de janeiro de 1986. Foi um choque, porque não estava acostumado a viver em São Paulo. Porém, tive o apoio da família da minha mãe, que morava na Capital. Após três anos, me tornei aspirante e fiz estágio no 7.º Batalhão da Polícia Militar (7.º BPM), na região central de São Paulo. Alguns meses depois, passei a atuar no Regimento de Polícia Montada, também no Centro da Capital. Em 1994, já como tenente, pedi transferência a Bauru, onde fui comandante da Força Patrulha e do Tático 4. Além disso, fui designado responsável pela Base de Polícia Comunitária Sudeste, na região do Jardim Redentor, na época de sua criação. Lá, aprendi bastante, não só a liderar os 50 policiais que a compunham, mas, também, a conversar com a comunidade. Em 2003, fui promovido a capitão e trabalhei quatro meses como comandante da 1.ª Companhia, de Lins. Depois, assumi a 3.ª Companhia, de Bauru. Após três anos, me mudei para Pederneiras e liderei a 6.ª Companhia. De volta a Bauru, atuei na Força Tática e, em 2008, fui nomeado major. Já ocupei os cargos de coordenador operacional e subcomandante do 4.º BPM-I. Em 2014, enquanto tenente-coronel, me tornei comandante do mesmo batalhão.
JC - O senhor defende o policiamento comunitário. Quais são as vantagens dessa filosofia?
Flávio - A ideia é discutir, enxergar e preparar os militares para conversar com a comunidade nas casas, no comércio, nos parques e nas ruas. Essa filosofia veio do Japão, um país de pouca extensão territorial, fato que exigia dos policiais menos patrulhamento e mais contato com a população. Por exemplo, se houver forte incidência de furto em determinada região da cidade, temos de estudar como acontece e traçar estratégias para coibir o crime. O policiamento comunitário me instruiu a não me preocupar só com os indicadores de criminalidade, mas, também, a dar uma resposta imediata às pessoas. Além disso, os meus pais me ensinaram a trabalhar em equipe, na época em que a família toda ajudava na plantação de rosas. Logo, enquanto policial, procurei fortalecer os laços profissionais com os meus colegas, o poder público, a iniciativa privada e a comunidade propriamente dita.
JC - Levando em consideração essa filosofia mais humana, qual é a sua opinião sobre a situação do Rio de Janeiro?
Flávio - As forças policiais do Rio estão desamparadas, porque ninguém para ouvir as suas necessidades. O Rio paga um dos piores salários para os policiais e está na hora de avaliar se isso é suficiente para garantir a segurança pública. Outro ponto: a filosofia do policiamento comunitário também pode ser aderida nesse caso. Qual é a condição geográfica e social do Estado que obriga as pessoas a morarem nos morros? Por que acontece esse fluxo? O que as pessoas buscam? Acredito que a situação do Rio de Janeiro vá além da alçada policial, ou melhor, decorre da má distribuição de renda.
JC - Por fim, qual é a mensagem que o senhor deixa aos colegas, à imprensa e, claro, à comunidade?
Flávio - A minha mensagem é de agradecimento. Tudo o que eu tenho devo à PM, que permitiu que estudasse e progredisse. Essa parceria com a comunidade fez com que melhorássemos os índices de segurança de toda a região de Bauru. Sou grato, ainda, aos oficiais e aos praças, pelo comprometimento, bem como pela dedicação. Desejo que sejam tão felizes quanto eu fui a frente do batalhão. Além disso, eu permaneço à disposição de todos.
Perfil
Nome: Flávio Jun Kitazume
Idade: 52 anos
Pais: Yasushi Kitazume (falecido) e Setsuko Kitazume, de 88 anos
Irmãos: Mauro Kitazume, de 50 anos, Júlia Kitazume, de 48, Kátia Kitazume, de 46, e Paulo Kitazume, de 44
Esposa: Zeni Okuno Kitazume, de 54 anos
Filhos: Samuel Kitazume, de 27 anos, Raquel Kitazume, de 25, e Esther Kitazume, de 20
Time: Palmeiras
Filme: Todos aqueles que sejam de aventura
Livro: Prefiro as biografias
Signo: Sagitário
Contato: flavio.kitazume@gmail.com