15 de dezembro de 2025
ENTREVISTA

Mayhara Francini da Silva: bloqueios vencidos e saltos para vitórias

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Fernando Vieira Sá
Mayhara, central do Sesi Vôlei Bauru

Da adolescente que chegou a pensar que não teria sucesso no voleibol até se tornar um dos principais destaques do Sesi Vôlei Bauru, Mayhara Francini da Silva teve de superar alguns bloqueios e descobrir que, com dedicação e persistência, poderia chegar longe. Do alto de seu 1,83 metro de altura e 33 anos, a central da equipe bauruense deu muitos saltos na vida e, hoje, acumula 15 títulos, entre campeonatos estaduais, Copa Brasil, Supercopa, Sul-americano de Clubes e Superliga.

 

Filha da cabeleireira Sandra e do agente penitenciário aposentado Jorge, a jogadora nasceu em Bauru e passou a infância no Núcleo Mary Dota. Nas aulas de educação física da escola, surgiu o interesse pelo vôlei, mas, por se julgar pouco habilidosa na época, ela considerou abandonar o esporte.

 

A paixão pela bola, contudo, falou mais alto e, depois de ser aprovada em uma peneira da Luso/Iesb, como o Vôlei Bauru era denominado, não parou mais, chegando, inclusive, a atuar pela Seleção Brasileira, em 2015, sob o comando do técnico José Roberto Guimarães. Depois de passar por diversos clubes e se tornar atleta do Exército, retornou a Bauru e, no último domingo (16), ajudou a equipe a conquistar o bicampeonato paulista.

 

Companheira de Thalita e 'mãe' do cão Duck e do gato Vida, Mayhara conta, nesta entrevista, um pouco de sua trajetória, das dificuldades enfrentadas e dos planos para o futuro. Leia, abaixo, os principais trechos.

 

JC - Como despertou seu interesse pelo vôlei?

 

Mayhara - Eu morava no Mary Dota e estudava na escola estadual Ada Cariani Avalone. Adorava as aulas de educação física e me interessei pelo vôlei. Eu tinha uns 13 anos e, na época, possuía pouca habilidade, mas já era a menina mais alta da sala. Meu pai até chegou a perguntar se eu queria ser modelo, mas era extremamente tímida. Nem cogitei a possibilidade. Aí falei que gostava de vôlei e ele me colocou na escolinha do BAC (Bauru Atlético Clube).

 

JC - E como desenvolveu sua habilidade para jogar vôlei?

 

Mayhara - Quando cheguei ao BAC, ainda era muito tímida, tinha dificuldade para fazer amizades. As meninas já estavam jogando em um estágio mais avançado e eu era bem ruinzinha. Fiquei meio decepcionada, achando que vôlei não seria para mim. Não tinha noção de que poderia evoluir e acabei saindo de lá.

 

JC - Nesse meio tempo, cogitou seguir outra carreira?

 

Mayhara - Considerei a possibilidade de cursar veterinária, porque amo animais. Mas, ao mesmo tempo, ainda queria jogar vôlei. Um dia, vi no mural da escola Christino Cabral, onde eu fazia curso de espanhol, que haveria uma peneira de vôlei no clube da Luso. Eu tinha uns 15 anos e passei, basicamente, pela altura, porque não era habilidosa. Mas acho que viram que eu tinha potencial e, de fato, evolui muito rápido, porque treinava todos os dias, disputava campeonatos. Era outra estrutura.

 

JC - E como foi sua evolução para o vôlei de alto rendimento?

 

Mayhara - A gente viajava para disputar campeonatos em outras cidades e era vista por técnicos de outras equipes. Com 17 anos, saí de Bauru para jogar em São José dos Campos. Minha mãe me acompanhou no primeiro dia e, depois, fiquei morando em uma república com outras meninas. Apesar de eu ser jovem, foi uma mudança tranquila, porque estava muito empolgada. Comecei a descobrir que poderia ter uma carreira profissional no voleibol, viver do esporte.

 

JC - E qual foi seu diferencial para esta evolução tão rápida?

 

Mayhara - Eu olhava as meninas que treinavam bem e falava: 'quero ser igual a elas'. Também assistia à seleção brasileira na TV e sonhava estar naquele lugar. Isso me incentivou, junto com o apoio do meu técnico. Então, depois de sair de São José dos Campos, passei pelo Mackenzie de Belo Horizonte, Araraquara, Rio do Sul (SC), Osasco, Praia Clube de Uberlândia e Rio de Janeiro, até retornar para Bauru, em 2019.

 

JC - Voltar para Bauru era algo que você desejava, para ficar mais perto da família?

 

Mayhara - Eu já estava há 14 anos fora e queria muito voltar. Meu irmão, Ronner, tinha tido uma filha, a Rayssa, e queria ficar mais próxima. Eu sempre mantive contato com a equipe de Bauru e, no momento em que ela passou a contar com investimento, boa estrutura, já jogando na Superliga, senti que era a hora de retornar. Quando estava fora, conseguia ver minha família uma, duas vezes ao ano. Agora, vejo toda semana.

 

JC - Como foi sua experiência na Seleção Brasileira?

 

Mayhara - Participei do Grand Prix de 2015, na mesma época em que estavam ocorrendo os Jogos Pan-Americanos. Então, houve a convocação de um número maior de atletas. Conquistamos a medalha de bronze neste Grand Prix, nos Estados Unidos, onde as finais foram disputadas. Foi a realização de um sonho, minha maior experiência dentro do vôlei.

 

JC - Você conheceu muitos países em razão dos torneiros que disputou?

 

Mayhara - Acredito que mais de dez, entre eles Estados Unidos, Tailândia, Bolívia, Peru, China, Itália, Canadá e Rússia, sempre para jogar vôlei.

 

JC - Como se tornou atleta do Exército Brasileiro?

 

Mayhara - Sou terceiro-sargento no Programa Atletas de Alto Rendimento (Paar), criado pelo Exército justamente para atrair atletas de alto rendimento para participarem de campeonatos mundiais e Olimpíadas militares. O Exército abre editais para montar suas seleções. Eu me inscrevi para o voleibol e passei. Recebo salário de sargento, mas é preciso estar jogando em um clube. Quando sou convocada, viajo para disputar os campeonatos militares.

 

JC - Você está com 33 anos e imagino que, como atleta de alto rendimento, esteja projetando a aposentadoria para daqui a alguns anos. Já sabe o que irá fazer depois?

 

Mayhara - Não sei exatamente. Penso na possibilidade de continuar trabalhando com voleibol, mas ainda não é algo certo para mim, assim como o lugar onde vou morar. Penso em ficar em uma cidade tranquila, como Bauru ou Uberlândia.

O QUE DIZ A ATLETA

"Eu era bem ruinzinha. Fiquei meio decepcionada, achando que vôlei não seria para mim"

 

"Assistia à seleção brasileira na TV e sonhava estar naquele lugar. Isso me incentivou"

 

"Pela Seleção, participei do Grand Prix de 2015, em que conquistamos a medalha de bronze. Foi a realização de um sonho"