| Fotos: Marcele Tonelli |
| O engenheiro da Defesa Civil, Julio Cesar Natividade, e o coordenador do órgão, Thiago Azambuja |
| Foi por conta do um muro de arrimo malfeito de um vizinho que Rosemeire Venâncio, 46 anos, teve que passar três anos fora de sua casa |
Ignorado em muitas construções, o muro de arrimo tem sido uma das principais causas de interdição de imóveis em Bauru. Dados da Defesa Civil da cidade apontam que 2018 registrou 48 interdições de imóveis e, deste total, 38 ocorreram por causa da condição estrutural dos imóveis, sendo a maioria dos problemas causados por muros de arrimo malfeitos. Outras oito interdições decorreram de incêndios, e duas por famílias que ocupavam áreas de risco.
Neste início de 2019 já são sete imóveis interditados na cidade e todos por causa de condições estruturais, segundo o coordenador da Defesa Civil Thiago Azambuja. Preocupado com a situação, ele lançou um alerta para que a população se atente quanto à importância da qualidade da estrutura para evitar interdições ou até tragédias.
"O muro de arrimo não é simples e tem gente que preenche os vazios ou até constrói o muro com tijolo baiano, que é um material fraco, sem função estrutural. A cada metro de muro mal construído ou mal dimensionado o problema se torna exponencial. E os vizinhos também podem sofrer as consequências", pontua Azambuja.
Engenheiro civil da Defesa Civil, Júlio Cesar Natividade detalha ainda que a maioria dos muros de arrimo na cidade carece de sistema de drenagem eficiente, denominados "barbacãs", que são tubos perfurados e envoltos por manta drenante e brita. A função deste dispositivo é drenar água que, eventualmente, se acumule na base do muro.
"O motivo da não utilização é por desconhecimento ou problemas com vizinhos. De qualquer forma, a não existência dos barbacãs pode, se ocorrer muito acúmulo de água, danificar e até mesmo colapsar um muro de arrimo", reforça o engenheiro.
R$ 450 O M2
Segundo o órgão, o metro quadrado do muro de arrimo bem feito custa em média R$ 450,00. Como o valor é elevado, muitas pessoas optam por muros comuns ou com um pouco mais de reforço.
"Não adianta pensar que é possível fazer gastando muito menos que isso. E é só anos depois ou na época de chuva forte que as pessoas percebem o problema. A pressão no solo aumenta com a água e o solo se deforma, o muro começa a dar problemas", alerta Julio Cesar. "Há dois anos, tivemos um pedreiro que morreu em Bauru, atingido por um muro de arrimo", completa o engenheiro.
A própria Defesa Civil acredita que haja subnotificação e que os problemas em imóveis envolvendo muros de arrimos sejam ainda maiores.
"Nós fiscalizamos apenas quando há denúncias. Não temos equipes para rodar a cidade toda. E, muitas vezes, os moradores acabam não comunicando problemas assim, o que é muito perigoso. Geralmente, por conta dos riscos, nós interditamos os imóveis e até a casa de vizinhos se houver risco, até que o problema seja resolvido", comenta Azambuja.
REFORMA FORÇADA
Foi por conta do um muro de arrimo malfeito de um vizinho que a dona de casa Rosemeire Venâncio, 46 anos, moradora do bairro Vânia Maria, teve que passar três anos fora de sua residência. Durante uma forte chuva, a casa vizinha, que está desocupada e é abaixo do nível da rua, ficou alagada. Houve infiltração e o muro de arrimo cedeu comprometendo a casa de Rosemeire, que também recebeu a enxurrada.
"Sofremos pela inconsequência dos outros. Tivemos que alugar uma casa até conseguirmos reformar a nossa e construir outro muro de arrimo para nossa segurança. E até agora nem ressarcidos pelos vizinhos fomos", afirma Rosemeire.