As águas de março fecharam o verão de forma intensa neste ano em Bauru. Em marca histórica, os 273,1 milímetros de chuva que assolaram a cidade no último mês atingiram recorde dos últimos 28 anos. Desde 1991 não chovia tanto em março, ano em que o pluviômetro do Centro de Meteorologia de Bauru (IPMet) chegou aos 307 milímetros. O órgão contabiliza os dados das chuvas desde 1981 (veja no quadro mais abaixo).
Muito além do índice histórico, o alto volume de chuvas em 2019 também trouxe tragédias que ficarão marcadas na memória do município, como a morte de mãe e filha, na noite de 20 março (leia mais abaixo).
Naquela noite e madrugada, vários rios da cidade transbordaram, o que gerou o alagamento de vias e grande prejuízo para a população. Até hoje, a prefeitura tem trabalhado para minimizar os estragos.
PLUVIÔMETRO
O IPMet passou a contabilizar a chuva na cidade em 1981. "De lá para cá, março de 2019 só perde para o de 1991. O curioso é que fechamos o ano passado com chuvas abaixo da média anual. Das variáveis meteorológicas, a chuva é a mais complexa", cita o meteorologista José Carlos Figueiredo.
Ele explica que o pluviômetro do IPMet fica nas Estação Meteorológica da Unesp, mas possui dados representativos em um raio de 100 quilômetros. "É o que estipula a Organização Mundial de Meteorologia", reforça.
Nos últimos anos, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) instalou outros 7 dispositivos na cidade.
EL NIÑO
Climatologista do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTec/Inpe), Juliana Anochi diz que o órgão ainda irá analisar o período de março, que registrou vários episódios de frentes frias.
Ela, entretanto, não descarta a relação do aumento das chuvas com a categoria fraca do El Niño, fenômeno caracterizado pelo aquecimento anormal das águas da região equatorial do Oceano Pacífico e capaz de alterar o clima regional e global. "No Norte, ele causa menos chuvas e, no Sul, mais chuvas", cita Juliana. "Mas março é um mês de transição entre verão e inverno e, naturalmente, registra chuvas um pouco mais volumosas", relativiza.
ESTIAGEM?
Até julho, contudo, episódios de chuvas serão menos frequentes, segundo a climatologista. "Já entramos no período de estiagem. Mas poderemos ter o outono mais quente dos últimos 30 anos, por causa do El Niño. A média da temperatura, que é de 18 a 23 graus, deve ficar entre 20 e 27 graus", pontua, dizendo que tal calor pode gerar pancadas.
Mesmo assim, episódios de frio intenso não são descartados. Eles devem acontecer, no entanto, entre maio e junho.
SALDO TRÁGICO
| Douglas Reis |
| Carro arrastado para dentro do Córrego da Grama durante a chuva da noite de 20 de março levava mãe e filha, que morreram no local |
As chuvas do último mês deixaram um saldo trágico. Luciene Regina do Prado Silva, 43 anos, e sua filha, Bianca Prado da Silva, 14 anos, perderam a vida no dia 20 de março à noite, após o carro em estavam ser arrastado para o Córrego da Grama, que transbordou na avenida Comendador Daniel Pacífico, na altura da favela São Manuel. As vítimas haviam acabado de buscar Franciele Prado da Silva, 20 anos, filha mais velha de Luciene, na faculdade. A jovem estava no banco de trás do veículo e conseguiu se salvar ao segurar em galhos por mais de 30 minutos, até que o Corpo de Bombeiros conseguisse localizá-la. Na mesma noite, o universitário Victor Oliveira Marcon, de 19 anos, foi arrastado por quase duas quadras na rua Capitão Gomes Duarte, na região da Vila Universitária, e só não foi levado pela água que descia em direção à avenida Nações Unidas porque conseguiu se segurar em um poste. Ele teve ferimentos leves. Na avenida Nuno de Assis, o Rio Bauru transbordou e mais de 30 imóveis foram invadidos pela lama e pela água, que chegou a quase 2 metros de altura entre as quadras 6 e 10.
Escavadeiras quebram e trabalhos para retificar calhas de rios param
| Aceituno Jr. |
| Palco da tragédia, avenida Daniel Pacífico recebe reparos |
Após as fortes e históricas chuvas de março, a Secretaria Municipal de Obras vinha trabalhando na retificação da calha do Córrego da Grama, na favela São Manoel, e planejava estender os trabalhos para o Rio Bauru e outros córregos da cidade. Os trabalhos de recuperação e prevenção, contudo, tiveram que ser paralisados nesta semana. Isto porque as duas escavadeiras da pasta quebraram.
"A segunda máquina quebrou na última sexta-feira e o conserto deve ficar em R$ 20 mil. O reparo será feito, mas ainda não temos previsão concreta de quando iremos retomar as atividades, infelizmente", confirma Ricardo Olivatto, chefe da pasta. Os maquinários pesam quase 20 toneladas e custam, em média, R$ 400 mil.
Além da Obras, apenas o DAE teria uma máquina do tipo, mas tratativas a fim de empréstimo ainda não teriam sido cogitadas.
PODE CHOVER NA QUINTA-FEIRA
De hoje até amanhã, previsão do tempo feita pelo CPTEC/Inpe indica que não há possibilidade de chuvas em Bauru, e que a temperatura deve ficar entre 32 e 21 graus. Mas, a partir de quinta-feira à tarde, o tempo deve mudar, segundo o meteorologista Fabio Rocha. "Uma frente fria que vem da Argentina deve passar por São Paulo", diz.
Estão previstas chuvas isoladas, que devem derrubar a temperatura máxima para 30 graus e a mínima para 24. As mesmas condições permanecem na sexta-feira. No sábado, a temperatura cai ainda mais, máxima de 27 graus e mínima de 21, com céu encoberto na maior parte do dia e chuvas a qualquer hora. No domingo, o sol volta a prevalecer e a temperatura máxima aumenta para 29 graus.