22 de dezembro de 2025
Articulistas

Tchutchuca e o Bonde do Tigrão

Zarcillo Barbosa
| Tempo de leitura: 4 min

A audiência do ministro Paulo Guedes, na Câmara dos Deputados, deu ares de baile funk às discussões sobre a reforma da Previdência. Durante seis horas, parlamentares oposicionistas martelaram o ministro da Economia, com os velhos chavões ao que chamam de "projeto contra o povo". Foi o filho do ex-ministro José Dirceu quem resolveu logo acabar com o baile - ou melhor, a sessão - ao dar um peteleco menos sutil em Guedes: disse que o economista era tigrão só com aposentados, com professores e agricultores, enquanto se portava como tchutchuca com os mais privilegiados. Com os nervos aflorados, Paulo Guedes respondeu com um pancadão - "tchutchuca é a sua mãe, sua avó".

Além de inadequadas, as expressões usadas pelo deputado Zeca Dirceu (PT-PR) são antigas. Remetem à explosão do funk nos morros cariocas, na passagem para o ano 2000, importada dos negros americanos. A banda Bonde do Tigrão, ajudou a popularizar certos termos até então desconhecidos fora das comunidades e dos bailes funk.

A palavra tchutchuca seria uma maneira de chamar carinhosamente uma mulher. Na cultura machista dos morros, outras palavras usadas pelos compositores da banda entraram para o vocabulário popular como "cachorra", "preparada" e "popozuda". A Banda do Tigrão ainda existe e roda cidades do interior de São Paulo. Logo chega a Bauru, aproveitando mais essa onda de publicidade gratuita.

Os debates sobre a reforma da Previdência, na CCJ da Câmara, serviram para expor mais uma vez que o atual sistema de seguridade está condenado. Financeiramente, quebrado. Lastreado no regime de repartição - a contribuição dos mais jovens ao INSS é que paga os benefícios dos mais velhos -, o sistema tende de forma inexorável à falência, impulsionado pelo fenômeno demográfico do envelhecimento da população.

O PT e seus aliados estiveram no Planalto por 13 anos, e só souberam se envolver em pesadas falcatruas, junto a empresas e bancos que antes demonizavam. Empresários foram beneficiados com farto dinheiro público do BNDES subsidiado pelo contribuinte. Bancos jamais reclamaram das altas rentabilidades amealhadas no ciclo de governos lulopetistas.

É espantoso que, agora os petistas aleguem que a reforma da Previdência seja feita para os banqueiros e patrões em geral. Nos processos da Lava-jato estão relatados, com detalhes, como a cúpula do PT e de partidos aliados articulou um assalto bilionário à Petrobras e outras empresas públicas. O ex-presidente Lula não está preso por acaso.

Ainda falta ao governo Bolsonaro uma base parlamentar para defender suas causas no Legislativo. O ministro Paulo Guedes, na CCJ, ficou exposto a um pelotão de fuzilamento dos oposicionistas, que não tiveram nem a preocupação com o decoro parlamentar. Não houve defesa a altura para blindar o ministro das tentativas de agressões. Quando os argumentos falham, apela-se para a ignorância - era voz corrente entre a molecada do grupo escolar. O pau só não quebrou, como em qualquer baile funk, porque a segurança estava reforçada e atenta.

Ficou sem resposta a firmação de Guedes de que, enquanto se gastam R$ 700 bilhões em aposentadorias, destinam-se apenas R$ 70 bilhões para a educação. Descuida-se das novas gerações. O pobre se aposenta aos 65 anos, com um salário mínimo. Castas do funcionalismo - como as do Legislativo - ganham R$ 28 mil mensais, como disse o ministro.

O mais formidável lobby existente no Congresso, é justamente, o que defende os interesses do funcionalismo, aliado a braços petistas na CUT. As reações à reforma indicam quem, verdadeiramente está defendendo privilégios.

A continuar do jeito que está, em ritmo de pancadão, batidas repetitivas e compasso binário, o baile da reforma tem a tendência de render pouco ou quase nada, para que o país ponha suas contas em ordem e volte a crescer. O presidente Bolsonaro confessou que nasceu para ser militar, e não presidente. Já que está, que reúna a tropa de choque em defesa do seu governo.

O economista Roberto Campos, dizia que "o Brasil não perde uma oportunidade de perder oportunidades". Sou obrigado até a acreditar na profecia de Dilma, em 2016: "Não acho que quem ganhar ou perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder". Apesar dos risos despertados, Dilma repetia a ética kantiana que condenava as falsas linhas que dividiam a humanidade - raça, religião, gênero, ideologia e intolerância. Nesse embate, sempre seremos todos perdedores.