17 de dezembro de 2025
Geral

As duras cicatrizes da falta de um pai

Tisa Moraes
| Tempo de leitura: 2 min

Há 50 anos, o pai tinha como uma das principais funções ser o provedor financeiro da casa e desempenhar seu papel de autoridade. Ao longo do tempo, porém, o funcionamento das famílias vem se transformando e, hoje, não pairam dúvidas sobre a importância dos cuidados afetivos exercidos pelo pai, cada vez mais presente na vida dos filhos.

E é diante deste momento atual, em que o papel do pai se tornou muito mais decisivo para o desenvolvimento emocional e psíquico das crianças, que o Jornal da Cidade propõe, neste Dia dos Pais, a reflexão sobre os impactos da ausência paterna. Isso porque, apesar dos avanços alcançados, 5 milhões de crianças brasileiras ainda vivem sem sequer ter o nome do pai na certidão de nascimento, segundo levantamento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

AUSÊNCIA

A psicoterapeuta e doutora em psicologia clínica Carmen Neme, a Pilé, explica que a ausência paterna, inclusive em caso de morte, pode ser sanada por meio da figura do avô, um tio ou padrasto. Porém, quando o histórico é de rejeição e abandono, esta lacuna pode influenciar diretamente na forma como os filhos se relacionam com as pessoas, com repercussão inclusive na vida adulta, além de poder desencadear quadros de baixa autoestima, ansiedade e falta de confiança.

"Não se trata de uma regra, até porque cada criança tem um temperamento diferente, mas, quanto mais precoce for a falta da função paterna, maiores os danos ao desenvolvimento do indivíduo", cita, salientando que, dependendo do caso, as consequências podem até mesmo ser mais graves, com o desenvolvimento de psicoses.

REPRESENTAÇÃO DE FORÇA

Na psicologia, a figura paterna aparece como o terceiro elemento que faz a ruptura necessária da simbiose entre a mãe e o bebê. Neste período inicial, o pai deve oferecer retaguarda à mãe para os cuidados básicos que garantem a sobrevivência da criança.

Contudo, ao longo do tempo, a função paterna, segundo Pilé, é a que dará segurança para a criança se lançar ao mundo. "Este papel se faz mais importante conforme a criança vai vivenciando novas experiências, até porque, fisicamente e até simbolicamente, a figura paterna é a que representa força", diz.

A psicoterapeuta reitera que esta função pode ser desempenhada por parentes que estejam presentes na vida da criança ou mesmo pela própria mãe. Neste último caso, contudo, a tarefa se torna mais difícil, visto que a sobrecarga de papéis pode gerar desequilíbrio, com prejuízo para a formação do filho.

"A vulnerabilidade da mulher que cria um filho sozinha fica muito maior. Agora, se esta mãe tem uma saúde mental boa e respaldo familiar, ela pode suprir esta ausência de maneira satisfatória. Infelizmente, não é sempre que isso acontece, até porque as próprias mães, hoje em dia, têm uma vida corrida", detalha.