05 de dezembro de 2025
Entrevista da semana

Criatividade utilizada para ajudar o próximo

Ana Beatriz Garcia
| Tempo de leitura: 4 min

Nascido em Iacri, cidade pequena próxima a Bastos, o publicitário por experiência e desenhista industrial de formação Milton Puga, de 61 anos, adotou Bauru como lar. Na cidade desde 1981, ele conta que foi em terras bauruenses que criou suas raízes, teve seus dois filhos - frutos de um casamento com a namorada de infância, que durou 40 anos - e consolidou seu trabalho e sua vocação.

Depois de iniciar a carreira como desenhista, ainda aos 13 anos, Milton se dedicou a ilustrações para os cinemas divulgarem seus filmes em cartaz. Foi assim que a vida o encaminhou a Bauru.

Criativo, ele aliou o que chama de "inspiração do alto" com os trabalhos voluntários que realiza há 20 anos no Centro Espírita Amor Caridade (Ceac) e destaca que todo tempo que dedica, principalmente ao Centro de Valorização à Vida (CVV), torna-se um "MBA de Autocrescimento".

Hoje, inclusive, ele é presidente do Grupo de Amigos em Prontidão (GAP), entidade mantenedora do posto do CVV em Bauru.

Confira, nas linhas a seguir, os principais trechos da entrevista:

Jornal da Cidade - O senhor é bauruense?

Milton Puga - Não, eu nasci em Iacri. Morei lá até meus 5 anos. Durante a Revolução de 64, espalharam que meu pai era comunista e tivemos que fugir de lá. Fomos para Dracena, onde eu fui criado e me profissionalizei. Sai aos 18 anos, para trabalhar na rede Peduti.

JC - Com o que começou a trabalhar?

Milton - Eu era ilustrador de painéis de cinema. Na verdade, eu me profissionalizei muito cedo. Aos 13 anos, eu já tinha começado a trabalhar como cartazista das lojas Riachuelo. Sempre desenhei.

JC - Mas, depois, o senhor buscou algum curso mais profissional?

Milton - Lá, não tinha cursinho e nem faculdade. Mas me mudei para Lins para estudar. Até que passei em Engenharia, mas eu tinha a ideia errada do que era o curso, achava que ia desenhar. Foi quando me falaram que, em Bauru, tinha curso de Desenho Industrial e eu vi que era isso mesmo que eu queria.

JC - Foi assim que chegou aqui?

Milton - Foi sim. Passei no vestibular e mudei para cá em 1981. No fim, comecei a fazer uns freelancers e um deles foi para a Cica. Com ele, ganhei um concurso nacional e comecei a trabalhar com merchandising.

JC - Aí surgiu sua agência, certo?

Milton - Foi. O pessoal de São Paulo acabou contratando uma série de peças e eu resolvi abrir a minha agência, a Causa e Efeito, para atender a Cica.

JC - Sua agência de publicidade foi uma das precursoras em Bauru?

Milton - Acredito que sim. A gente tinha uma vocação quase de 360 graus, como se chama hoje. Fazíamos algumas coisas que outras agências não faziam, na verdade. Acabamos atendendo empresas nacionais como Cica, Nestlé, Vasp, Philips, Itaipu Binacional, Tigre e McDonald's.

JC - O senhor continua trabalhando com essa agência ainda hoje?

Milton - Não, há uns três anos, a gente mudou o foco do trabalho. Eu tenho uma rede de TV corporativa que atende quatro Estados. As outras partes da empresa ficaram sob responsabilidade dos outros sócios. Hoje, sobra tempo para eu me dedicar ao voluntário Maior, que é meu principal cliente.

JC - O senhor se refere aos trabalhos voluntários que realiza...

Milton - Sim, trabalho nos 'Amarelinhos' do Centro Espirita Amor e Caridade (Ceac), no próprio Ceac e me dedico muito ferrenhamente no Centro de Valorização à Vida (CVV). A demanda de suicídio virou mais que uma epidemia, mas uma pandemia mundial e eu me identifiquei muito com esta causa.

JC - O senhor faz trabalhos voluntários no Ceac. É espírita?

Milton - Sim, perdi meu pai aos 16 anos e fiquei meio revoltado com Deus. Mas, depois, na doutrina, eu entendi que a vida não termina com o túmulo e que o que a gente julga sofrimento, na verdade, é crescimento. Minha mãe criou 10 filhos de uma forma maravilhosa. Hoje, passa valentemente por um câncer do qual se sente curada, graças a essa estrutura que tivemos do espiritismo.

JC - E como surgiu o voluntariado?

Milton - Faz 20 anos que estou no Amor e Caridade. Mas, há quatro anos, José Carlos do Santos me chamou para participar do CVV fazendo trabalhos de divulgação. Fui aproximado por conta da profissão mesmo. Fiz vários trabalhos para o Centro e CVV. Mas sinto que a gente faz um "MBA de Autocrescimento" com o voluntariado, você ganha muito mais do que oferece. É um trabalho com uma técnica muito boa que tem ajudado muito as pessoas.

JC - Acabou unindo as coisas então...

Milton - Exatamente. Toda a expertise que eu desenvolvi nesses 40 anos de marketing, propaganda e design, eu estou entregando para o CVV. Uso a minha intuição e a inspiração que vem do alto para devolver ao universo. Faço as peças com o maior carinho. Nós temos uma equipe maravilhosa e um trabalho em grupo muito gostoso.