Maurício Noriega é um dos principais comentaristas de futebol do SporTV e do Premiere atualmente. Nascido em Jaú e com familiares em Bariri, ele já tem mais de 30 anos de carreira como jornalista e experiência em outros meios de comunicação além da televisão. Em casa, de quarentena, Noriega conversou com o Jornal da Cidade sobre os laços com a região onde nasceu, as lembranças do pai, que era narrador, e o momento atual do futebol brasileiro, paralisado devido ao coronavírus. Confira:
Jornal da Cidade - Qual sua relação com Jaú, sua terra natal, e com Bariri, que o Milton Leite sempre cita nas transmissões?
Maurício Noriega - Nasci em Jaú, no Hospital Amaral Carvalho. Mas foi por questões do médico da minha mãe, dona Ângela. Toda a família da minha mãe é de Bariri. A família do meu saudoso pai é de Olímpia, embora ele tenha nascido em Nova Aliança. Meu nascimento foi complicado. Eu cheguei a ser desenganado pelos médicos, mas tive uma espécie de salvador em um médico de Bariri, muito amigo da família, o também saudoso doutor Fauze Farah. Então, eu digo que nasci de novo em Bariri, onde fiquei em recuperação os três primeiros meses de minha vida. Tenho familiares em Jaú, mas minha ligação com Bariri é muito forte. Tenho muitos parentes e amigos na cidade. Minha avó Olinda vive lá. E com muita honra ganhei o título de cidadão baririense em 2009.
JC - De onde surgiu seu interesse por seguir a carreira como jornalista esportivo?
Noriega - Sempre acompanhei meu pai, Luiz Noriega, nas narrações de eventos esportivos que ele fazia pela TV Cultura. Desde cedo eu me acostumei a ver grandes jogos e grandes atletas. Eu fui atleta durante muitos anos. Joguei voleibol nos clubes Paulistano, Pinheiros e Banespa e sou fascinado por muitos esportes até hoje, inclusive jogo beach tênis regularmente. Acho que veio daí o interesse, embora eu tenha começado a carreira de jornalista em outras editorias e não na de Esportes.
JC - Qual a relação que você tinha com seu pai, que foi narrador?
Noriega - Meu pai foi meu ídolo. Tenho muito orgulho dele, como pai e como profissional. Sempre estive muito perto dele no trabalho e aprendi muito com ele, com sua ética e seriedade. Infelizmente, eu não herdei a voz maravilhosa que ele tinha. Considero meu pai um dos grandes narradores da história da TV brasileira. Ele foi o narrador de TV por excelência, no ritmo, na compreensão do veículo, na dicção e no uso que fazia do som ambiente dos estádios e ginásios. Ele narrava bem todos os esportes, sem precisar gritar ou forçar a barra. Há grandes narradores de futebol que não se adaptam a outros esportes. Ele era brilhante no basquete, no vôlei, no tênis e, claro, no futebol.
JC - Fale um pouco de sua trajetória como jornalista desde o início e, principalmente, os momentos marcantes nas suas coberturas pelo SporTV/Premiere.
Noriega - Eu já tenho 32 anos de carreira. Em jornal eu comecei na Folha da Tarde, que hoje é o Agora São Paulo. Passei por Diário Popular, Gazeta Esportiva, Lance. Montei um portal esportivo internacional chamado SportsJÁ, passei pela Rádio Bandeirantes e, em 2002, comecei como comentarista e apresentador do SporTV, onde estou até hoje. Durante sete anos, eu fui comentarista de esportes do Bom Dia São Paulo, da Globo, e fiz algumas participações no SPTV. Para mim, os momentos mais marcantes foram as três Copas do Mundo que cobri pelo SporTV, a Olimpíada e o Pan do Rio, as Copas América e as Eurocopas de que participei pelo canal. Comentar duas finais de Copa do Mundo também foi muito especial.
JC - Como você enxerga o jornalismo esportivo atualmente, em um momento no qual o Grupo Globo está cada vez mais unindo as plataformas e os profissionais precisam ter conhecimento em diferentes mídias e também diversas áreas do jornalismo?
Noriega - É um caminho sem volta. A evolução da tecnologia nos obriga a estarmos sempre buscando atualização. Sou de uma geração de transição. Peguei a época da informatização das redações e agora participo do período do streaming e das lives. Mas o que prevalecerá será sempre a qualidade do conteúdo produzido, não importa a plataforma que vai transmitir. Jornalismo bom é de bom conteúdo, checado, apurado.
JC - O que você tem feito na quarentena? Vem participando remotamente da programação do SporTV e também produzindo outros conteúdos ou aproveitando o tempo mais para descansar e ficar com a família?
Noriega - Eu passei por uma cirurgia no joelho e voltei ao trabalho com um pouco mais de cuidado. Fizemos transmissões do estúdio ainda de jogos do Paulistão. Depois, de jogos do passado. Participei do "Bem, Amigos" e fiz entradas remotamente, da minha casa, em programas, além de escrever para meu blog no globoesporte.com, o "Papo Cabeça". Tive um período de férias agora e aproveito para estar em casa com a família, curtindo minha esposa, meus filhos, vendo filmes, lendo. Mas confesso que não vejo a hora de retomar a rotina. Com calma e responsabilidade. A prioridade agora é ficar em casa e cuidar da saúde, respeitando a quarentena. Vai passar.
JC - Como você avalia o início de ano dos quatro grandes clubes paulistas até a pausa?
Noriega - O clube que vinha melhor quando a bola parou era o São Paulo, que estava crescendo em termos de desempenho, evoluindo bem. O Palmeiras estava regular, mas ainda distante do potencial que tem, e o Santos variava bastante de rendimento. O que vinha muito mal era o Corinthians. Mas ninguém sabe quando e como será o retorno. Tudo pode mudar.
JC - Como e quando você avalia que será possível a retomada da temporada do futebol no Brasil?
Noriega: Muito difícil fazer uma previsão. Mas imagino que seja em julho. É preciso definir protocolo, dar umas duas semanas de treino ainda e resolver quais os torneios que serão disputados. Não devemos ter público nos estádios até o final da temporada. Será uma retomada mais no intuito de garantir a sobrevivência do futebol e preparar o terreno para voltar ao normal em 2021, se Deus quiser. Como qualquer outra atividade.
JC - Qual impacto você imagina que o coronavírus terá no futebol brasileiro? Algum time poderá brigar com o Flamengo pelos principais títulos?
Noriega - A pandemia deixará marcas profundas e duras no futebol brasileiro e mundial. Muitas equipes podem fechar, algumas terão graves problemas financeiros e o futebol passará por um duro processo de adequação. Até porque sempre viveu uma fantasia de gastos muito acima da arrecadação, salários absurdos, etc. Sobre a disputa, o Flamengo segue sendo o time mais forte, mas Palmeiras, Grêmio, São Paulo, Inter também são boas equipes. Resta saber como cada clube vai se adaptar à nova realidade.