23 de dezembro de 2025
Kleber Santos

Contágio na publicidade

Kleber Santos
| Tempo de leitura: 2 min

Se você parar alguns minutos e olhar com atenção para os comerciais das grandes marcas veiculados nesse período de pandemia, vai desconfiar que eles foram criados e produzidos pela mesma produtora seguindo o mesmo roteiro.

Sean Haney, profissional de marketing digital de uma empresa de software, fez isso. Ele passou horas gravando os anúncios que surgiram após a pandemia do novo coronavírus e chegou à conclusão de que “todo comercial da Covid-19 é exatamente o mesmo”.

DO COMPUTADOR À CERVEJA

Para provar que está certo, Haney fez um vídeo reunindo lado a lado comerciais da Apple, Budweiser e bancos, entre outros. Os elementos mais comuns são: abertura com músicas sombrias e imagens de ruas vazias, escolas ou playgrounds. Uma narração detalha o longo apoio de cada marca às comunidades e como isso continuará durante a pandemia.

Em seguida, o filme publicitário vem com o lembrete de como a marca esteve com o consumidor ao longo de toda a sua história e que, nesses “desafiadores”, “tempos difíceis”, “incertos” ou “sem precedentes”, enquanto “as portas estão fechadas” ou “a distância entre nós” aumentou, ainda podemos “permanecer conectados” na “segurança de nossa casa”.

As marcas prometem permanecer com os espectadores, garantindo-lhes que todos podemos passar por isso “juntos”.

PANELAÇO

Os anúncios terminam com música e cenas animadas de moradores de apartamentos e residências aplaudindo e batendo panelas nas janelas ou na varanda em homenagem aos trabalhadores da linha de frente, principalmente da saúde.

Essa repetição não é tão surpreendente, dada a rapidez com que esses roteiros precisam ser feitos, correndo riscos de atingir o tom errado, o que seria um desastre para a marca.

Houve um contágio criativo, mas já está na hora de esse drama pesado sair de cena.

QUARENTENA

De acordo com a Morning Consult, uma empresa de inteligência de dados que realizou uma pesquisa internacional com 2.200 adultos em quarentena, quando se perguntou às pessoas o que elas preferiam em publicidade durante a pandemia, apenas 10% delas disseram que preferiam que as marcas continuassem reconhecendo a situação ou expressassem preocupação.

A resposta mais popular, de 44% dos entrevistados, foi a inclusão de anúncios relacionados a atualizações de serviços das empresas, como a opção on-line. Vinte e quatro por cento disseram preferir que o anunciante deixe claro o que está fazendo para ajudar a sociedade durante a pandemia.

Sinal verde para pôr fim a “quarentena criativa” e o aparente “contágio na publicidade”.

Quem está em casa já está pronto para receber mais otimismo e mais histórias positivas.