Uma das revistas científicas mais tradicionais e prestigiadas do mundo, a Nature, na edição de dezembro de 2020, traz a ilustração de Rodolfo Nogueira, egresso da Unesp de Bauru. Aos 34 anos, ele é um dos únicos paleoartistas do País e conta ter desenvolvido em terras bauruenses o método usado na revista e que utiliza até hoje para a reconstituição de animais extintos, especialmente dos dinossauros, sua paixão.
A matéria de capa ilustrada da Nature, "The Path to Flight" (O Caminho para Voar), traz uma representação do Ixalerpeton polesinensis, do grupo dos répteis lagerpetídeos, que viveram no Brasil e, conforme o estudo divulgado em primeira mão pela revista, seriam os parentes mais próximos dos pterossauros, que viveram há aproximadamente 200 milhões de anos.
Inédito, o estudo dos fósseis que culminou na descoberta foi elaborado por pesquisadores da USP de Ribeirão Preto e outras cinco instituições internacionais. Rodolfo conta que já trabalhava há anos com pesquisadores da USP e que foi convidado a ilustrar como seria o então réptil para concorrer à capa da Nature.
"Competi com grandes paleoartistas da Argentina, Estados Unidos, entre outros países. Soube que a minha ilustração havia sido escolhida uma semana antes. Foi muito especial, é um troféu ter um trabalho estampado na Nature. Paleontólogos e pesquisadores do mundo todo conheceram o animal pelos meus olhos", comenta Rodolfo.
BAURU NA ROTA
Além de egresso da Unesp de Bauru (2009), o paleoartista, que é uberabense, conta que o método que desenvolveu para desenhar os animais extintos da maneira mais fidedigna possível foi elaborado, em 2007, durante iniciação científica, financiada pela Fapesp, com orientação dos então professores da Unesp, de ilustração, Milton Nakata, e do biólogo e paleontólogo Renato Ghilardi.
"Desenho desde os 11 anos, mas não acredito em dom. Sou um apaixonado por dinossauros que praticou muito e desenvolveu habilidades", simplifica Rodolfo, que chegou até a cursar aulas de anatomia para melhorar a técnica.
Foi também em Bauru que ele realizou seu primeiro projeto profissional, envolvendo, claro, dinossauros.
"Eu projetei a construção do esqueleto e escultura do maior dinossauro do Brasil, o Uberabatitan ribeiroi, para uma exposição no antigo Alameda Quality Center [atual Alameda Rodoserv], em 2009. Tenho saudades de Bauru, voltei algumas vezes para a cidade, mas apenas para dar aulas e palestras", cita.
Hoje, ele é um dos únicos profissionais do Brasil que vivem integralmente da paleoarte. E já recebeu duas premiações da National Geographic por trabalhos.
"É preciso imaginação, mas a ciência leva a paleoarte de mãos dadas à reconstituição. Claro que nunca iremos saber se aquela é a cor ou a pelagem daquele dinossauro, mas as evidências científicas apontam os caminhos", finaliza.