27 de dezembro de 2025
Tribuna do Leitor

Para que você nunca desista de sonhar!

Demerval Assis da Silva
| Tempo de leitura: 2 min

Em 27 de dezembro, ainda dentro do fatídico ano de 2020, acabo de ler a obra intitulada "Dom Quixote de La Mancha", do autor espanhol Miguel de Cervantes, e que deve ser um compilado da obra original. Mesmo assim, calculo ter levado o tempo que um leitor comum leria quatro ou cinco romances de igual ou de maior porte. Porém, levando-se em consideração a média nacional de leitores, talvez devesse me orgulhar por já ter lido uma quantidade pequena, mas até que expressiva de livros, mesmo sendo ao meu modo.

Não podendo garantir que ter reencontrado "Dom Quixote" em formato literal, tenha sido tão bom assim, pois gostei muito mais do "Quixote" interpretado pelo ator André Vale, "O visconde de Sabugosa", na obra adaptada pela TV Globo, do autor Monteiro Lobato, "O Sítio do Pica Pau Amarelo". Juntando a minha idade de adolescente da época, achei muito bom, se fazendo inesquecível "o cavaleiro da triste figura", como também era conhecido Dom Quixote na obra.

E depois de tantos anos passados, acabei por adquirir e ler o livro e também conhecer um pouco da vida de Miguel de Cervantes. Fatos como a perda de uma das mãos em batalha de guerra contra os turcos, fato ocorrido na Itália, onde o autor lutou em favor da "liga Santa" contra o avanço turco, no Mediterrâneo.

Depois disso, Cervantes, já voltando para Espanha, teve o navio em que viajava capturado pelos turcos e foi levado para Argélia, na África, onde passou preso por cinco anos até ser libertado com ajuda da sua família. De volta para Espanha, casou-se, teve uma filha e passou a viver o cotidiano de uma pessoa normal. O que me faz pensar que melhor seria viver sonhando que viver as mazelas de uma vida de cotidiano. Vidas nas quais podemos perder uma das mãos, como perdeu Cervantes numa batalha, como pode se perder a cabeça no sentido figurado ou literalmente.

Menos trágico, penso também, que sem sonhar, a vida ficaria muito mais pobre, e que sonhando, como fazem os sonhadores, se viverá mais e melhor. Pois a exemplo de Quixote, quando desiste de sonhar, sem ter mais seu louco e grande amor, pela doce Dulcineia d'El Toboso, voltando a ser figura comum e sóbria, à loucura do cavaleiro andante que encarnou e travestido novamente de "Alonso Quijano", se entrega, e assim adoece e morre, como depois, em 1616, morre Miguel de Cervantes, o autor desta grande obra.

E mais de quatro séculos depois de Miguel de Cervantes, Dom Quixote e Sancho Pança, seu fiel escudeiro, já terem desaparecido, apareço eu a pisar na Espanha, onde tudo isso "aconteceu", cravando agora que não tem preço sonhar.