Devaneando nestes dias, sem muita opção estive pensando que o céu anda um tanto triste com as pessoas que chegam sem avisar e vão entrando. Até entenderem que estão na vida eterna, naturalmente leva um tempinho. Também tem aqueles que ainda estão na fila de espera e, pegos de surpresa pela partida de um ente querido, ficam lamentando e incomodando os que foram. Tudo natural! Mas o céu é alegria.
E que maior alegria de ver a casa cheia. Então, para animar este momento, partiu uma das figuras, que será sempre lembrada, como alguém notória. Onde ela estava tinha alegria, primeiro, porque não tinha rabo preso. Falava o que tinha vontade, pensado ou não, nunca era ofensa, mas comentários críticos. Bem diferente do irmão dela mais polido, não mandava recado. Do simples ao composto, todos eram iguais. Por exemplo, num ônibus lotado não podiam pedir "licença para a tia" que ela já respondia: "não te conheço, não sou sua tia..." Os que ouviam riam, mesmo quem tinha pedido a licença.
São inúmeros casos que, recentemente lembrando de alguns, pensava cá comigo que no dia que ela partisse gostaria de expor alguns. Não foi possível. Ela precipitou sua ida para a festa no céu. Naturalmente, a primeira coisa que ela fez foi chorar, uma marca pessoal mas, ao mesmo tempo todo o choro transformava-se em risos e, logo depois, seus comentários. Convivi pouco com ela, mas o suficiente para admirá-la. Ainda solteira, na casa do nono já dava trabalho, ou melhor, nós criançada dávamos trabalho quando mexíamos com ela. Ô boca santa. Tudo numa boa. Depois casou. Uma paixão que só quem conviveu com o casal sabe o que é viver bem, nas diferenças. Dos filhos, não só tinha orgulho, mas como leoa defendia e não ficava passando muito as mãos na cabeça. Fez deles homens éticos, e olha que eles aprontaram quando crianças peraltas.
Agora, como num filme da vida, muitas cenas, naturalmente todas elas hilariantes, passam pela minha memoria, a ponto de sentir não a morte dela, mas a passagem dela sobre nós. Cenas da morte do nono, da nona, quando naquele tempo a morte era sentida em choros altos e, ela, na sua pequena estatura, sempre soube subir nas tamancas. Numa cena que, estávamos nós crianças dentro do carro, e ela não mediu esforços para pegar o sapato de salto alto para dar uma sapatada na cabeça, das crianças... não, do marido. E, como sempre tudo era festa, alegria, um prazer de conviver com gente normal. Quanto riso, quanta alegria.
Minha prima não tinha só amigos. Ela tinha fãs. Seu jeito único de ser não juntava inimigos, nem da parte dela, nem dos outros. Se alguém disser o contrário é caso único, pois seu coração bondoso e altruísta sempre esteve aberto. Até pouco tempo, quando ainda pudemos nos ver, foram recordações que ficarão para sempre, pois estão gravadas não só na memoria, mas no coração.
Minha prima... você é uma peça que faltava no céu. Vá em paz, Luiza Condi, mas mesmo daí, continue fazendo a gente rir, acreditando que, mesmo neste mundo de muitas dores, quando passam pessoas como você a gente acredita que uma pequena mulher é grande, quando tem um coração como o seu.