Não são apenas as agressões mais violentas que causam danos ao cérebro da criança. As chamadas palmadas, ou castigos físicos mais leves que costumam ser aplicados por muitos pais, prejudicam a saúde mental dos pequenos de forma semelhante aos atos severos. É o que aponta estudo da Universidade de Harvard, nos EUA.
Segundo a revista Crescer, a pesquisa se baseia em resultados de exames que mostram a intensificação da atividade de determinadas regiões do cérebro de crianças que levam palmadas em resposta a sinais de ameaça, o que ocorre em menor grau nos pequenos que nunca apanharam. Foram analisados dados de 147 crianças entre 10 e 11 anos que recebiam palmadas com frequência, mas não eram vítimas de violências mais severas.
Os pesquisadores descobriram que crianças que já levaram palmadas têm resposta neural maior ao ver as expressões de "medo" em várias regiões do córtex pré-frontal, área que responde a estímulos do ambiente, como ameaça, e afeta a tomada de decisões. Isso não ocorre nos pequenos que nunca apanharam.
A neuropsicóloga Deborah Moss, mestre em Psicologia do Desenvolvimento (USP), explica à Crescer que uma alteração na atividade do córtex pré-frontal pode desorganizar uma pessoa do ponto de vista neurológico. De acordo com os autores do estudo, os castigos corporais na infância, em menor ou maior grau, estão associados a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, dificuldades comportamentais e abuso de substâncias.
No Brasil, a Lei da Palmada, está em vigor desde 2014. Ela tem como objetivo evitar que criança ou adolescente sofra castigos físicos ou abusos psicológicos como forma de punição. O nome da lei foi escolhido em homenagem ao menino Bernardo Boldrini, 11 anos, morto pela madrasta, a ex-enfermeira Graciele Ugulini, com a participação do pai, o médico Leandro Boldrini, e dos irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz, em 2014.