11 de maio de 2025
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É preciso saber viver

Paulo Neves
| Tempo de leitura: 2 min

Eu converso muito com meus filhos Talita, Thiago e Aline e com minha ex-esposa Maria Lúcia sobre o papel do velho/idoso no atual contexto brasileiro, muito tóxico e, infelizmente, o que eu vejo é que ele não é representado, por exemplo, na tv aberta nem na tv fechada, isso me incomoda. As agências de publicidade, por exemplo, não têm modelos de mais de 60 anos. convenhamos, isso é um desrespeito, uma agência de publicidade me ligou e me fez uma proposta para participar de uma peça publicitária que correria o Brasil inteiro, pagando de cachê 100 reais. A moça pagaria 150 reais porque eu usaria um táxi, isso aconteceu há 30 dias... Mas, voltemos ao texto, somos um dos países do mundo em que a população está envelhecendo rapidamente, e só pesquisar os artigos publicados nas revistas e jornais.

Quem fala do idoso/velho?

Ele é sempre alvo de chacotas, brincadeiras desnecessárias, principalmente na televisão e na mídia em geral. Nas músicas... Somos um país preconceituoso com o negro, índio, pobre, LGBTQIA , deficiente etc. O que dá para observar é que todos os adjetivos-positivos são para os jovens, não estou me vitimizando, longe disso, o que eu estudo, leio, procuro entender. Na minha pequena família existe um respeito muito grande pelo velho/idoso, a minha mãe, a professora Celina, nos ensinou isso. Diariamente os canais mostram que são os jovens o produto a ser consumido, vendido, explorado, pois é bonito, forte, tem capacidade, domina a tecnologia, pratica esportes, vai ao cinema, teatro, restaurante, namora, transa, enquanto velho tem que ficar em casa. É chato, ranzinza, dá despesas para o governo, e esse já não gosta muito de velho, afinal, "vai morrer, e daí?" .

Paulo, você ficou velho/idoso? Claro, ando com dificuldade, escrevi um livro "Palco de Memórias". Faço fisioterapia com a Natália, há 2 anos, excelente profissional. Faço terapia da voz com a Giovana e a Bianca, alunas da Fonoaudiologia na USP, tratamento de 1º mundo, para melhorar a voz, estou me preparando para quando voltar a dirigir teatro, claro, vou voltar! E daí? Sei que não vou mudar nada, nem tenho essa pretensão, mas preciso envelhecer com dignidade, ética, respeito ao outro, lendo livros, torcendo pelo São Paulo (ninguém é perfeito), assistindo filmes da Netflix, assistindo às séries Round 6 e My Name, filmes sul-coreano de qualidade, criticando narradores e comentaristas do Sportv, escrevendo sobre política e...levar a vida. Claro, meu caro Watson, eu gostaria de ter nascido com a cara do Brad Pitt, George Clooney, Daniel Craig, mas isso não aconteceu, fica para a próxima, essa é minha cara que eu vou morrer.

Não preciso impressionar ninguém, aos 73 anos, eu só quero é ser feliz. A verdade é que nossa cultura está voltada para a aparência, o envelhecer não entra no caderninho de anotações, que fica sobre a mesa da sala, uma pena!

O autor é professor, diretor de teatro.