23 de dezembro de 2025
Internacional

Após denúncias, embaixador brasileiro deixará Guiné-Bissau

FolhaPress
| Tempo de leitura: 2 min

Brasília - O embaixador do Brasil na Guiné-Bissau, Fábio Franco, deixará o posto no país africano depois de uma investigação do Itamaraty mostrar que sua mulher interferia nas atividades da representação diplomática, mesmo sem ter vínculo formal com o Ministério das Relações Exteriores.

De acordo com relatos colhidos pela reportagem, Shirley Carvalhêdo Franco tinha ingerência na rotina da embaixada, chegando a ocupar uma sala no local. Os entrevistados afirmam ainda que ela praticava assédio moral e proferia ofensas racistas contra guineenses que trabalham para a missão diplomática.

A reportagem ouviu sete pessoas, brasileiras e locais, de diferentes níveis hierárquicos e vínculos variados com a representação. Eles falaram em condição de anonimato, pois temem retaliações. Shirley teria chamado os guineenses de "macacos" e dito que eles "só servem para fazer sexo, não para trabalhar".

Uma servidora contou que, em agosto, a embaixatriz teria impedido o marido de buscar substitutos para dois postos de ministras, após as titulares pedirem para serem removidas, e outros dois de nível superior que ficaram vagos. Shirley teria dito que ela própria iria assessorar Franco e "moralizar" o órgão.

Após denúncias, a Corregedoria do Itamaraty instaurou uma investigação que resultou na assinatura, em 8 de novembro, de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) por parte de Fábio Franco, procedimento administrativo aplicado a irregularidades "de menor potencial ofensivo".

No TAC, o embaixador declarou "reconhecer a inadequação da sua conduta" e se comprometeu a cumprir deveres e proibições previstos em lei para servidores. Ele voltará ao Brasil dois anos antes do previsto, e o caso será encerrado. 

A reportagem enviou emails para Fábio e Shirley Franco pedindo respostas às acusações. Eles não responderam aos questionamentos.

Como não é competência do ministério abrir processo administrativo contra a embaixatriz, já que ela não é servidora, a apuração não aborda os relatos de injúria racial e assédio moral. Shirley é professora da Faculdade de Ciências da Informação da UnB e está em licença não remunerada desde 2013.

Quatro entrevistados confirmaram que ela ocupava uma sala na embaixada.

Em 2020, o Brasil exportou US$ 3,4 milhões para a Guiné-Bissau e importou US$ 606 mil do país africano. Após o marido assinar o TAC e ser convocado de volta, a embaixatriz não apareceu mais na embaixada.