Pelas contas dele, já são, seguramente, mais de 1 mil alunos ao longo dos 32 anos de carreira como professor de tênis. O educador físico Helder José Gouvêa Silva, 53 anos, ensinou muita gente em Bauru a fazer saques, deixadinhas e a trocar bolas com o adversário. Mas, talvez, a maior "sacada" de sua vida tenha sido em prol da inclusão. Desde 2011, ele também dá aulas gratuitas de tênis para cadeirantes. "O esporte me deu muita coisa. Então, eu queria retribuir um pouco", revela.
Além de enriquecer o currículo, o projeto Tênis de Rodas também o ensinou a olhar de outra forma para as pessoas com deficiência. "Muita gente tem medo de trabalhar com eles. Mas, o esporte adaptado não é uma experiência de outro mundo". Depois, vieram também aulas de bocha adaptada, modalidade mais inclusiva ainda.
Durante 29 anos, Helder foi professor de tênis na Associação Luso Brasileira de Bauru, tanto das categorias de base quanto de adultos. Recentemente, passou a se dedicar também ao beach tennis, hoje principal atividade profissional. "Tem a cara do Brasil. Lembra praia, é divertido e fácil de aprender", define. Além disso, desde 2019, também é professor do curso de pós-graduação em Esporte Adaptado da Universidade de São Caetano do Sul.
A carreira nas quadras, inclusive, o credenciou a carregar a Tocha Olímpica pelas ruas de Bauru em 2016. "Foi um dia maravilhoso, os melhores 200 metros da minha vida", emociona-se.
Filho de Benedicto Francisco Cabral Silva, 86 anos, e Maria Negrão Gouvêa Silva, 83, Helder viveu na Cidade Sem Limites a vida toda e só saiu para cursar Educação Física na Universidade Estadual de Londrina (UEL). A foto de família tem muitos sorrisos: são cinco irmãos (Guilherme, Andrea, Francesli, Melanie e Luiz Henrique) e sete sobrinhos.
A seguir, você confere um pouco dessa trajetória exitosa tanto no esporte quanto fora dele:
Jornal da Cidade - Que caminhos o levaram a virar professor de tênis?
Helder Gouvêa - Na verdade, eu cresci na Luso. Eu me lembro de estar no clube desde os 6 anos de idade. Fiz escolinha de basquete, natação e comecei a jogar tênis. Fui atleta deles, só saí para fazer faculdade, em Londrina. Quando voltei, comecei a dar aulas aqui. Primeiro, na escolinha para crianças; depois, para adultos; e, nas categorias de base, também participávamos de competições. Saí em 2019 para realizar outros projetos. Hoje, dou aulas em condomínios, no Bauru Tênis Clube (BTC) e também ensino beach tennis.
JC - Beach tennis? Por que apostar nessa modalidade?
Helder - O beach tennis tem a cara do Brasil. Lembra praia, é divertido e mais fácil de aprender. O esporte chegou no País em 2008. Comecei a pesquisar e, em 2011, consegui comprar as raquetes. Fizemos um jogo experimental na Luso, com rede improvisada. Aí, fui fazer um curso em Natal (RN), para me qualificar. E ganhou mais espaço com as quadras de areia na Getúlio, construídas em 2015.
JC - O senhor também montou o projeto Tênis de Rodas, certo?
Helder - Sempre tive vontade de ter um projeto social. Em 1995, fui fazer um curso de tênis em São Paulo e estava tendo um torneio de cadeirantes, me interessei. Depois, descobri um projeto em Brasília, onde fui fazer estágio. Aqui, em Bauru, comecei a dar as aulas em 2011, quando construíram a Praça Paradesportiva. Chegamos a ter dez alunos, mas paramos por causa da pandemia. Agora, a previsão é de retomar em abril.
JC - Mas o que o levou a ensinar o esporte para cadeirantes?
Helder - O esporte me deu muita coisa. Então, eu queria retribuir um pouco. Nessa trajetória, teve o Celso Sacomandi, sete vezes campeão juvenil, um dos maiores tenistas que Bauru já teve. Ele foi tenista profissional, teve uma doença neuromuscular e, depois de dez anos, voltou para o tênis por causa da cadeira de rodas. Ele redescobriu o prazer de jogar, voltou a ter uma vida boa.
JC - E qual o tamanho da recompensa em poder realizar esse projeto?
Helder - É uma satisfação muito grande, a gente vê uma mudança de vida nos alunos. Essa é a maior recompensa. São pessoas que passam a ter mais liberdade, começam a passear, sair de casa, faz muita diferença. Além da parte física, o maior ganho é na autoestima. O aluno passa a confiar mais, a acreditar nele mesmo. E, depois, ainda veio a bocha adaptada. Nós tínhamos um aluno que não conseguia jogar tênis, então procuramos alternativas. Deu certo na bocha. Ele começou com 13 anos e, hoje, está com 19, disputando campeonatos. Entre os esportes adaptados, a bocha é a que tem atletas com maior grau de deficiência. Alguns só mexem a cabeça e é impressionante o que eles fazem.
JC - Portanto, o esporte pode ser para qualquer um?
Helder - Para qualquer pessoa. Basta querer. Com adaptações, claro. Hoje mesmo dei aula de tênis para uma aluna com 77 anos de idade. Se você quer, vai aprender. O principal é a vontade.