16 de julho de 2024
Wagner Teodoro

'Nova era' da Fórmula 1


| Tempo de leitura: 3 min

Quando os carros se alinharem no grid, em Sakhir, neste domingo (20), para a largada do GP do Bahrein, terá início o 73º Campeonato Mundial de Fórmula 1, certamente um dos mais revolucionários da história septuagenária da categoria máxima do automobilismo. Pelo menos no que se refere ao regulamento técnico, que passou por profundas mudanças. Pode ser o início de uma "nova era".

Fundamentalmente, o que todo fã de automobilismo gosta de ver são corridas com disputas acirradas, ultrapassagens. Foi justamente para buscar isso que a F1 fez várias mudanças técnicas e mecânicas em seus carros. A ideia basicamente é diminuir turbulência quando os monopostos estão próximos, facilitando e criando melhores condições de ultrapassagens. Competitividade, emoção, audiência, retorno financeiro.

O resultado é uma F1 com carros de design diferentão. E bonitos. Os engenheiros praticamente recomeçaram do zero. Houve mudança nos aerofólios, pneus, laterais, suspensões, as rodas ganharam calotas... Mas é o assoalho o diferencial. Para inovar, a F1 foi buscar inspiração e solução na sua história, ressuscitando o "efeito solo" (banido desde 1983), que terá papel decisivo no fator aerodinâmico, tanto da própria estabilidade e velocidade quanto da diminuição da turbulência para quem vem atrás. Tudo isso direcionando fluxos de ar.

Quanto mais perto da pista o chassi estiver, melhor desempenho. Porém, há um efeito colateral perigoso e doloroso para os pilotos. O carro se aproxima tanto do solo que o toca. E nos testes e treinos foi possível ver carros quicando pelo asfalto, principalmente nas retas, e pilotos sendo sacudidos e lutando para "segurar" assoalhos móveis a 300 quilômetros por hora.

E muitos já se queixam das dores nas costas, pescoço e cabeça. F1 raiz. Só para ilustrar, Ayrton Senna terminava corridas praticamente travado de tanta força necessária para segurar sua Lotus, que era uma espécie de foguete indomável. Felizmente, a segurança na F1 evoluiu demais da década de 80 para cá. Mas com carros mais pesados e "duros" andando colados no chão, pistas com ondulações podem ser um pesadelo a mais.

Os engenheiros trabalham para limitar este movimento do chassi, evitando o choque com o solo e controlando a distância para evitar perda da eficiência. Algumas equipes parecem ter mais sucesso, o que pode dar vantagem decisiva na primeira parte do Mundial, quando todos ainda estarão se adaptando à nova realidade.

Bem e mal

Cedo para analisar, mas a impressão é que Red Bull e Ferrari encontraram boas soluções para buscar rendimento. Certo é que todos ainda aprendem sobre o comportamento dos repaginados carros, mas a Mercedes, potência entre os construtores, aparentemente encontra dificuldades e precisará trabalhar bastante para entregar equipamento qualificado a Lewis Hamilton. A equipe italiana já havia causado boa impressão nos testes e ratificou seus acertos cravando a pole para a prova inicial da temporada.

Sem me debruçar aqui em uma análise técnica enfadonha, o que espero é que o prometido se cumpra. Que dentro da imprevisibilidade que o novo regulamento e pacote tecnológico esboçam, tenhamos alta competitividade com GPs movimentados, ultrapassagens. Quem sabe a Ferrari realmente consiga ameaçar a briga particular de Mercedes e Red Bull? Que as mudanças encurtem a distância das escuderias gigantes para as menores. Espero também que Hamilton tenha um bólido menos nervoso, capaz de lhe propiciar vitórias e gostaria de vê-lo se isolando como o piloto com maior número de títulos. Tão logo as equipes ganhem quilometragem e os ajustes sejam feitos, acredito em uma grande temporada.

Sem brasileiro

O grid segue sem brasileiro. Pietro Fittipaldi, piloto de testes da Haas há três anos, foi cogitado para a vaga do russo Nikita Mazepin, que deixou a equipe em consequência da guerra entre Rússia e Ucrânia, mas acabou preterido e o posto ficou com o dinamarquês Kevin Magnussen. Desde 2017, quando Felipe Massa se despediu da categoria, o Brasil não tem um piloto guiando um F1. Uma pena para um País que ama a categoria, é o terceiro maior ganhador de títulos e tem nomes como Emerson Fittipaldi, Nélson Piquet e Ayrton Senna na galeria de campeões. Nem sempre falta talento (às vezes, sim), mas o aporte financeiro geralmente abre mais portas ou disponibiliza mais cockpits.