24 de dezembro de 2025
Entrevista da semana

Gerador de energia e de boas amizades

Marcele Tonelli
| Tempo de leitura: 4 min

Encantado ao conhecer Bauru, na década de 70, o mineiro José Manoel Lopes Filho decidiu que nunca mais deixaria a cidade. Engenheiro eletricista, ele fez carreira por aqui na gerência da antiga Companhia Energética de São Paulo (Cesp) e ficou tão apaixonado pelo município que, quando soube que seria transferido para Taubaté (SP), comprou, em um ato de protesto, um túmulo em um cemitério bauruense como forma de garantir que, vivo ou morto, a empresa o traria de volta. Cerca de três anos depois, o engenheiro regressava a Bauru, após a ajuda de amigos que ficaram sensibilizados, como Antônio Tidei de Lima, na época deputado federal.

A passagem exemplifica uma das fortes características de José Manoel, carinhosamente chamado de Zé Mané pelos colegas. Profissional de renome no ramo de gerar energia, ele também carrega uma habilidade nata em gerar boas e numerosas amizades. Perfil este que foi exaltado no último dia 25 de março pela Câmara Municipal, quando ele, que é natural de Passa Quatro (MG), recebeu título de Cidadão Bauruense.

De 1969 a 1994, tempo em que atuou na Cesp, o engenheiro foi condecorado diversas vezes pelos colegas por seu espírito humano e agregador. A trajetória dele na companhia inclui processos que ajudaram a evolução do sistema elétrico brasileiro, como a introdução de uma técnica, até então inédita no País, do tratamento de óleo isolante em transformador energizado.

Além da contribuição profissional, sua atuação na comunidade bauruense é exaltada. Aos 75 anos, ele já foi presidente do Conselho na Sociedade Hípica de Bauru; diretor de Tênis na Associação Luso-Brasileira; diretor de Patrimônio no Bauru Tênis Clube (BTC); e, atualmente, é secretário do Conselho Diretor do BTC. Também é membro atuante da Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Bauru (Assenag), do Rotary Club e da Turma dos 30 (formada por sócios do BTC).

Casado com Marilza Bertolacini Lopes, ele é pai de quatro filhos: Luiz Eduardo, Jorgeane, Rodrigo e Caroline. Conheça, a seguir, um pouco mais desta trajetória:

JC - Conte um pouco sobre suas origens em Minas Gerais e como o senhor alcançou sua formação?

José Manoel - Tenho oito irmãos e sou filho de José Manoel Lopes e Benedita Brito Lopes. Minha mãe era do lar e meu pai tinha só o curso primário, mas uma versatilidade tremenda, que, talvez, eu tenha herdado um pouquinho. Ele foi caixeiro viajante, proprietário de bar e de cinema, gerente de circo, eletricista, carpinteiro e até mecânico. Para que fizéssemos faculdade, a família toda se mudou de Passa Quatro (MG) para Itajubá (MG), que tem a Universidade Federal de Itajubá. Eu e mais três irmãos cursamos engenharia, três irmãs fizeram o magistério e uma outra irmã se tornou secretária executiva. Nessa época, a Cesp ofereceu trabalho para 28 alunos da turma e foi assim que eu vim parar em Bariri.

JC - E Bauru? Quando a cidade entrou na vida do senhor?

José Manoel - Na verdade, gosto tanto de Bauru que acho que tive uma espécie de presságio quando era jovem, porque eu escutava muito a rádio PRG-8 (antiga Bandeirantes AM de Bauru), mesmo morando em Minas. Mas a cidade surgiu na minha rota mesmo depois de uma briga com meu chefe (risos). Ele me transferiu de Bariri para cá e fiquei por aqui 11 anos. Cresci e assumi uma gerência de importância nacional em Bauru, mas aí esse mesmo chefe se tornou vice-presidente da companhia e me transferiu para Taubaté. Foram 3 anos, 7 meses e 20 dias até eu conseguir voltar.

JC - Pelo visto, sua reação com a transferência não foi das melhores, né?

José Manoel - Sofri tanto que fui até comprar um túmulo. Disse para a empresa que eles me trariam de volta para Bauru nem que fosse vivo ou morto (risos). Eu fiz muitos amigos aqui, sempre tive vida social intensa e participava ativamente dos clubes. Graças à intervenção do meu amigo Tidei de Lima, deputado federal na época, consegui a transferência. E, em 1992, também a convite do Tidei, assumi a gerência de Construção de Linhas e Subestações, Topografia e Cadastro da Cesp, que abrangia todo o Estado. Em 1994, me aposentei.

JC - Quais características tornam o senhor uma pessoa tão habilidosa assim em fazer amizades?

José Manoel - Eu sou extrovertido, versátil e me considero um cara sempre disponível a ajudar. Minha porta nunca ficou fechada na Cesp, tanto que recebi várias homenagens de amigos. E, na vida pessoal, também é assim. Morei em sete endereços diferentes nos Altos da Cidade e chegávamos a fechar a rua para fazer churrasco entre vizinhos. No BTC, eu e meus amigos da Turma dos 30 nos unimos para construir um quiosque, onde nos reunimos todo domingo. Fui o cara do futebol de todo fim de semana, mas, hoje, me dou bem mesmo é no tênis. Um hobby que nunca larguei também foi a pescaria. Pesco desde os 8 anos de idade e guardo uma lista com 192 nomes de pessoas que já pescaram comigo. Esse esporte é mais do que tirar peixes do rio, é celebrar a vida ao lado de amizades.

JC - O que o título de Cidadão Bauruense significou para o senhor?

José Manoel - É resultado da manifestação explícita dos meus sentimentos por Bauru, não se trata de moeda de troca. Sou apaixonado pela cidade desde quando fixei residência pela primeira vez, em 1972. Essa cidade me acolheu. Aqui, eu me realizei profissionalmente e na vida pessoal também, com a minha legião enorme de bons amigos.