24 de dezembro de 2025
Entrevista da semana

Pelas palavras, a transformação

Guilherme Tavares
| Tempo de leitura: 4 min

Já são 26 anos publicando artigos em jornais, sites e revistas. Nesse período, o escritor Rafael Moia Filho, 64 anos, já soma cerca de 1.550 textos escritos, grande parte voltada para análise do cenário político nacional. Atingiu tamanha produção porque confia no poder transformador das palavras. Enquanto escritor, acredita que sua contribuição é levar informações precisas, corretas e reais através da opinião.

Paulistano, veio trabalhar em Bauru em 1996, transferido pela Companhia Energética de São Paulo (Cesp), onde fez carreira e aposentou-se. Publica artigos em jornais desde essa época, mas a paixão pela escrita começou ainda criança. Influência do pai, Rafael Moia (em memória), linotipista da Folha de São Paulo, incentivador dos estudos. Com o passar dos anos, passou a se interessar pela política, produzindo textos reflexivos e críticos. Herança da avó, imigrante espanhola e ativista política fervorosa.

Para dar vasão aos impulsos criativos, em 2008 criou um blog (falandoummonte.blogspot.com) que, neste ano, atingirá a marca de 1,5 milhão de acessos. Hoje, colabora regularmente com sete jornais, como Estadão, Estado de Minas, Jornal de Brasília e, inclusive, o próprio JC, para o qual escreve há mais de 20 anos. A trajetória rendeu seis livros e o sétimo já está no forno. Uma dessas obras, inclusive, foi lançada na Bienal do Livro em São Paulo, em 2018, motivo de grande orgulho.

Há 30 anos é casado com Celia Regina Gonçalves Moia, de 56 anos, com quem teve a Marina, 29, e Ronaldo, 25. Tem também Rodrigo Moia, 38, filho do primeiro casamento. Está sempre com a mãe, dona Regina, 86 anos. Corintiano fanático, costumava acompanhar jogos no Parque São Jorge e no Pacaembu. Acompanha Fórmula 1 e a paixão mais recente são os torneios internacionais de tênis. Devora filmes e séries com a mesma voracidade dos livros e jornais.

A seguir, confira os principais trechos da conversa de Rafael com o JC.

Jornal da Cidade - De onde nasceu essa vontade escrever?

Rafael Moia Filho - Leio e Escrevo desde muito novo. Sempre tive um papel à mão para anotar uma ideia, um esboço. De certa forma, foi influência foi meu pai. Ele trabalhava na gráfica da Folha de São Paulo, sempre lia muito, chegava em casa e conversava, discutia com a gente. Ao longo da vida, fui redigindo meus textos. Meu primeiro livro foi uma coletânea de poesias (O Tempo na Varanda, Livre Expressão, 2012), gênero que exercitei ao longo dos anos. Depois, publiquei O Humor no Trabalho (Scortecci, 2012), justamente com as histórias que eu observava no emprego ao longo dos anos. A partir de então, comecei a escrever sobre política e hoje representa a maior parte do meu trabalho.

JC - E como surgiu essa preferência por escrever sobre política?

Rafael - Primeiro está no DNA. Minha avó, espanhola, tinha política no sangue. Ela veio para o Brasil fugindo do franquismo, participava fervorosamente das reuniões de associação de bairro, brigava, discutia, subia no caminhão para protestar. E depois, quando trabalhava na Cesp, nós tínhamos núcleos políticos e partidários, era um debate incentivado pelo governo Franco Montoro (1983 - 1987), no período da distensão da Ditadura Militar. Promovíamos reuniões após o expediente para debater política, me influenciou bastante. E também participei de momentos muito marcantes, como as Diretas Já.

JC - Hoje já são vários livros e milhares de textos. Quais as maiores recompensas nessa trajetória?

Rafael - Há dois momentos que considero muito importantes. O primeiro foi ter lançado uma obra na Bienal do Livro em 2018 (com o livro De Sarney a Temer, Scortecci, 2018). É incrível estar ao lado de tantos outros escritores que você lê e admira. O segundo foi ser inscrito no prêmio Jabuti (com a obra Diário de uma Democracia, Scortecci, 2021). Nem sonho em vencer, porque pra mim já foi uma vitória. Quando a editora me comunicou foi motivo de muito orgulho, porque é o prêmio mais importante da literatura brasileira. É uma verdadeira injeção de ânimo.

JC - Essas conquistas mantêm o impulso criativo?

Rafael - Sem dúvida, tanto que já estou terminando meu próximo livro: Brasil, o sonho de uma utopia. É sobre o fato do nosso País ter tudo a seu favor, em termos de riqueza, povo trabalhador, mas nunca conseguir sair desse estágio de "nação do futuro". O problema, na minha análise, é nossa classe política que destrói tudo. Principalmente hoje, em que observamos tantos ataques aos principais pilares da democracia.

JC - E o que o motiva a continuar escrevendo, mesmo diante de um cenário político tão turbulento?

Rafael - Não tenho político de estimação, nunca tive filiação partidária. Procuro ser ético ao analisar os fatos e fazer apontamentos para qualquer de seja o governante. Não podemos imaginar algo melhor que a liberdade de expressão. Enquanto Deus me der saúde, vou continuar escrevendo e debatendo assuntos importantes para a sociedade. Está dentro de mim.