24 de dezembro de 2025
Entrevista da semana

Luz, câmera, reflexão!

Guilherme Tavares
| Tempo de leitura: 5 min

De programa infantil a filme de terror, a experiência de Álvaro André Zeini Cruz com o audiovisual é extensa. Graduado em Cinema e Vídeo pela Faculdade de Artes do Paraná, o bauruense de 33 anos já atuou como cineasta, roteirista e, hoje, é professor da sétima arte nas Faculdades Integradas de Bauru (FIB) e no Senac. "Gosto muito de falar sobre cinema, passo trechos de filmes e debato com os alunos em sala de aula. Me realizo nesse lugar por poder falar sobre cinema e televisão", revela.

A paixão começou ainda criança, tamanho interesse por novelas na TV. Tanto que, anos depois, na tese de doutorado em Multimeios, pela Unicamp, analisou "Renascer", consagrado folhetim da Rede Globo. O gosto pelo cinema só surgiria na adolescência.

Filho do promotor de justiça Alvaro André Cruz Júnior, 58 anos, e da advogada Maria Bernadete Zeini, 62, recusou a ideia de cursar Direito para dedicar-se ao audiovisual. Na trajetória, filmou vários curtas. Alguns, inclusive, premiados, como o "Memórias do Meu Tio", que faturou o Festival Curta Ourinhos, em 2011.

A formação inclui o mestrado em Multimeios, também pela Unicamp, e uma especialização em Argumento e Roteiro para Cinema e Televisão, pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Quando não está assistindo algo ou escrevendo, passa o tempo com a esposa Mariana Erba, 34, professora de geografia. E tem ainda uma irmã fotógrafa, Lara Zeini Cruz, 31 anos, que mora no Canadá. Confira a seguir os principais pontos da experiência de Álvaro, que ele contou durante entrevista ao JC.

Jornal da Cidade - Como começou essa paixão pelo audiovisual?

Álvaro André Zeini Cruz - Desde criança eu gostava de cinema e televisão. Sempre fui noveleiro. Brincava de escrever novelas. Fui me interessar por cinema mesmo só na adolescência. Na hora escolher o vestibular, fui contra meus pais, que queriam Direito. Encontrei um curso de cinema no Paraná que tinha aulas de televisão na grade. Minha ideia já era ser roteirista. Eu não conhecia ninguém que tinha feito cinema, mas as minhas disciplinas preferidas na escola eram redação e história, então não vislumbrava outras áreas. Acabei indo para o audiovisual mesmo.

JC - Ao longo dos anos, você filmou alguns curtas. Como foi essa experiência?

Álvaro - O primeiro curta-documentário que dirigi foi "Palhaços", em 2009. Ganhou prêmio em um festival universitário em Curitiba. É uma observação tanto da vida doméstica quanto do show de um casal de palhaços. Depois fiz o projeto "Mimese", em 2009, um curta experimental de ficção sobre o universo adolescente. Em 2011 dirigi "Janelas", em um festival de Super 8 (formato cinematográfico cujo cartucho de filme padrão tem 3 minutos de gravação). Davam as bitolas e mandavam revelar na Argentina. Tinha que ser filmado na ordem cronológica da trama, pois não era editado depois. E em 2011 lançamos o curta infantil "Memórias do Meu Tio", que foi contemplado com uma lei de incentivo fiscal de Curitiba. Meu único filme com dinheiro de verdade, porque todos os outros foram produções independentes. É a história de um garoto que se depara com o fantasma do tio avô no porão e sai em uma aventura imaginária. Esse filme ganhou prêmio no Festival Curta Ourinhos e circulou muito porque existiam poucos trabalhos para crianças nessa época. Então acabou passando em todos os grandes festivais como Tiradentes, Ouro preto e Belo horizonte.

JC - No doutorado você pesquisou telenovelas, que é uma paixão desde criança. O que despertou tanto sua atenção?

Álvaro - Acho que foi onde tudo começou. Fui estudar a novela "Renascer", do Benedito Ruy Barbosa. Na época, eu via uma direção até mais elaborada do que esse remake de Pantanal, atualmente no ar. Além de ter outro ritmo, havia um exibicionismo do trabalho de câmera. Minha tese mostra uma relação entre a nostalgia do homem cordial da Sociologia com um trabalho de direção feito para louvar a modernidade televisiva.

JC - Além da academia, você também roteirizou programas. Como surgiu essa oportunidade?

Álvaro - Foi uma professora da pós na FAAP que me chamou para trabalhar na produtora dela. Fiquei três anos, nos quais tive oportunidade de escrever roteiros de Cocoricó (TV Cultura), produções para o Marcelo Tas, History Channel e Discovery. Gosto da ideia de ter feito um pouco de tudo. Na verdade, resolvi fazer mestrado e doutorado porque tinha medo de não conseguir me sustentar no cinema. Era um plano B que virou plano A. Mas hoje sou muito feliz como professor porque é um trabalho que me desafia todos os dias.

JC - E como é essa realização em sala de aula?

Álvaro - Gosto muito de falar, dialogar sobre cinema. Passo trechos de filmes e debato com os alunos em sala de aula. Me realizo nesse lugar por poder falar sobre cinema e televisão. A aula é legal porque me exercita, me obriga a conversar sobre a arte.

JC - E além das disciplinas em sala de aula, há outros projetos para tirar da gaveta

Álvaro - Tenho um roteiro de terror que gostaria de filmar. O título é "O Homem Sem Nome", é sobre um hater (disseminador de ódio) de Internet e coisas estranhas começam a acontecer com ele no dia do aniversário dele. Está escrito, foi selecionado em um projeto e vai passar por tutorias com outros diretores e roteiristas. Também tenho dois livros infantis escritos que pretendo publicar, estou avaliando. E, em 2020, escrevi o romance "Caso o país acabe, envie-me a Haruki Murakami", como autopublicação. Agora estou publicando em por uma editora de Minas Gerais, chamada Caravana, está em pré-venda.