No trabalho dele, não há margem para falhas. "Costumamos dizer que explosivista só erra uma vez", resume João Gabriel Pires Augusto. Capitão da Polícia Militar (PM), ele, que tem 35 anos atualmente, comanda o Esquadrão de Bombas do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) desde maio do ano passado. Localizada em São Paulo, a unidade atua em todo o Estado em ações que envolvam presença de explosivos, seja para manusear, desativar ou detonar os artefatos.
Bauruense, estudou no Colégio São Francisco de Assis e, depois, no Colégio Técnico Industrial (CTI). Em 2006, entrou para a Academia do Barro Branco. Recém-formado, atuou na Capital Paulista até 2011, quando voltou para a cidade natal. Em 2017, decidiu prestar o curso do Gate e ingressou na unidade. Dois anos depois, foi convidado para o Esquadrão de Bombas.
Para minimizar riscos, a atuação gira em torno de disciplina, preparação e muito estudo. Inclusive, Pires chegou a fazer um curso de especialização sobre bombas na Espanha. "Nossa rotina no Gate é treinar para prevenir cenários, rever ocorrências e entender tendências. Também é fundamental saber usar o equipamento", explica o capitão, que classifica a calma e o controle do estresse como características fundamentais para integrar o esquadrão.
João Pires é o irmão mais velho de Annelize Pires, 32 anos. Ele é filho de Olímpio Augusto (em memória) e de Sueli Pires, 67 anos, grande fonte de inspiração. "Ela é meu exemplo de seriedade e ética no serviço", orgulha-se da mãe, que trabalhou por mais de cinco décadas na Tilibra.
Confira, a seguir, um pouco mais sobre a trajetória do policial militar e detalhes do seu trabalho contra explosivos.
Jornal da Cidade - Como foi sua trajetória na polícia até chegar ao Gate?
Capitão João Gabriel Pires Augusto - Entrei na PM em fevereiro de 2006 na Academia de Polícia Militar do Barro Branco, concluindo o curso em dezembro de 2009. Trabalhei em São Paulo até julho de 2011 e retornei a Bauru no 4.º Batalhão de Polícia Militar do Interior (4.º BPM-I). Permaneci na cidade por seis anos, atuando principalmente na região Oeste, além de outras áreas, como de inteligências. Em 2017, entrei no Gate. Então, fui chamado para a unidade, onde estou até hoje como capitão tático e comandante do Esquadrão de Bombas.
Jornal da Cidade - E qual ocorrência mais marcou no Esquadrão de Bombas?
Capitão Pires - Em Araçatuba, no final de agosto do ano passado, quando bandidos atacaram agências bancárias. Atuamos em uma equipe bem grande durante quase 40 horas, com uma quantidade gigantesca de explosivos espalhados pela cidade. Eram de vários tipos, preparados tanto na agência quanto fora dela. Alguns com acionamento remoto, via celular. No total, desarmamos 97 artefatos e ainda havia mais 250 quilos de explosivos para serem montados. Ao final, a sensação foi de dever cumprido por podermos liberar a cidade para retomar a vida normal.
JC - Nos últimos anos, tivemos vários ataques a bancos no Interior do Estado. São as situações que mais preocupam?
Capitão Pires - Elas acontecem com menor frequência, porém, são mais complexas. Por isso, treinamos tanto e pesquisamos tendências do que tem sido usado no restante do País. Em todo o ano passado, atuamos em 158 ocorrências. Muitas vezes, somos chamados para fazer varreduras para recepção de chefes de Estado. Também nos acionam quando há artefatos guardados por um parente que faleceu e deixou algum arsenal em casa. E, no contexto criminal, as ocorrências geralmente envolvem roubo patrimonial, desde explosões de caixas eletrônicos até cidades sitiadas pelos bandidos.
JC - Qual o perfil do policial do Esquadrão de Bombas?
Capitão Pires - É preciso ter calma e manter o estresse baixo para poder pensar e executar o treinamento. Também é importante ter humildade para reconhecer o poderio do explosivo e ouvir sua equipe. Por vezes, a gente liga para policiais que não estão em serviço ou até aposentados, para poder contar com a bagagem deles.
JC - E por que decidiu entrar para o Esquadrão de Bombas?
Capitão Pires - Foi acontecendo ao longo da carreira. Prestei a prova para o Gate com o intuito de usar o conhecimento e treinamento na minha cidade. Mas, aí veio o convite para trabalhar na Capital e entrei primeiro para a Equipe de Intervenções Táticas, em ocorrências com reféns ou de suicídio armado. O convite para o Esquadrão de Bombas veio por uma necessidade da unidade e também porque eu tinha afinidade com os policiais. Entrei como tenente e me tornei comandante em maio de 2021, junto com a promoção a capitão.
JC - A atividade policial sempre envolve riscos, mas com explosivos eles não são maiores?
Capitão Pires - Às vezes, eu acho uma atividade até menos perigosa do que o policiamento convencional. Normalmente, vou atender com estrutura, equipe treinada, equipamento e, em geral, sem pressão de tempo. Logicamente, na hora da desativação tem um risco aumentado, mas nós trabalhamos para minimizar esse perigo. Aplicamos técnicas, protocolos, conhecimento. Não pode agir na base da coragem ou do improviso. Costumamos dizer que explosivista só erra uma vez.
JC - E quando não está a serviço na polícia, o que faz para se divertir?
Capitão Pires - Gosto de basquete desde moleque. Joguei campeonatos amadores em Bauru, mantém uma ligação com a cidade. É onde sempre reencontrei amigos e funciona como uma terapia para sair do mundo da polícia. E também a família. Sou muito ligado, principalmente, à minha mãe, que é meu grande exemplo de seriedade e ética no serviço. Começou operando máquinas na Tilibra com 14 anos de idade e, 53 anos depois, se aposentou como gerente de RH. Filha de pais bem simples, analfabetos. Uma mulher à frente do seu tempo. Todos têm grande admiração por ela.
JC - E para a carreira? O que projeta?
Capitão Pires - Projeto ficar mais um bom tempo ainda no Esquadrão de Bombas. Não é do dia para a noite que você passa tudo para alguém. Leva tempo para sentir confiança em outra pessoa. E quero deixar um pouquinho melhor do que quando cheguei.