27 de julho de 2024
Conversando com o Bispo

Pai Nosso, a oração de Jesus - Ano C


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O trecho evangélico da Missa de hoje é extraordinário - Lc 11,1-13. Merece ser meditado. Traz a oração que o Senhor mesmo ensinou: o "Pai Nosso". Lucas conta que Jesus estava saindo de um momento de oração, quando um de seus discípulos lhe pediu: "Senhor, ensina-nos a rezar". E Jesus ensinou a oração mais bela e perfeita de toda a Bíblia, a mais rezada por todos os cristãos. "Quando rezardes, dizei: Pai Nosso...". Prezado leitor e leitora, você conhece bem a oração do Senhor, você a aprendeu quando criança, a mãe a ensinou com o Sinal da Cruz, a Ave Maria e o Anjo do Senhor. Se hoje você ainda não a rezou, feche os olhos por um instante e reze, com amor e devoção, dizendo: Pai Nosso...

Os nomes são imagens que aplicamos a pessoas e coisas, representando significativamente nossos pensamentos, conhecimentos, compreensões, desejos e medos que temos em relação a elas. Se o pai é bom, sua imagem representa uma figura consoladora e libertadora de quem acolhe nos braços, no lar, e de quem cuida e ama para sempre. Se o pai é mau, sua imagem é de autoridade, de juiz, de controle, de castigo. A linguagem que confere nomes às pessoas e coisas dá significado e sentido, cor e sabor à vida. A ideia de pai que Jesus atribui a Deus conforme os Evangelhos está impregnada do significado de tudo o que é bom, belo e santo, e do sentido de vida em abundância para os seus filhos. Assim sendo, Deus é o Pai que está no céu, mas é o Pai na terra de todos os humanos, aos quais oferece o Reino dos Céus, com o pão de cada dia, o lar para sempre, o perdão que apaga o pecado, não deixa cair nas tentações e livra de todo o mal. Jesus, por isso, convida-nos a santificar o nome de Deus, a pedir que venha o seu Reino, a prometer o cumprimento de sua vontade, a perdoar a todos os nossos devedores. Jesus, que gostava de se retirar para rezar, transmitiu para nós a sua experiência de intimidade e familiaridade com Deus, a quem chamava de Pai. Indicou-nos o vocábulo aramaico "Abbá" que as crianças usavam em casa aos seus pais, para nos dirigirmos a Deus, em nossas orações. Um vocábulo carinhoso, de ternura e intimidade profunda, o melhor que a língua aramaica possuía, o qual mal traduzindo significava "paisinho", "pai querido". Deste modo, Jesus nos ensinou que a melhor maneira de entrarmos em comunhão de oração com Deus é pela linguagem da ternura, do "Abbá".

Não é possível compreender a ideia de humanidade sem a compreensão das imagens de pai, mãe e filhos, isto é, da imagem de família, lugar do aconchego, do lar, da justiça, do bem, do amor, no seio da qual ninguém poderá ser abandonado, nem do qual ser expulso. A experiência fundante da vida para cada ser humano vem da família, dela e nela a vida humana é gerada, cuidada e amada. A imagem de Deus como pai é bíblica e foi Jesus Cristo, especialmente, quem a revelou, anunciando esse mistério do amor divino na sua plenitude: "Deus é amor, Deus é Pai misericordioso". Em razão da revelação deste mistério, Jesus mesmo, então, pede a seus discípulos, isto é, a nós: "Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso" (Lc 6,36). Predomina em toda a Bíblia a visão patriarcal da vida, a qual dá prevalência à figura do Pai. Mas compreendendo bem os Evangelhos, tudo de bom e sublime que se refere ao pai se pode aplicar também à mãe. Na cultura de hoje, enraizada no Cristianismo, pai e mãe merecem igual dignidade, valor e autoridade, não obstante se reconheçam como insubstituíveis os papéis de um e outro, distintos, mas complementares. Assim sendo, a teologia de hoje afirma que falar de Deus como "mãe" é igualmente correto. O Papa João Paulo I, aquele que foi Papa apenas por um mês, ficou conhecido como o Papa do sorriso e o Papa de Deus que é pai e mãe. Ele declarou que Deus é, no mínimo, tanto mãe quanto pai.