Ela já exerceu muitas profissões ao longo da vida. Atuou como secretária, manicure, dona de bar e até ajudante de caminhoneiro. Mas, foi aos 43 anos de idade que Lourdes de Cássia Penteado descobriu a maior vocação: tornou-se viveirista. Desde 2011, trabalha no Viveiro Municipal de Bauru, ligado à Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma). Ingressou como ajudante geral e, a partir de 2015, passou a coordenar o setor. Nesses anos, ajudou a produzir e a cuidar de milhares de plantas e árvores, hoje espalhadas pela cidade inteira. "São todas minhas filhas", orgulha-se.
Atualmente, ela é responsável por 37 mil unidades de 235 espécies que estão em cultivo no viveiro. Todo esse 'cuidado de mãe' foi adquirido com muito estudo e dedicação. "Quando eu cheguei, não conhecia as mudas, só cuidava dos meus vasos em casa. Então, ficava pesquisando na Internet até de madrugada para saber como fazer germinação, preparação de solo e até para identificar as espécies".
Tanto esforço só fez aumentar a paixão pelas mudas. Hoje, até nas folgas de domingo, ela vai ao viveiro fazer irrigação. Com tantas 'filhas', difícil mesmo é saber qual é a preferida. "Todas", responde, em um primeiro momento. Mas, depois de alguma insistência, abre o jogo: "As cerejeiras são as que eu mais gosto, porque acho muito lindas".
Nascida na Capital Paulista, Lourdes se mudou para Bauru aos 15 anos com a mãe, para morarem com a irmã mais velha. Aqui, conheceu o marido, Sideval Rodrigues Borba, com quem está casada há 38 anos. Da união, tiveram Sabrina e Amanda e ainda há duas enteadas, Josimara e Orliete. Tem dois netos, Charles e Felipe, que ajuda a criar, e, em novembro, ganhará o terceiro: Rafael virá ao mundo.
Entre mudas de ipês, de pau-brasil e de cerejeiras, claro, ela conversou com o JC sobre sua trajetória e todo esse amor pelas árvores. Confira, a seguir, um pouco da história de Lourdes.
Jornal da Cidade - A senhora sempre gostou de plantas?
Lourdes de Cássia Penteado - Sim! Mas, em casa, só tinha vasos pequenos, comuns. Fui aprender a cuidar de mudas, cultivar árvores mesmo, quando cheguei no viveiro. Tive ajuda de colegas, mas a maior parte descobri pesquisando por conta própria. Como eu não conhecia as espécies, eu fotografava, levava para casa e ficava procurando na Internet até de madrugada para conseguir identificar. A partir daí, aprendia como germinar, preparar o solo, adubação e manejo.
JC - E se não fosse todo esse esforço?
Lourdes - Meu trabalho seria superficial, não saberia cuidar de tantas espécies. Eu passaria o dia só arrancando mato. Mas, desde que entrei aqui, já me apaixonei. Hoje, considero todas essas mudas minhas filhas. Com o tempo, fiz diversos cursos de viveirista, jardinagem e até de animais peçonhentos, porque é comum ter aranhas, escorpiões e até cobras nesse ambiente. Então, eu preciso saber para conduzir o restante da equipe. Além de produzir mudas, nós temos uma equipe de manejo dos exemplares plantados pela Semma.
JC - E antes de ser servidora municipal?
Lourdes - Fiz muita coisa. Eu tenho curso de datilografia, trabalhava como secretária. Também fui caixa de supermercado, diarista, manicure, dona de bar e até ajudante de caminhoneiro. Por fim, cheguei a ter uma barraca de lanche. Foi nessa época que prestei o concurso da prefeitura e entrei como ajudante geral.
JC - Com tantas 'filhas' espalhadas pela cidade, tem algum lugar que a senhora gosta mais ou te marcou?
Lourdes - Gosto de muitos trabalhos que fizemos. Por exemplo, vários plantios na avenida Nações Unidas. Tem também o paisagismo da Praça das Cerejeiras, ficou muito bonito. Mas, tem alguns casos negativos, como quando as pessoas quebram mudas. Teve um episódio que me deixou triste, quando tivemos de retirar quase 5 mil ixoras da avenida Rodrigues Alves para uma obra. E, no final, não precisava ter removido tudo. Uma pena, era um canteiro muito bonito.
JC - E de qual dessas 'filhas' todas a senhora gosta mais?
Lourdes - Todas (risos)! Gosto de cuidar de qualquer espécie.
JC - Mas sempre tem alguma que chama mais atenção...
Lourdes - Para falar a verdade, acho que a minha preferida é a cerejeira (risos). É muito bonita, principalmente quando floresce. Todas as folhas caem e ela fica linda. Aliás, foi da própria Praça das Cerejeiras que eu coletei sementes para cultivar. Hoje, estou com várias mudas aqui.
JC - E de toda atividade do viveiro, o que mais gosta?
Lourdes - A produção é a etapa mais interessante. Gosto de ver a semente germinando, naturalmente, sem aceleradores. Uma das mais desafiadoras é o pau-brasil. Nós temos uma árvore no viveiro, peguei as sementes e plantei. Ela germina rápido, de sete a oito dias, mas, depois, o crescimento é muito lento. Ainda assim, conseguimos produzir diversas mudas.
JC - E quando não está em meio às mudas, o que gosta de fazer?
Lourdes - Sou boleira, costureira e artesã! Durante anos, fiz bolo para ajudar na renda. Hoje, só peço os ingredientes e dou o bolo para os conhecidos. Montei um ateliê em casa, faço roupas para a família e também artesanato. Os meus presentes são sempre coisas que eu mesma fiz.