24 de dezembro de 2025
Entrevista da semana

Cada traço ilustra talento

guilherme tavares
| Tempo de leitura: 4 min

Nas contas dele, já são 45 anos usando o talento como atividade profissional. Das mãos dele, já saíram muitos retratos, paisagens, artes conceituais e até heróis do cinema e dos quadrinhos. Aos 61 anos de idade, o ilustrador Milton Koji Nakata dedicou uma vida inteira aos pincéis, tintas, canetas, aquarelas e ao amor pelas artes gráficas.

Ao longo da vida, produziu capas e páginas de revistas, peças publicitárias, quadros e muitos retratos, um dos seus trabalhos preferidos. "Tem que ser muito preciso, é necessário ser muito observador para pegar a essência da pessoa", define.

Milton nasceu em Duartina, onde esboçou os primeiros traços, chamando atenção inicialmente dos pais, João Nakata, hoje com 88 anos, e Miyoshi Nakata (em memória), que notaram o potencial do menino. Mas foi a vitória em um concurso de desenho que o fez perseverar nesse caminho.

O talento também rendeu uma bolsa de estudos no colegial e a possibilidade de cursar o ensino superior na área. Formou-se, virou docente da Unesp, titulou-se mestre e doutor. Foram 34 anos em sala de aula, transmitindo o que sabia fazer para alunos de graduação e pós. "Toda vez que eu praticava qualquer atividade, eu refletia sobre o processo porque, em algum momento, eu precisaria explicar para os alunos. Eu acredito que todo professor deveria vivenciar essa prática", afirma.

Mesmo aposentado da universidade, não parou de ensinar, tão menos de pintar. Atualmente, mantém seu estúdio, onde faz retratos e ilustrações para publicações, e dá aulas.

Quando não está em meio a pincéis, telas ou softwares de design, gosta de ler mangás e HQs e de assistir a filmes e séries. Os momentos de descontração são sempre ao lado da família: é casado com a bióloga geneticista Nancy Nakata, 60 anos, com quem teve Natália, 32, e Letícia Nakata, 29 anos.

Confira a seguir os principais trechos da conversa do ilustrador com o JC.

Jornal da Cidade - Como começou a ilustrar?

Milton Nakata - Desde pequeno, com seis anos, meus pais perceberam que eu tinha habilidade. No primeiro ano do fundamental, ganhei um concurso de desenho em Duartina, foi um estímulo para eu continuar. Nessa época desenhava por puro prazer, sem buscar compensação. A criança nessa idade está desenvolvendo a parte da criatividade e precisa transferir suas criações. Eu tinha essa facilidade, era uma atividade muito prazerosa.

JC - E como foi o início da vida profissional?

Milton - No colegial, ganhei uma bolsa de estudos em troca de serviços, fornecendo desenhos para qualquer tipo de anúncio da escola. Mostrei para o diretor, ele se interessou e me fez essa oferta. E sempre peguei encomendas, na maioria das vezes eram retratos.

JC - E em qual momento a paixão pelas ilustrações virou trabalho?

Milton - Conheci o curso de design gráfico quando estava no colegial. Uma professora comentou e atendia o que eu gostava de fazer. Conhecia artes plásticas, mas o design gráfico está mais voltado para o comercial. Tanto que não tive insegurança na escolha. Até hoje faço uma reflexão com meus alunos. São três questionamentos para ter certeza que é a escolha certa: primeiro, se essa atividade é algo que ele faz bem e que todo mundo acha que ele faz bem; segundo, é uma coisa que faria para resto da sua vida; e terceiro, é uma coisa que faria até de graça. Se responder sim para as três, é a escolha certa. E tenho certeza que, na minha época, se alguém me perguntasse eu responderia sim.

JC - E a vida acadêmica, o que o levou à universidade?

Milton - Pouco tempo depois de formado, fui convidado a dar aula no Noroeste Liceu e, logo depois, na Fundação Educacional de Bauru, posteriormente encampada pela Unesp, onde fiquei durante 34 anos. Dei aulas em praticamente todas as disciplinas. Mas me concentrava mais em desenho de observação e projetos de design gráfico, na graduação, e em ilustração na pós. Mas ainda assim segui fazendo trabalhos e praticando as técnicas. Me aposentei em 2019 e hoje tenho meu ateliê e escola.

JC - Há alguma técnica preferida?

Milton - Hoje gosto bastante de aquarela e pintura a óleo. Aquarela é mais difícil, pois não permite erros. Já pintura óleo ou guache, se você errar, consegue sobrepor.

JC - E por que dedicar-se a um ramo de atividade mais difícil?

Milton - Todo artista precisa buscar desafio, porque se fizer sempre a mesma coisa, ele parou. Isso está relacionado também ao seu aprendizado. Quanto mais você faz, aprende, evolui, mais você percebe que não sabe nada. Isso é uma constatação muito estimulante.

JC - Mas em termos de conteúdo, o que te dá prazer ao ilustrar?

Milton - Gosto muito de fazer retratos, é o que há de mais desafiador. Tem que ser muito preciso, é necessário ser muito observador para pegar a essência da pessoa. Isso é estimulante. Por mais que você faça, sempre vai ter uma coisa nova para descobrir ao fazer um retrato. Tanto que são poucos os bons retratistas, porque a maioria encara como se fosse qualquer outro tipo de pintura e não é, pois requer um cuidado a mais.