23 de dezembro de 2025
Cultura

Quem é o produtor de álbuns clássicos da tropicália, de Gil, Caetano, Gal e Jorge Ben Jor

Lucas Breda
| Tempo de leitura: 3 min

Na metade dos anos 1960, Manoel Barenbein já tinha trabalhado com gente como Erasmo Carlos, o bossa-novista Walter Silva e a dupla sertaneja Tonico e Tinoco, entre outros. Mas ele tinha um sonho. "Era poder usar guitarra na música brasileira", diz o produtor, nome por trás dos principais álbuns tropicalistas, além de ter descoberto Chico Buarque e produzido, entre outros, Jair Rodrigues, Originais do Samba, Ronnie Von e Nara Leão.

"Eu tinha um ídolo, o Aloysio de Oliveira. Ouvia as gravações dele, de bossa nova, ficava maluco com o que ele fazia, e como ele fazia", diz Barenbein, que acaba de fazer 80 anos. "Ao mesmo tempo, tinha os Beatles do outro lado. O meu sonho era fazer o que Aloysio fazia, mas colocar a guitarra junto. Só que isso era pular um muro imenso."

A história de como Barenbein conheceu Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Os Mutantes e Jorge Ben Jor e participou de maneira definitiva da gênese da tropicália é destrinchada no livro e podcast "O Produtor da Tropicália", do jornalista Renato Vieira.

A obra, a ser lançada pelo selo Garota Books FM, está em campanha de financiamento coletivo e, se atingir a meta financeira, vai ser lançada ainda neste ano.

Barenbein conta que tudo mudou quando Gil e Caetano surgiram em sua vida. "Eles queriam as guitarras. A partir daquele minuto, eu assumi. E enfrentei mesmo. Havia um purismo que não era fácil. Eram os grandes nomes da MPB, que não aceitavam a guitarra elétrica. Tinha um apresentador de rádio que dizia, 'o Manoel tá querendo arrebentar a música brasileira'. Eu fiquei assustado porque ele falava com raiva."

Em seu livro, "Verdade Tropical", de 1997, Caetano diz que a participação de Barenbein, comprando suas ideias, foi decisiva para o movimento. O produtor lembra as vaias e a resistência da plateia quando Caetano cantou "É Proibido Proibir" no teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 1968, acompanhado pelos Mutantes.

"O público jogou o que parecia bolota de papel de jornal, mas tinha pedra dentro. Eu estava ajudando os Mutantes a tirar os instrumentos do palco. É coisa quase de atentado físico", diz.

Mas foi essencialmente dentro "das quatro paredes do estúdio", como diz Barenbein, que eles puseram o plano em prática. No fim dos anos 1960, as gravações eram feitas de maneira quase artesanal, em mesas com poucos canais e corte das fitas na mão, o que exigia uma criatividade do produtor e seus engenheiros de som para registrar em disco as inovações daqueles artistas.

A partir de 1967, diz Barenbein, o momento era de transformação na música brasileira. Ele tinha o costume de trabalhar com o maestro Rogério Duprat, e só o fato de juntar orquestra com guitarra distorcida já era inovador, como aconteceu em "Domingo no Parque".

Ele produziu os álbuns que levaram os nomes de Gil e Caetano lançados em 1969, entre a saída deles da prisão e a ida a Londres exilados. A dupla estava sem poder fazer shows, sem dinheiro, e sem poder aparecer em público em Salvador. Pela falta de estrutura dos estúdios baianos, o processo de gravação foi feito na base da gambiarra.

"Quando montamos os instrumentos e o baterista deu uma pancada no prato eu disse 'esquece, vamos pensar em outra coisa'", recorda. "Tem uma cena que não dá para esquecer. Gil, Caetano, Duprat e eu sentados no chão do estúdio, pensando, 'o que vamos fazer?'."

O "salvador da pátria", ele diz, foi Duprat, que teve a ideia de gravar Gil tocando os violões dos dois álbuns, além das vozes, com o metrônomo mantendo os dois no tempo correto, para só depois, no Rio de Janeiro, gravar o resto da banda. "Tem coisas malucas. Em 'Chuvas de Verão', do Caetano, o que seria uma vassourinha de bateria é uma folha de papel roçando no chão."

Em 1971, já com muitos amigos exilados, Barenbein foi trabalhar na Itália, depois voltou ao Brasil e continuou produzindo até meados dos anos 1980. Foi quando, já em outro momento da indústria fonográfica, entrou em rota de colisão com diretores de gravadora e acabou deixando a carreira de lado. Hoje, ele mora em Israel.