24 de dezembro de 2025
Geral

Medicina/USP: com poucos docentes, alunos assistem até a aulas gravadas

Tisa Moraes
| Tempo de leitura: 3 min

Mesmo com o fim das restrições impostas pela pandemia da Covid-19, alunos de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB/USP) ainda seguem assistindo a algumas aulas online e até mesmo previamente gravadas. A situação, segundo o Centro Acadêmico (CA) do curso, não tem qualquer relação com o coronavírus, mas sim com a insuficiência de professores para garantir o ensino presencial de determinadas disciplinas aos estudantes dos anos iniciais.

Por meio de nota, a diretora da FOB/USP, Marília Buzalaf, diz que a ferramenta é utilizada de forma excepcional. Ela confirmou, porém, que a instituição enfrenta dificuldades para contratar docentes médicos que queiram atuar com dedicação exclusiva, algo importante para "a solidez de um curso voltado ao ensino, pesquisa e extensão".

O problema decorre do salário inicial ofertado pela universidade, que não é atrativo para a classe médica. Ainda de acordo com Buzalaf, a Medicina em Bauru conta, hoje, com 17 professores efetivos contratados, sendo apenas dois em regime de dedicação integral à docência e à pesquisa, ambos não médicos.

Presidente do CA e aluno do segundo ano, Ian Peterson de Souza explica que docentes deixaram de ministrar algumas disciplinas para poderem atuar como preceptores, ou seja, médicos que têm a função de supervisionar as atividades realizadas pelos estudantes dentro de unidades de saúde da cidade. "Em 2022, a turma 1 chegou ao quinto ano do curso e começou o internato (vivência 100% prática da profissão). E estes alunos são prioridade. Com isso, as turmas do segundo, terceiro e quarto anos acabam prejudicadas".

SEM INTERAÇÃO

Souza revela que algumas aulas estão ocorrendo de forma online, por meio de professores 'emprestados' da USP de Ribeirão Preto, e que, na situação mais crítica, turmas aprendem determinadas disciplinas por videoaulas que foram gravadas durante a pandemia. "Neste último caso, não há interação entre alunos e professor. Já tentamos marcar aulas tira-dúvidas, mas é difícil conseguirmos. Na maioria das vezes, a gente esclarece dúvidas com professores de outras matérias, que não eram responsáveis por esta videoaula".

Em nota, a diretora da FOB reconhece que o uso de aulas gravadas isoladas, sem adequado espaço de discussão, não é ideal ao aprendizado, mas acrescenta que trata-se de uma exceção, e não uma "estratégia preconizada" pela instituição. Ressalta ainda que, como o curso é baseado em metodologias ativas, também são utilizadas ferramentas como a sala de aula invertida, em que alunos recebem previamente textos ou videoaulas, posteriormente discutidos com um professor. A estratégia é usada em atividades como discussões de casos, integração dos conhecimentos, esclarecimento de dúvidas, entre outras.

Para tentar fixar professores no curso, Buzalaf revela que uma proposta em estudo é a criação de uma Clínica Civil, modelo adotado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto desde sua fundação, em 1952. Por meio dela, explica a diretora, seria possível ofertar atendimento particular, o que serviria como atrativo aos docentes médicos.

Em Ribeirão, essa clínica é administrada por uma Organização Social de Saúde e conta com corpo clínico formado por docentes da faculdade, além de equipe de enfermagem treinada. "É referência em várias especialidades e na execução de procedimentos de alta complexidade, um modelo que pode funcionar bem em Bauru para a complementação de renda dos professores, permitindo a sua dedicação integral à universidade", completa Buzalaf.