22 de dezembro de 2024
Economia & Negócios

Natal terá 'panetone mignon'

FolhaPress
| Tempo de leitura: 4 min

As fornadas de panetone para o Natal de 2022 começam a sair este mês em direção aos supermercados de todo o País. O consumidor mais atento vai perceber que, no lugar das tradicionais versões com frutas ou gotas de chocolate de 500g, as prateleiras estão tomadas por panetones de 400g. Também há versões do produto em 300g e até panetone em pedaços. Por outro lado, segundo varejistas e fabricantes, os preços estão, em média, 20% maiores em relação aos do ano passado.

De acordo com os fabricantes, o aumento do custo das embalagens e dos insumos, especialmente farinha de trigo, manteiga, chocolate e uva passa, respondem pela alta do preço bem acima da inflação, que foi de 8,7% no acumulado dos últimos 12 meses até agosto, segundo o IPCA.

O movimento de encolher a versão tradicional do panetone busca justamente fazer o produto caber no apertado orçamento do consumidor. É um formato que começou a ser oferecido há cerca de cinco anos, mas que agora se tornou dominante no varejo.

"Dados da consultoria Kantar mostram que, em 2021, tivemos um aumento expressivo de 21% nas vendas em volume, com mais fabricantes diminuindo o tamanho das versões, de 500g para 400g", diz Cláudio Zanão, presidente da Associação Brasileira da Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi).

A oferta de opções menores e mais em conta deve se repetir este ano, segundo Zanão. "O bolso do brasileiro não é elástico. Ele ama panetone, mas muitas vezes não consegue pagar e precisa encontrar versões mais baratas", diz o executivo. Por conta do contexto econômico, porém, a Abimapi prevê alta de apenas 3% em volume no Natal deste ano.

Segundo o consultor da indústria alimentícia Reinaldo Bertagnon, marcas menores, regionais - como Romanato, do interior de São Paulo, Roma e Siena (do Paraná) - foram as primeiras a oferecer o panetone em versões menores, de 400g.

"Os grandes fabricantes perceberam que estavam perdendo mercado para estas marcas que vendiam o panetone mais barato e procuraram se ajustar", diz ele, que soma 30 anos de experiência na indústria de panificação. "Foi o mesmo movimento observado na indústria de chocolates, que passaram a oferecer tamanhos menores."

No Norte e Nordeste do País, por exemplo, onde o tíquete médio é menor, a marca Bauducco tem embalagens de 400g. Nas demais regiões do País, a fabricante trabalha suas outras marcas - Visconti e Tommy, de preços mais competitivos - com produtos de 400g. Com Bauducco, Visconti e Tommy, a Pandurata Alimentos é dona de cerca de dois terços do mercado nacional de panetones.

"Agora já vemos alguns fabricantes regionais partirem para o panetone de 300g, como a De Panes, que começa a chegar em São Paulo", diz Bertagnon, referindo-se à fabricante com sede em Santa Bárbara d' Oeste (SP). Na capital paulista, o produto é vendido, por exemplo, na rede Supermercados Chama, a R$ 6.

"Procuramos montar um mix variado de panetone tradicional de frutas, que vai de R$ 6 a R$ 20, considerando os tamanhos de 300g a 500g", diz Fábio Iwamoto, diretor da Supermercados Chama. A rede, com 15 lojas na Grande São Paulo, espera vender 20% mais no Natal deste ano.

Na Panco, a diminuição de 500g para 400g foi feita há cerca de cinco anos. "Nós fomos uma das primeiras fabricantes a fazer essa mudança", diz Paula Marques, gerente de marketing da Panco. "É uma maneira de reduzir custos e oferecermos preços mais competitivos", afirma a executiva.

A Wickbold desembarcou no mercado de panetones no ano passado, com uma produção terceirizada. Mas no final de 2021 comprou uma fabricante de bolos em Guarapuava (PR), a Delimyll, e fez os ajustes para começar a produção própria, com distribuição nacional.

PREÇO DE INSUMOS DISPARA

Os produtos da Wickbold devem chegar ao mercado com preço sugerido entre R$ 23 e R$ 29 (incluindo a linha zero açúcares) e, os da Seven Boys, a R$ 20. A empresa oferece ainda o mini panetone, licenciado da Turma da Mônica, a R$ 9.

O aumento de preços em relação ao ano passado gira em torno de 20%, segundo Wickbold. "É um reajuste necessário, para manter a qualidade do produto tendo em vista o aumento no custo dos insumos", diz o Pedro Wickbold, diretor geral da companhia. "Tivemos uma alta de quase 40% no preço da farinha de trigo."

João Diogo, diretor da Village, reitera a pressão no preço dos insumos e embalagens. "Só a uva passa aumentou mais de 50%, em dólar", afirma Diogo, que importa o produto da Argentina. "O preço do papel cartão cresceu 25%, o do papel ondulado, mais de 30%, o chocolate aumentou 25%, e a gordura e a manteiga 40%", diz o executivo.

Mesmo assim, a Village decidiu manter o reajuste de preços em 12% este ano. "Vamos adotar uma política mais agressiva de preços, para evitar um alto índice de devolução dos produtos, como foi no ano passado", afirma. Segundo ele, 12% do que vendeu em consignação para os varejistas foi devolvido. Um índice aceitável seria 3%. "Ninguém estava comprando nada, foi um final de ano com todo mundo sem dinheiro."