OPINIÃO

Bobos da Corte em Bauru!

Por Luiz Henrique Herrera | O autor é advogado e professor universitário
| Tempo de leitura: 3 min

Na sessão do dia 28 de abril de 2025, a Câmara Municipal de Bauru encenou mais um espetáculo de improviso — e de mau gosto. A manchete poderia ser: "Quando a pressa vira método e a ignorância se transforma em regra — vereadores aprovam, às cegas, leis que nem sabem de onde vieram, nem para onde levarão."

Como num teatro barroco em franca decadência, vereadores da base aliada da prefeita foram convocados às pressas para aprovar, sem leitura, sem estudo, sem debate — e sem vergonha — uma mensagem de emenda modificativa protocolada minutos antes da votação, carimbada com "urgência urgentíssima" e sem qualquer análise jurídica da Procuradoria do Município.

A aprovação foi legitimada apenas por pareceres de fachada, e o processo legislativo reduziu-se a uma mera formalidade. Um dos próprios vereadores, inclusive, alertou que o projeto apresentado não correspondia ao Plano de Governo apresentado durante a eleição do Executivo — evidenciando o descompasso entre o que foi prometido à população e o que agora se tentava aprovar de forma atropelada.

Para quem ainda guarda alguma expectativa quanto ao papel do Legislativo, o cenário seria de luto. Mas em Bauru, o luto já virou piada. A casa legislativa parece mais uma fábrica de salsichas: ninguém sabe o que entra, ninguém sabe o que sai, e muito menos quais impactos terá na vida do cidadão. O produto final? Um amontoado de normas cujo efeito só será descoberto no susto — ou no desastre.

A tragédia foi temperada com pitadas de farsa. Dois vereadores da própria base aliada, envergonhados pela exposição pública de sua servidão política, subiram à tribuna para um ato constrangido de "mea culpa". Declararam, de forma tão tímida quanto patética, que não mais se curvariam a tais práticas — embora, ironicamente, tivessem acabado de o fazer, aprovando mais um projeto "com a faca no pescoço".

A figura que melhor traduz essa cena patética é a do bobo da corte, descrita com precisão por Walter Benjamin. O bobo, misto de cínico e melancólico, alterna o riso pueril com o horror adulto diante do absurdo da existência. Entre a tristeza e a pilhéria, zomba do mundo e de si mesmo, encobrindo a melancolia com uma máscara cômica. No teatro barroco, o bobo da corte representava, ao mesmo tempo, o luto e o deboche: rindo, denunciava a perda de sentido e a impotência diante da realidade.

Em Bauru, o riso amargo dos vereadores — ou sua tentativa patética de justificar o injustificável — revela não força, mas resignação: uma consciência confusa, que oscila entre a aceitação do absurdo e o desejo impotente de resistir a ele.

Nossos vereadores se prestam à mesma função: revestem de normalidade uma prática política que já perdeu qualquer relação com a responsabilidade, com o discernimento e, sobretudo, com o interesse público.

A ironia é cruel: ao zombarem de suas próprias funções, zombam de toda a cidade. Cada projeto aprovado às cegas, cada emenda votada sem estudo, cada parecer de fachada engolido sem reflexão é um insulto não apenas à inteligência — é um atentado contra o futuro de Bauru. Na fusão entre a pilhéria e o luto, entre o riso e o desespero, revela-se a dimensão trágica do nosso processo legislativo: uma política esvaziada de sentido, na qual o gesto automático de aprovação se torna um ritual melancólico de submissão.

Ao final, resta a imagem de um Legislativo que abandonou qualquer pretensão de independência. A Câmara transformou-se em coadjuvante de luxo — ou talvez apenas em claque, aplaudindo de pé aquilo que sequer entende. Cada vereador que aperta o botão "sim" sem ler, sem pensar, sem debater, sacrifica um pedaço da democracia local no altar da conveniência política.

E ouso dizer: sequer entenderão este texto. (risos).

Comentários

Comentários