Sem pressa para conhecer o mundo, interagir com a natureza e ser desafiado pelos imprevistos que uma vida sem rotina proporciona, um casal de Bauru que viaja em um veleiro decidiu não estabelecer prazos para concluir a volta ao planeta. O projeto foi iniciado por Paula Lamberti e Fernando Mendes, 52 anos, em 2019 com a meta de concluir o trajeto em oito anos, porém, com a pandemia de Covid-19, os planos mudaram.
Agora, os cruzeiristas - como são chamados os velejadores que não participam de competições - projetam comemorar o término da rota junto ou próximo da época em que celebrarão a chegada de seus 60 anos. "Acho que estaremos em fase de conclusão e bem fisicamente. Vemos muitas pessoas com certa idade que começaram como nós e ainda são cruzeiristas. A vida a bordo nos dá condições para continuar, porque nos exercitamos sem perceber. É uma vida bastante ativa", pondera Paula.
Donos do Bar do Português, com franquias em diversos municípios do Estado, os bauruenses - que estão passando uma temporada na cidade natal - decidiram afastar-se da rotina empreendedora e abraçar a vida em alto mar. Em 2005, compraram o primeiro barco e, já com um veleiro, fizeram a primeira viagem em 2011, que durou um ano e meio. De lá para cá, conheceram cerca de 40 países junto com o lhasa apso Choppinho.
A bordo do veleiro Strega, Paula e Fernando iniciaram o projeto da volta ao mundo em 2019, mas, em 2020, a pandemia se instalou, atrasando os planos do casal em um ano. Na ocasião, eles estavam no norte do Caribe sob risco de serem atingidos por furacões e conseguiram se estabelecer em Granada, ao Sul, mas não sem sustos.
"Foi uma tensão, porque o furacão Gonzalo estava na rota. Conseguimos alugar uma poita, espécie de âncora fixa onde amarramos o barco, tiramos vela, tudo que pudemos, prontos para abandonar o barco e nos abrigarmos no vestiário da piscina de um hotel próximo, se precisasse. Mas, no final, o furacão perdeu intensidade e chegou nem como tempestade. No mesmo lugar em que estávamos, um furacão passou agora em 2024 e destruiu tudo", conta Paula.
Em abril de 2021, os bauruenses retomaram a rota de viagens e, da Ilha de São Martinho, atravessaram o Oceano Atlântico por 19 dias, o maior período em que permaneceram embarcados, para iniciar o percurso pela Europa. Na chegada ao arquipélago dos Açores, em Portugal, enfrentaram a maior dificuldade de todos estes anos em alto mar: um ataque de orcas que deixou o comando do leme do veleiro inoperante e o casal à deriva por mais de seis horas, em uma região de alto fluxo de navios.
Passado o sufoco, puderam conhecer sete das nove ilhas dos Açores em quatro meses. "A gente não estabelece mais prazos para concluir a volta ao mundo porque faz, por exemplo, projeção de ficar um ano no Mediterrâneo e já estamos há três. E nem saímos da Grécia. A gente não tem pressa porque tem a possibilidade de deixar o barco e voltar a Bauru, onde ficamos por cerca de cinco meses para ver família e amigos", comenta ela.
Além disso, com a renda obtida com o Bar do Português, conseguem manter a vida em comunhão com o mar e em contato com culturas, paisagens e sabores com maior tranquilidade. Fernando assegura, contudo, que os custos não são tão altos como se possa imaginar.
"A gente utiliza muito o vento e pouco combustível para deslocamento, não tem carro, não tem espaço para acumular coisas, como roupas, porque nossa área interna tem cerca 30 metros quadrados. Apesar de fazermos turismo o tempo todo, cozinhamos mais a bordo nossas refeições. Nossa vida está dentro do barco, então, o custo reduz. Acredito que seja menor do que o de uma casa em terra", pontua.
Em 2024, o casal visitou cidades da Itália, Croácia, Montenegro, Albânia e Grécia, de onde retomarão o projeto em março de 2025, após a temporada em Bauru. A partir disso, passarão pela Itália, França, Espanha e Portugal, de onde farão a travessia até o Caribe para passar pelo Canal do Panamá sentido costa Oeste da América do Norte até chegar à Ásia e África.
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