Ao falar de George Vidal é necessário ouvir muitos pontos de vista. Eu, como companheira de 10 anos, tenho um recorte da trajetória que humildemente posso tentar colocar nestas linhas. A princípio pensamos no George como maestro, grande músico, arranjador e compositor.
Como maestro teve o aprofundamento de seus estudos com o maestro alemão Ernst Mahle, onde desfrutou além de boa amizade, um conteúdo significativamente denso em termos musicais. Na década de 90 montou uma orquestra independente chamada Orquestra Bauru, fizeram várias apresentações pelo interior de São Paulo chegando a tocar no Palácio dos Bandeirantes para o Governador Fleury, na época.
Como compositor, seus trabalhos englobam os mais diversos estilos, destacando sua Ave Maria que foi tocada em universidades nos Estados Unidos e também sua peça para coral intitulada "Auto Retrato", arranjada pelo maestro Samuel Kehr e cantada pelos corais de todos os campi da Unesp, chegando a somar 500 vozes.
Como artista e intérprete, era músico e arranjador do grupo Porto, que fez muito sucesso em Bauru e região, incluindo os festivais da década de 80, chegando a abrir show do Hermeto Pascoal em um deles. Também tiveram participação em programas da TV Cultura e TV Tupi.
Até os dias de hoje me deparo com pessoas perguntado do grupo Porto, como se a veia desta geração pulsasse com toda a força ainda hoje na memória deste grupo. Eu poderia ficar muito tempo aqui falando de seu talento e competência, mas há muito mais para se falar dessa pessoa tão admirada, estimada e amada por todos.
Além da música, teve o dom especial de lidar com cada um de forma única. Faça o teste e pergunte sobre o George Vidal para alguém que o conhece, muito ou pouco, assim saberá histórias e passagens onde mostram o quanto ele se importava com todas as pessoas à sua volta de maneira muito especial, não media esforços em ajudar e trazer sempre uma palavra carinhosa de apoio. Dessa rica interpessoalidade que lhe é nata, vem o dom de professor e, depois, o mestre. Sim, muitos o chamam de mestre, pois dizem que suas aulas e o próprio convívio vão sempre muito além do trivial, muito além do programado e do esperado. Seus assuntos continham todo o ensinamento clássico, filosófico, especulativo, científico e principalmente do ser humano, a sociologia e antropologia eram assuntos recorrentes em sala de aula, isso tudo sem deixar o viés da música!
Eu posso dar o testemunho de tantas pessoas que se transformaram apenas por estarem presentes nessas aulas. Como professor, lecionou 13 anos na universidade do Sagrado Coração.
Em 1985, ao lado de sua primeira esposa, a Celinha, fundou a Clave de Sol, uma escola livre de música que até hoje tem como propósito libertar a arte mais profunda que reside em cada um, algo que ele fez incontáveis vezes com tanta maestria. A cada aluno um método novo, cheio de ideias e, principalmente, muito carinho.
Após 2013, eu entrei em sua vida e ajudei-o a levar este sonho a diante, pois o admirava a cada dia mais como músico e pedagogo. Sim, sua criatividade era marca registrada e se aplicava em todas as áreas de sua vida, consolidamos sua metodologia e a cada dia vejo mais pessoas a se transformar na música e na vida.
Enfim, pude observá-lo como pai sempre cuidadoso com o amor de uma dimensão difícil de definir, pois seu carinho com os filhos era o que tinha de mais sagrado em sua vida, e assim será sempre. Na família, era o irmão caçula, meigo e suave e aquele tio bondoso. Todos simplesmente são apaixonados por ele, pois onde ele estava a alegria e a harmonia eram certas!
Vale ressaltar que seu pai era o Maestro Juarez Vidal, compositor e também professor. Com uma metodologia também original, sua trajetória é uma história à parte. Sua mãe Antônia, uma fortaleza, tinha o dom especial para recitar poesias. Seus irmãos o amavam muito.
Enfim, muito além do Músico espetacular, do Maestro genial, do Pedagogo original falo desse ser humano que foi um farol iluminando muitas pessoas que, assim como eu, nessa jornada a que chamamos vida. Seus amigos, músicos como Amilton e Adilson Godoy, Arismar do Espirito Santo, Ulysses Rocha o têm como o George, grande músico e amigo do coração. Sem contar todos os músicos bauruenses que o têm em um lugar muito especial. Sim, deixará uma lacuna enorme, pois era único, mas com certeza veremos mais adiante os frutos de tudo o que em toda a sua vida semeou!
Deixo-os com minha mais profunda gratidão e na certeza de colhermos juntos esse futuro lindo que ele semeou.