BANCO CENTRAL

'Se Galípolo disser que tem que aumentar juros, ótimo', diz Lula

Por Jocélio Oliveira e José Matheus Santos | da Folhapress
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução/Lula Marques/ Agência Brasil
A indicação do economista Gabriel Galípolo ainda precisará ser votada pelo Senado Federal.
A indicação do economista Gabriel Galípolo ainda precisará ser votada pelo Senado Federal.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (30) que não haverá problema se um dia Gabriel Galípolo, indicado por ele para presidir o Banco Central, considerar que há necessidade de aumento na Selic, a taxa básica de juros.

Leia também: Veja quem é Gabriel Galípolo, indicado de Lula para presidir BC

"O problema é que, no imaginário do mercado, o presidente do Banco Central tem que ser um representante do sistema financeiro, e eu não acho que tenha que ser. Tem que ser uma pessoa que goste desse país, que pense na soberania nacional e que toma atitudes corretas", disse Lula, em entrevista à Rádio Mais PB, em João Pessoa (PB).

"Se um dia Galípolo chegar para mim e disser que tem que aumentar a taxa de juros, ótimo."

A indicação do economista Gabriel Galípolo ainda precisará ser votada pelo Senado Federal. Se aprovado para um mandato de quatro anos, o atual diretor de Política Monetária do BC vai suceder Roberto Campos Neto, à frente da instituição desde 2019 por indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e cujo mandato termina em 31 de dezembro.

"Ele é muito competente e vai trabalhar com a autonomia que trabalhou [Henrique] Meirelles [presidente do Banco Central entre 2003 e 2010], até porque agora ele tem mandato", disse Lula.

"O papel do BC não é só medir juros, tem que ter meta de crescimento também."

Lula renovou as críticas a Campos Neto. "O atual presidente do BC age como um político, não age como um economista. Ele se oferece em reuniões políticas, coisa que não deveria acontecer. A taxa de juros no Brasil hoje não tem explicação", disse.

O presidente também se colocou contra a atual lei que dá autonomia com mandato de quatro anos ao presidente do Banco Central.

"Se eu tivesse voto, era contra. Mas se está aí, vai ficar. Eu sinceramente acho que o presidente da República tem o direito de indicar e tirar se não gostar. Eu coloco Galípolo e se ele fizer alguma coisa errada, o que eu faço?", disse Lula.

"Não sei quem criou a ideia de que o cidadão do BC é intocável, é um ser superior a tudo, porque todo mundo recebe críticas. O presidente do BC que fica mais em Miami do que no Brasil não quer ser criticado?"

A proposta de autonomia do BC foi aprovada pelo Senado em novembro de 2020 e pela Câmara em fevereiro de 2021. O relator do projeto na Câmara foi Silvio Costa Filho (Republicanos), atual ministro dos Portos e Aeroportos do governo Lula.

Em discurso na tarde desta sexta em João Pessoa, Lula falou também da proposta do governo de ampliar a distribuição de botijões de gás para 20 milhões de pessoas de baixa renda até 2026.

"Ontem [quinta-feira], me disseram que o mercado está nervoso, o dólar aumentou. O programa vai custar R$ 13 bilhões no final de 2026", disse.

"É engraçado porque toda vez que a gente faz alguma coisa para os pobres, o mercado fica nervoso. Mas quando foi aprovada a desoneração que custa aos cofres brasileiros R$ 19 bilhões para os empresários mais ricos eu não vi o mercado ficar nervoso."

A desoneração da folha das empresas permite o pagamento de alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta, em vez de 20% sobre a folha de salários para a Previdência. As alíquotas variam a depender de cada um dos 17 setores beneficiados.

Um dos grupos beneficiados com a desoneração é o de comunicação, no qual se insere o Grupo Folha, empresa que edita a Folha de S.Paulo. Também são contemplados os segmentos de calçados, call center, confecção e vestuário, construção civil, entre outros.

Lula participou nesta sexta-feira (30) de dois eventos na Paraíba. Pela manhã, participou da inauguração dos trechos I e II do Canal Acauã-Araçagi, a maior obra hídrica do estado da Paraíba, em Riachão do Poço (PB), a 44 quilômetros de João Pessoa.

No início da tarde, participou de anúncio de investimentos do governo federal para o estado, no Centro de Convenções de João Pessoa. Os recursos irão contemplar as áreas de recursos hídricos, habitação e educação.

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